A exportação da genética bovina consolida o Brasil como referência em genética de bovinos leiteiros para regiões de clima tropical.
Em setembro deste ano, a Embrapa Gado de Leite (MG) enviou para o México a primeira avaliação genômica de rebanhos da raça Gir Leiteiro naquele país. Antes disso, em maio, foi entregue aos produtores bolivianos a primeira avaliação genômica internacional feita pela Unidade e a expectativa é de que, até o próximo ano, esse serviço seja estendido para outros 11 países latino-americanos. Além de Mexíco e Bolívia, irão receber as avaliações genômicas de seus rebanhos produtores da Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico e República Dominicana.
“Estamos internacionalizando nossas ações de melhoramento genético do Gir Leiteiro”.
Marcos Vinícius G. B. Silva – Pesquisador da Embrapa
Segundo o pesquisador, a exportação da genética bovina traz importantes divisas para o País e consolida o Brasil como referência em genética de bovinos leiteiros para regiões de clima tropical. Para o presidente da ABCGIL, Evandro Guimarães, o interesse de outros países nos resultados do PNMGL é também o reconhecimento de um trabalho técnico-científico de sucesso que teve início em 1985, com a criação do Programa.
Até novembro, a Embrapa Gado de Leite deverá receber informações genéticas de 350 rebanhos do exterior, totalizando cerca de 3 mil animais. O custo da avaliação é de até US$ 38 por animal. Para ter acesso ao serviço de avaliação genética, o produtor deve procurar a associação de criadores da raça zebuína do seu país ou entrar em contato diretamente com a ABCGIL, informando sua intenção de realizar a avaliação genômica. Será solicitado ao produtor que envie amostras genéticas (sangue, sêmen ou pelo do animal) para um laboratório especializado (indicado pela associação). O laboratório fará a genotipagem dos animais e enviará o resultado à Unidade, onde os dados serão processados por pesquisadores e uma equipe de TI.
Segundo os profissionais de informática Guilherme Moura e Matheus Machado, que trabalham em associação com a ABCGIL, são computados milhões de dados, incluindo o pedigree e as informações genômicas dos animais. Para processar esses dados, a Embrapa Gado de Leite montou uma estrutura de bioinformática, com computadores de grande capacidade de processamento, e trabalha em parceria com o Laboratório Multiusuário de Bioinformática, localizado na Embrapa Agricultura Digital (SP). Após todo esse trabalho, os dados são enviados para a ABCGIL, que fornece as informações aos produtores. Ainda este ano, a ABCGIL e a Embrapa disponibilizarão os resultados das avaliações genômicas por meio de um aplicativo, no qual será possível verificar, ainda, os ganhos genéticos de cada rebanho, obter certificados individuais de avaliação genômica, entre outras funcionalidades.
Para além da porteira, a bovinocultura de leite tem cada vez mais introduzido ao seu repertório conceitos como genômica, bioquímica e informática. Essa é a nova realidade do melhoramento genético, que até pouco mais de uma década se baseava nos fenótipos dos indivíduos: características observáveis do animal como conformação do úbere, cascos, peso, produção, reprodução etc. Hoje, segundo o pesquisador da Embrapa João Claudio Panetto, 95% dos animais registrados por ano na Associação são avaliados genomicamente, o que garante a expertise do Brasil na seleção de bovinos leiteiros para as condições tropicais, respaldando a exportação dessa tecnologia. Técnicos da ABCGIL esperam que a procura pelo serviço cresça exponencialmente nos próximos anos.
A seleção genômica, que tem interessado os países latino-americanos, é a ferramenta mais recente utilizada no melhoramento genético bovino. Sua origem remonta a 16 anos, quando pesquisadores do mundo inteiro, inclusive da Embrapa, anunciaram na Revista Science o sequenciamento do DNA bovino. Apenas três anos depois, pesquisadores da Embrapa já identificavam diferenças significativas entre animais taurinos (bovinos de origem europeia, como a raça Holandesa) e zebuínos (de origem indiana, como a raça Gir).
Segundo o pesquisador da Embrapa Marco Antonio Machado, o sequenciamento do DNA provocou uma verdadeira revolução na seleção genética bovina, barateando e multiplicando a velocidade dos programas de melhoramento (veja em quadro ao fim desta matéria as diferenças entre a seleção tradicional e a seleção realizada por meio da avaliação genômica).
O sequenciamento do DNA permitiu identificar mais de 5 milhões de SNPs específicos para as raças zebuínas. Conforme explica Silva, SNP (polimorfismo de um único nucleotídeo, na tradução da sigla em inglês) é um tipo de marcador molecular que determina as características do indivíduo. “O DNA é uma sequência de nucleotídeos e são esses polimorfismos que diferenciam um indivíduo do outro”, diz o pesquisador.
Características como ganho de peso, produção, reprodução, resistência a parasitas e ao estresse térmico, entre outras de interesse dos criadores, podem ser identificadas por meio dos SNPs, cruzando informações fenotípicas com o genótipo do indivíduo. As avaliações são feitas utilizando uma ferramenta baseada nos SNPs desenvolvida pela Embrapa em parceria com a ABCGIL, que faz o mapeamento das informações genéticas, selecionando os animais com as características de interesse.
Por meio da avaliação genômica é possível mais do que dobrar a velocidade do melhoramento genético, com custos menores. Embora o percentual exato de redução desses custos possa variar dependendo do país, do sistema de manejo e da escala do programa de melhoramento genético, estudos e relatórios indicam que a redução é superior a 50%. Clique aqui e veja mais sobre pecuária de leite.
Em 2018, a avaliação genômica foi incorporada definitivamente ao Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro. O Gir foi a primeira raça zebuína leiteira do mundo a utilizar essa tecnologia, que neste ano passou a ser exportada aos países latino-americanos. A implantação da genômica no processo de seleção melhorou a acurácia das estimativas dos valores genéticos, especialmente para animais jovens, possibilitando a diminuição do intervalo de gerações e a aceleração do progresso genético da raça.
Por Rubens Neiva/ Embrapa Gado de Leite
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