Equipamentos transformam dejetos de animais, como fezes e urina, em biogás, biocombustível que vem crescendo no campo. Uma granja de suínos no oeste do estado, por exemplo, já produz energia suficiente para abastecer 170 residências.
Produtores rurais do oeste do Paraná estão gerando a sua própria energia elétrica e até mesmo ganhando dinheiro com a sua venda através do biodigestor.
Por meio dos biodigestores, lixos orgânicos e dejetos de animais, como fezes e urina, são transformados em energia, um biocombustível conhecido como biogás, que vem se multiplicando pelo campo. Só último ano, a energia gerada nos biodigestores cresceu 23% no Brasil.
O Paraná é um dos maiores produtores do combustível. Somente no oeste do estado, são 4 milhões de suínos, o que significa uma enxurrada de estrume e urina com potencial para virar energia. Uma das propriedades do estado que investe nessa tecnologia é a granja São Pedro, em São Miguel do Iguaçu (PR), uma das primeiras a ganhar dinheiro com esse biocombustível.
Antes era em dinheiro e, hoje, a companhia remunera Colombari com créditos que podem ser usados para abater o valor da conta de energia de outros imóveis escolhidos pela família.
Atualmente, a propriedade gera energia suficiente para abastecer 170 residências e tem um projeto de alimentar uma pequena rede de energia local.
Como funcionam os biodigestores
O biodigestor é um reservatório coberto com lona. O tanque que recebe os dejetos tem paredes revestidas com concreto ou com lona e o seu tamanho e profundidade variam de acordo com o lugar e volume de dejetos de cada criação.
As fezes e a urina dos porcos entram no tanque e vão se deslocando bem devagar. Durante o percurso, que dura entre 20 e 30 dias, ocorre o tratamento desses dejetos que deixam de ser poluentes, reduzindo em 90% a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa.
No final do processo, são gerados dois produtos ecológicos: o biogás e o biofertilizante. No caso do biogás, ele se forma com a ação das bactérias. Elas consomem o material orgânico dos dejetos, liberando gás.
O biogás é rico em metano, que é inflamável. Ele é usado como combustível em motores que produzem eletricidade.
Já o resíduo final do biodigestor é armazenado e serve como biofertilizante, ou seja, um adubo natural para o campo.
Investimento
Na granja de São Miguel do Iguaçu, o biogás alimenta a miniusina da propriedade. A potência instalada é de 100 kw e o gerador funciona das 6h às 22h.
Para alcançar essa potência, foi investido mais de R$ 1,5 milhão nos últimos anos. Parte desse dinheiro saiu do bolso da família Colombari e, outra, de parcerias público-privadas.
Além da energia elétrica, o biodigestor da granja produz um biofertilizante, usado para irrigar a pastagem onde a família mantém um rebanho de gado de corte.
“Essa pastagem que a gente está olhando aqui hoje não usa nenhum adubo químico. No passado era pastagem degradada, mas só com o uso do biofertilizante essas pastagens recuperaram”, afirma José Carlos Colombari.
Novo projeto
Neste momento, a granja da família de São Miguel do Iguaçu tem um novo projeto: alimentar uma pequena rede elétrica local. A iniciativa deve funcionar assim: um grupo com 4 propriedades faz um acordo com a granja e a concessionária do Paraná. Aproveitando a rede elétrica já existente, cria-se uma chave automática.
Quando a energia oferecida pela concessionária cair, esse grupo de produtores rurais será abastecido com a eletricidade da granja, garantindo, assim, energia permanente aos produtores. Esse processo é chamado de “microgrid” ou micro-redes.
“A geração distribuída em microgrid aumenta a competitividade desses territórios. Os produtores passam a ter mais segurança energética”, afirma Felipe Marques, diretor de desenvolvimento tecnológico e engenheiro ambiental.
“Para a concessionária, também tem efeito positivo porque reduz a necessidade de investir naquele setor, naquela região”, acrescenta.
Pesquisa e contribuição social
Exemplos como o da granja da família Colombari estão espalhados por todo o oeste do Paraná, estado que conta com um instituto de pesquisa voltado somente para energias limpas e renováveis.
É o Cibiogás, instituto criado há 8 anos no parque da usina hidrelétrica de Itaipu, que serve como um laboratório para os estudos.
Até mesmo os restos de comida dos refeitórios da usina abastecem os biodigestores do instituto, que transforma ainda o biogás em biometano, um gás que alimenta motores de carros adaptados.
“Se for comparar com a gasolina, estamos falando de uma economia 40% por quilômetro rodado. Sem contar a possibilidade do próprio município passar a produzir combustível. Existe uma questão de competitividade, de economia circular muito importante neste tipo de abordagem”, afirma Marques.
O Cibiogás atende a projetos de todo o Brasil e já ajudou agricultores de outros países, como de Moçambique.
Em 2015, o pequeno agricultor moçambicano Bachir Afonso visitou o Cibiogás para aprender a montar um biodigestor caseiro e, assim, ajudar as comunidades da sua região a pararem de usar a madeira para cozinhar. A fumaça gerada por ela era fonte de muitas doenças respiratórias nessas comunidades.
“É um propósito de vida”, diz a gerente de operação do Cibiogás, Juliana Gaio Somer. “Porque tem a contribuição com o meio ambiente, mas existe um lado que, por meio do meu trabalho, talvez seja uma das únicas formas que algumas pessoas podem ter acesso à energia elétrica”.
Fonte: Globo Rural
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