Em Lages, na serra catarinense, um exemplo de melhoria de solo que suporta 3 cabeças por hectare, dez vezes mais do que há 20 anos, capacidade de alta lotação com adubação correta.
A necessidade de respeitar as características físico-químicas dos solos rasos da serra catarinense, o ciclo vegetativo das forrageiras e as demandas nutricionais dos bovinos fez com que o agrônomo Flávio Krebs Ramos, proprietário da Fazenda Rodeio, em Lages, 200 km a sudoeste da capital, Florianópolis, desenvolvesse um sistema para melhoramento de campos nativos, que já começa, inclusive, a ganhar adeptos. O produtor não usa arado no solo e dedica-se a corrigir apenas sua camada mais superficial (5cm). O calcário e o superfosfato triplo são distribuídos com adubadeira do tipo Vicon, em frações pequenas, porém regulares (de cinco em cinco anos).
Assim, ele economiza insumos, evita erosão e, gradativamente, consegue introduzir espécies de inverno (azevém consorciado com trevos) no campo nativo, elevando sua capacidade de suporte. A propriedade, de 658 hectares, sustenta um rebanho de 1.120 cabeças e dedica-se à produção principalmente de tourinhos PO, por meio de transferência de embriões (TE).
Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) por 22 anos, e um dos responsáveis pela criação do curso de Agronomia no câmpus de Lages, Ramos desenvolveu essa metodologia porque considerava as recomendações convencionais de correção e adubação de solo exageradas para a região. Parte da serra catarinense é formada por cambissolos, compostos por uma camada argilosa, densa e rasa, assentada sobre espesso leito pedregoso, características que dificultam a percolação do cálcio e do fósforo. Devido à densidade da argila, esses elementos químicos se movimentam apenas 1 a 2 cm por ano. “Se eu jogasse muito corretivo na área, ele seria carregado pela chuva e desperdiçado”, diz o produtor. A nova estratégia deu certo. Hoje, pode-se dizer que Ramos “tira carne de pedra”, registrando lotação anual de 3 unidades animais por hectare (UA/ha), em 150 ha de campos nativos já melhorados. Há 20 anos, sua fazenda sustentava apenas 0,3 UA/ha, sob pastejo extensivo, sistema ainda predominante na região.
Caminho longo
Os resultados obtidos por Ramos exigiram muito trabalho, observação, persistência e conhecimento tanto das forrageiras quanto dos animais, além de apoio da família, principalmente de sua esposa, Nara Ramos. “Quem possui terra tem obrigação de fazê-la produzir”, sentencia Nara, convicta da importância do esforço feito nos últimos anos. O projeto de recuperação da Fazenda Rodeio começou em 1996, quando Flávio Krebs Ramos se aposentou e decidiu cuidar pessoalmente da propriedade, que, na época, tinha baixa produtividade. Para melhorar a lotação e os ganhos por animal, era necessário introduzir forrageiras de inverno na área. Tarefa difícil, por causa das condições do solo. “Poucos produtores conseguem fazer isso na região. Os trevos, por exemplo, até nascem, mas logo desaparecem”, diz o agrônomo. A primeira análise laboratorial feita por Ramos indicou pH e fósforo em níveis muito baixos, além de acidez nociva, por causa do alto teor de alumínio. As quantidades de potássio e matéria orgânica eram razoáveis para a formação de pastagem.
“Meu foco, portanto, deveria ser a correção do pH, do fósforo e do alumínio”, afirma. Se fosse seguir recomendações convencionais, Ramos teria de aplicar 12 t/ha de calcário no campo nativo, de uma única vez, incorporando o corretivo com grade para corrigir uma camada de 20 cm do solo, mas ele decidiu fazer diferente. Distribuiu, inicialmen te, 3 toneladas/ha de calcário e repetiu essa operação, na mesma quantidade, somente cinco anos depois, dando tempo para que o corretivo penetrasse no solo argiloso.
O fósforo foi aplicado no ano seguinte à correção, junto com as forrageiras de inverno. Pelos cálculos do agrônomo, seria necessário jogar na área 120 quilos/ha de superfosfato triplo para corrigir 20 cm de solo, mas ele preferiu fracionar essa quantidade em quatro parcelas, já que seu foco estava nos 5 cm de solo iniciais. Na primeira aplicação, foram distribuídos 30 kg/ha do adubo para correção e mais 40 kg para compensar a extração de fósforo pelos animais durante o pastejo, nos cinco anos seguintes, ao fim dos quais a operação seria repetida. “Essa estratégia me permitiu elevar a produtividade, com o menor custo possível”, diz Ramos, informando que gasta apenas R$ 134/ha/ano com corretivos e adubação.
Fonte: DBO 426