Constatação foi feita em palestra durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido nesta segunda (6), em São Paulo, pela ABAG e B3.
O agronegócio brasileiro tem dois desafios nos próximos anos. A curto prazo será ampliar e manter a produtividade. A médio prazo, o setor vai precisar dar um salto em termos de internacionalização, exportando não apenas alimentos, mas também tecnologias e serviços da Embrapa e de outras empresas privadas, financiando, dessa maneira, novos avanços e garantindo uma presença maior em mercados, com capital e necessidade de tecnologia e know how. Essa foi a avaliação e sugestão do Embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral, durante sua apresentação sobre Geopolítica e Mercado Internacional: Impactos para o Brasil, realizada nesta segunda-feira (6/8), no Congresso Brasileiro do Agronegócio, uma iniciativa da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e B3 – Brasil Bolsa Balcão.
“Ao mesmo tempo em que demanda por alimentos vai crescer, principalmente, em países do continente africano e do sudeste da Ásia, eles também estarão preocupados em aumentar sua produção e produtividade, buscando ter mais acesso às tecnologias e visando a segurança alimentar. “Assim, a pergunta é: vamos assistir como espectadores esse processo ou devemos participar como detentores de tecnologia, know how, equipamentos? Certamente, outros países seguirão por esse caminho, trabalhando para estar nesses mercados com maior potencial”, destacou Amaral.
Para alcançar essas metas no futuro, o embaixador ressaltou que o Brasil vai precisar enfrentar os desafios internos, como diminuir o custo de produção e melhorar urgentemente a infraestrutura e logística. “Como um país pode se tornar um grande exportador sem infraestrutura adequada?”, questionou. “Essa deve ser a prioridade do novo governo: viabilizar uma infraestrutura adequada para o transporte de toda produção do agronegócio”, acrescentou.
No entanto, Amaral lembrou que o país possui grandes vantagens competitivas perante a outros países, como por exemplo, a China, ao ter recursos naturais abundantes, área para expandir a produção, tecnologia e inovação para aumentar a produtividade. “Ninguém tem tanta condição como nós, por isso somos candidatos naturais para atender essa demanda de alimentos no mundo”.
Guerra Comercial
Em sua palestra no Congresso Brasileiro do Agronegócio, Amaral ainda comentou sobre a Guerra Comercial, iniciada pelo governo dos Estados Unidos. “Não somos alvo, mas sofremos as consequências de forma indireta”, disse. “Se os chineses imporem sanções, por exemplo, na exportação da soja americana, eles (chineses) vão precisar de outros mercados para suprimir a demanda e o Brasil pode ser beneficiado, juntamente com a Argentina, assim como se a China fechar um acordo com os Estados Unidos, pode ser que percamos um mercado importante”, analisou.
A questão americana, aliás, também pode ser uma oportunidade para o Brasil porque, segundo Amaral, o país havia perdido o trem das relações comerciais internacionais em governos anteriores. “Em decorrência da política adotada pelo governo Trump, o trem parou e nosso país, agora, tem a oportunidade de embarcar neste trem, por meio do Itamaraty, que reiniciou a negociação por acordos com diversos blocos e países”, ponderou.
Nesse sentido, o Ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, comentou durante a abertura do evento que a agenda de negociações do Itamaraty engloba acordos com o Japão, Canada, Coreia do Sul e a Aliança do Pacífico, além de estar revitalizando os acordos comerciais do Mercosul.
Nunes ainda destacou dois pontos relacionados ao agronegócio: a luta contra as barreiras sanitárias e fitossanitárias e que em termos de sustentabilidade o Brasil é uma referência e não precisa receber lição de nenhum país. “Há ainda muita coisa a ser feita, mas nossa produção agrícola preserva mais de 60% da cobertura vegetal, original, inclusive”, disse.
Em sua apresentação na abertura do evento, o presidente da ABAG, Luiz Carlos Corrêa Carvalho fez questão de salientar a importância de o país não se isolar num cenário mundial marcado por um aumento de medidas protecionistas. “Nesse sentido, para o Brasil e para o Mercosul, o fortalecimento da OMC – Organização Mundial do Comércio é fundamental. Para se ter uma ideia, segundo a própria OMC, uma guerra comercial poderia fazer recuar o PIB global em mais de dois pontos percentuais”, afirmou.
Carvalho destacou também os vários pontos fortes que o agronegócio brasileiro tem para consolidar sua posição de líder mundial na produção de alimentos, fibras e energia. “Nossa grande efetividade para assegurar ganhos constantes de produtividade é o agro brasileiro estar baseado em ciência, tecnologia e competência do produtor agrícola. Foi isso que fez com que o Brasil, em 40 anos, passasse de país importador de alimentos para um dos maiores exportadores do mundo e o primeiro gigante mundial na agricultura tropical. As expectativas para os próximos dez anos, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, é muito relevante para o Cone Sul”, concluiu Carvalho.
Em sua saudação inicial, o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, afirmou que, para o país atender as expectativas mundiais em termos de produção e exportação, será necessário diversificar a busca por recursos. “Nesse aspecto, a área de mercado de capitais brasileiro tem tido grande evolução nos últimos anos. O melhor exemplo disso foi a consolidação dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), afinal de contas, no ano passado eles representaram uma movimentação de R$ 30 bilhões, um volume que foi o dobro do ano anterior”, informou.
Também participaram a abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio, o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, a superintendente Federal do Ministério da Agricultura em São Paulo, Andrea Moura, do secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, Francisco Jardim, o deputado federal Arnaldo Jardim, do presidente da APEX, Roberto Jaguaribe, o presidente da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa, o representante permanente do Brasil na OMC, Alexandre Parola, o presidente da CNA, João Martins da Silva Junior, o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, o coordenador dos países produtores do Cone Sul, Gustavo Idigoras, e o presidente em exercício da Embrapa, Celso Luiz Moretti.