Mesmo com milho e outros insumos caros, analistas consideram que ainda há oportunidade para ganho no confinamento.
Após várias apresentações com abordagens técnicas e econômicas sobre o confinamento, o encontro, realizado nos dias 9 e 10 de março, em Ribeirão Preto, região norte de São Paulo, foi encerrado com uma mesa-redonda que debateu as perspectivas do confinamento este ano. O evento foi acompanhado pelo editor executivo de DBO Moacir José.
No debate, a conclusão de que haverá um estreitamento de margem para o confinador este ano, mas nem por isso se deverá “desacelerar bruscamente”; que há maneiras de se trabalhar, principalmente no quesito alimentação, de forma a se maximizar o desempenho dos animais. Fazer seguro de preço também se mostra imperativo, num ano em que o custo do boi magro continuará alto e o preço do milho não deverá baixar a níveis anteriores aos observados em 2015.
Para o debate, mediado pelo jornalista Jorge Zaidan, diretor de agronegócio do Canal do Boi, com sede em Campo Grande, MS, foram convidados Maurício Palma Nogueira, coordenador de pecuária da Agroconsult, de Florianópolis, SC; Fabiano Tito Rosa, diretor de compra de gado do Minerva Foods, frigorífico com sede em Barretos, SP; Lygia Pimentel, consultora da Agrifatto – Análise e Decisão, de Bebedouro,SP; Rodrigo Albuquerque e Ricardo Heise, pecuaristas em Goiás e sócios na consultoria NF2R Análise de
Mercado, com sede em Goiânia, GO; e Adolfo Fontes, analista sênior de agronegócio do banco holandês Rabobank, com sede em São Paulo, capital.
Jorge Zaidan – Artigo de fevereiro do ano p assado, publicado no site da Coan, projetava margem de lucro para o confinador, com base no valor da arroba no mercado futuro, em outubro, e custos de produção do boi magro, em praças como Minas Gerais (lucro de R$ 382/cabeça), Mato Grosso do Sul (lucro de R$ 135/cabeça); e outras (GO, MT, TO, PA). Começaria perguntando para a Lygia se essa expectativa de um ano atrás se confirmou no final do ano.
Lygia Pimentel – Ela se confirmou, sim. Tivemos uma boa janela de remuneração em 2015, apesar de alguns percalços, como o custo da reposição, que estava alto, e dificuldade de encontrar gado magro. Foi um ano compensador. O resultado foi especialmente bom para quem travou preços no mercado futuro. Os clientes da Agrifatto conseguiram, em média, preços 6% superiores aos praticados no mercado spot [preço de balcão]. Este ano já não está sendo tão compensador, se compararmos as margens de quem travou no ano passado com os valores que estão sendo praticados no mercado futuro. Mas continua a vantagem de quem faz trava, trabalha com “casa cheia” (capacidade máxima no confinamento) e tem alta tecnologia.
Zaidan – Qual a expectativa para o confinamento, considerando que a arroba projetada pelo mercado futuro já bateu em R$ 165?
Adolfo Fontes – Difícil acertar o valor exato. Mas, dividindo o mercado da carne entre interno e externo, temos uma situação que seria desfavorável, caso aumente a inflação e o desemprego. Infelizmente, não é uma situação tão improvável. Ou seja, um consumo interno menor do que o que estamos esperando. Por outro lado, temos o mercado externo, que pode puxar os preços para cima, por uma série de razões (China comprando mais, abertura do mercado norte-americano, etc..). Por isso, eu diria que R$ 165 é um bom preço.
Ricardo Heise – Gostaria de validar os números da Lygia e do Coan, dizendo que no gado que o Alaor [Ávila Filho, que tem fazenda em Indiara, GO] e eu mandamos para abate, com preço travado em Bolsa, conseguimos lucro de R$ 297 por boi (ante R$ 252 do preço médio em Goiás). A rentabilidade não foi tão boa como a de 2014, mas foi excelente, ainda.
Zaidan – Queria saber do Fabiano se ele acha que há espaço para uma arroba a R$ 170 ou mais este ano.
Fabiano Tito Rosa – A pergunta “mais fácil” é para mim, né? (risos…) Depende de um monte de coisas. Acho muito difícil abrir uma janela de R$ 170 para a arroba. Ainda temos uma incógnita para o segundo semestre, que é o número de animais confinados e semiconfinados. Mas concordo que o mercado externo tem uma perspectiva muito melhor. Por alguns aspectos levantados na palestra do Adolfo, como Austrália produzindo e exportando menos; o Brasil exportando para os EUA.
Inclusive, tivemos nossa planta de Janaúba [MG] habilitada a exportar para lá, dentro de uma cota total de 65.000 toneladas que os americanos abriram para vários exportadores, para ser preenchida no ano. É, inicialmente, pouca coisa. Só para se ter ideia, o Brasil ex-porta, para vários mercados, 100 mil toneladas/mês. De qualquer maneira, abrir o mercado norte-americano é válido. Porque, a médio e longo prazos, podemos abrir outros mercados, como Coreia, Japão, México… Agora, o câmbio já esteve melhor. Estávamos trabalhando com um dólar na casa de R$ 4,10 e agora viemos para R$ 3,65 / R$ 3,75. Muda bem a conta.
Fonte: DBO 426