A oferta e a demanda pelo crédito ficaram do mesmo lado da balança em 2016 e o resultado foi a queda nos financiamentos. As contratações de recursos financeiros junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) por investidores de Mato Grosso acumularam retração de 16,24% até outubro, com a captação de R$ 3,376 bilhões.
O valor foi repassado por meio 17,245 mil operações, que diminuíram em 36,73% em comparação com o ano anterior. Em 2015, de janeiro a outubro, o banco público assegurou R$ 4,031 bilhões aos projetos de investimento no Estado. Para todas as Unidades Federativas (UFs), o BNDES desembolsou menos recursos financeiros em 2016 em relação ao ano anterior.
Com a economia retraída e o risco elevado do crédito, os bancos ficaram e estão mais seletivos, observa o economista Renato Gorski. “Valores menores que R$ 20 milhões são contratados através de um banco repassador do BNDES. Dessa forma, o crivo de análise fica mais criterioso em tempos de vacas magras”.
Dos 4 principais segmentos atendidos com o crédito do banco de fomento em Mato Grosso, apenas um elevou a captação. Para a infraestrutura foram repassados R$ 1,685 bilhão nos 10 meses de 2016. Além de ser o maior aporte registrado entre as categorias contempladas, o segmento garantiu 14,52% a mais de recursos que em 2015 (R$ 1,472 bilhão). Menos pulverizado este ano, o dinheiro foi repassado por meio de 1,386 mil operações, ante 1,472 mil em 2015. Nessa área, dois subsetores se destacam pelo acesso ao crédito oficial: energia elétrica (R$ 1,015 bilhão) e construção (R$ 302,6 bilhões).
Comparado com 2015, houve incremento de 58,22% nos repasses para o segmento de energia e de 35,22% para a construção. Como a energia elétrica é um insumo básico para a economia, os investimentos em novas fontes geradoras são constantes, acrescenta Gorski. Somente em outubro de 2016, as empresas mato-grossenses tomaram R$ 613 milhões emprestados junto ao BNDES, acréscimo de 6,60% sobre os R$ 575 milhões contratados no mesmo intervalo de 2015.
Segmento que historicamente mais contratava os recursos do BNDES em Mato Grosso, a agropecuária captou R$ 1,340 bilhão em 2016, abaixo dos R$ 1,689 bilhão acessados no ano anterior, uma redução de 20,63%. Os setores do Comércio e Serviços, juntos, tomaram emprestados R$ 241,5 milhões, numa forte retração (-66,89%) em comparação com 2015, quando demandaram R$ 729,4 milhões. Para o setor industrial foi destinado a menor parcela do crédito em 2016, que somou R$ 108,1 milhões. A quantia está 23,43% abaixo dos R$ 140,4 milhões aprovados pela instituição financeira ao setor em 2015. A queda na captação é resultado da contenção nos investimentos.
Entre os 8 subsetores industriais atendidos pelo BNDES, apenas as empresas do ramo de alimentos e bebidas buscaram mais recursos, num total de R$ 48 milhões em 2016, acréscimo de 52,54% sobre 2015 (R$ 31,5 milhões). Na atividade industrial, a maior retração na demanda pelo crédito foi notada no segmento extrativista, que emprestou R$ 1,6 milhão em 2016, ante R$ 13 milhões em 2015, num recuo de 87,30%.
Sobre as condições do crédito em 2017 e a demanda, o economista Renato Gorski considera que as empresas necessitam de dinheiro tanto para investimento quanto para capital de giro, e que a tendência é de melhoria nas condições econômicas neste novo ano. “Depois da transição do governo do PT (Dilma) para PMDB (Temer), o governo fez um diagnóstico e descobriu que o rombo que estava camuflado, inclusive o deficit primário, cresceu. Pelo lado do governo, há tentativas de impulsionar a economia e realizar reformas de longo prazo (previdenciária, trabalhista e contenção de gastos – já aprovada). O mercado também tenta reagir, mas enfrenta a inércia do comportamento econômico retraído e recessivo”.
Em 2016, as microempresas captaram o maior volume de recursos financeiros do BNDES ao contratarem, até outubro, R$ 11,142 bilhões em todo o país, valor que confrontado com aqueles registrados no acumulado dos 10 meses de 2015 está 30,41% abaixo. Os recursos foram pulverizados com 361,492 mil contratos este ano, ante 589,233 mil operações no ano passado. A 2ª maior parcela de recursos foi destinada às pequenas empresas, que levaram R$ 5,588 bilhões do crédito oficial, mas 34,17% a menos que em 2015 (R$ 8,488 bilhões).
As médias empresas abocanharam a menor parcela dos recursos, com total de 5,189 bilhões em 2016, ante R$ 6,916 bilhões no ano anterior, numa diferença de 30,24%. No total, foram repassados R$ 21,916 bilhões por meio de 489,683 mil operações de crédito em 2016 com as micro, pequenas e médias empresas. Em comparação com 2015, há recuos de 30,24% no valor e de 37,16% no número de operações realizadas. No último ano, o BNDES liberou R$ 31,417 bilhões por meio de 779,217 mil operações.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu, no dia 21 de dezembro, manter os juros de financiamentos e empréstimos do BNDES para as empresas em 7,5% ao ano. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que permanece no maior nível em quase 10 anos, foi mantida pelo 5º trimestre consecutivo. Com isso, o Tesouro Nacional gastará menos para cobrir a diferença entre a taxa subsidiada e os juros de mercado, num momento de queda da taxa Selic.
A taxa, criada em 1994, é definida como custo básico dos financiamentos ao setor produtivo. Em janeiro de 2013, a taxa foi reduzida para o 5% ao ano – menor nível da história -para estimular a economia. Foi elevada para 5,5% ao ano em janeiro de 2015. Em seguida, para 6% ao ano em abril, novamente reajustada para 6,5% em julho, depois para 7% em outubro e para 7,5% em janeiro de 2016.
Fonte: A Gazeta