A recente conquista cientifica de cultivar sementes em solo lunar representa um marco histórico na exploração espacial e na busca por soluções sustentáveis para a alimentação em outros planetas. Mas afinal, por que começar essa exploração pela agricultura? O agro não é o vilão da humanidade?
A lua e a agricultura tem uma ligação antiga. Por séculos, agricultores observaram as fases da lua e suas influências no crescimento das plantas, nas colheitas e até mesmo no comportamento dos animais. O calendário lunar guiava os agricultores na melhor época para plantar, colher, podar e até mesmo realizar certos rituais agrícolas. Acredita-se que as diferentes fases da lua afetam o desenvolvimento das plantas de várias maneiras, desde a germinação das sementes até o crescimento das culturas. Hoje, é justamente na lua que essa mesma agricultura pode ganhar força.
A conquista da agricultura
Este “É um pequeno passo para o homem e um grande salto para a humanidade.“, frase histórica dita pelo astronauta Neil Armstrong quando pisou na Lua pela primeira vez, em 20 de julho de 1969, nos faz lembrar a necessidade latente do ser humano em explorar o desconhecido e criar caminhos concretos para continuarmos avançando. Nesse sentido, podemos avaliar que a agricultura é mais do que uma simples prática de cultivar plantas para alimentação “um pequeno passo“. É um pilar fundamental da civilização humana, uma jornada que começou há milênios e moldou o curso da história. Ao que se sabe, depois de coletar grãos silvestres por pelo menos 105 mil anos, os primeiros agricultores começaram a plantá-los há cerca de 12 mil anos. Desde os primeiros dias da humanidade até os avanços modernos, de fato, a agricultura tem sido uma força impulsionadora do progresso e da transformação, ou seja, “um grande salto para a humanidade“. Isso é inegável!
Pense por um momento: o que seria da humanidade sem a agricultura? Como teríamos sobrevivido e prosperado ao longo dos séculos sem as plantas cultivadas e os animais domesticados? A agricultura não é apenas uma atividade; é um testemunho da resiliência e da engenhosidade humanas, uma expressão de nossa capacidade de adaptação e inovação.
Ao longo da história, a agricultura tem sido a âncora de comunidades e civilizações, fornecendo não apenas alimentos, mas também fibras, combustíveis e matérias-primas essenciais. Ela alimentou corpos, inspirou culturas e impulsionou economias. Mais de um terço da força de trabalho mundial está envolvido na agricultura, um testemunho de sua importância duradoura. O interessante de tudo isso é que, a história da agricultura é uma história de descoberta e aprendizado, de tentativa e erro. Desde os primeiros agricultores que plantaram grãos há milhares de anos até os avanços modernos na produção de alimentos, cada passo foi marcado por inovação e determinação.
As primeiras técnicas agrícolas abriram caminho para a domesticação de animais e o cultivo de uma variedade de culturas. Olhe ao seu redor: a agricultura está em toda parte, desde os campos ondulantes até os pomares exuberantes. É uma expressão tangível do vínculo entre o homem e a natureza, uma aliança que sustenta a vida na Terra. E agora, enquanto olhamos para o futuro, surge uma nova fronteira: a agricultura lunar.
Agricultura lunar e os próximos passos
Depois de muitas pesquisas e um avanços significativos, pela primeira vez, cientistas conseguiram fazer as sementes germinam em solo lunar, desafiando as fronteiras do conhecimento e da possibilidade. O que isso significa para o futuro da humanidade? Como a agricultura lunar pode abrir novos horizontes e expandir nossos limites? Essas são perguntas que ecoam na vastidão do espaço, provocando reflexão e contemplação.
Cultivar plantas na Lua é fundamental para missões tripuladas de longa duração, mas o regolito lunar (que consiste de rocha altamente fragmentada, formada pelo impacto repetido de meteoroides sobre a superfície da Lua) é um desafio devido à falta de matéria orgânica, estrutura inadequada e presença de elementos tóxicos. Um novo estudo da Texas A&M University deu um grande passo para contornar esses obstáculos, obtendo sucesso na produção de grão-de-bico a partir de sementes até a maturidade em um ambiente simulado de regolito lunar usando técnicas regenerativas.
Os pesquisadores conseguiram isso inoculando as sementes e o meio de cultivo com fungos micorrízicos arbusculares (AMF) e adicionando vermicomposto, um biofertilizante rico em nutrientes e micro-organismos. As plantas inoculadas com AMF em misturas de 25% a 75% de simulante lunar e vermicomposto sobreviveram e produziram sementes com sucesso. Isso demonstra como métodos baseados na Terra de melhorar a estrutura do solo e introduzir microbiomas podem transformar o regolito lunar em um meio viável para o cultivo. É um avanço promissor para missões de longo prazo como uma base lunar permanente, permitindo o cultivo sustentável de alimentos no local a partir de recursos lunares.
A agricultura lunar não é apenas uma conquista científica; é um símbolo de esperança e potencial. Representa a busca incessante da humanidade pelo desconhecido, a exploração de novos mundos e a criação de um futuro sustentável. À medida que olhamos para as estrelas, somos lembrados de nossa responsabilidade com o planeta que chamamos de lar, e da necessidade de cuidar e preservar seus recursos.
Então, enquanto contemplamos a agricultura lunar, devemos nos perguntar: qual é o próximo passo? Como podemos usar esse conhecimento para melhorar e valorizar a agricultura aqui na Terra? À medida que exploramos as fronteiras finais, devemos lembrar que nosso destino está entrelaçado com o destino da Terra, e que é nosso dever proteger e nutrir nosso lar, hoje e para as gerações futuras. Viva a agricultura terrestre, viva o produtor rural que dedica sua vida para cuidar das nossas.
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®
Link da pesquisa científica que inspirou esse artigo: https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2024.01.18.576311v1.full.pdf
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