Como as exportações brasileiras de carne de frango in natura estão representadas por uma diversidade de itens que atendem às mais diferentes exigências dos importadores, os preços médios do produto sempre estiveram sensivelmente acima dos registrados pela carne de frango norte-americana, cujas vendas externas estão concentradas quase exclusivamente em coxa/sobrecoxa de frango
Quem confirma essa informação é a FAO. E seus dados anuais mostram que a melhor relação de preços a favor do Brasil foi registrada há exatamente 10 anos, em 2008. Então, a carne de frango in natura exportada pelo Brasil foi negociada por, praticamente, US$1.900,00 por tonelada, alcançando valor mais de 90% superior aos US$997,00 por tonelada obtidos pelos EUA naquele exercício.
Infelizmente, porém, essa relação de preços vem se deteriorando no decorrer do tempo. Pois ainda que os dois exportadores líderes venham enfrentando redução de preço, as perdas brasileiras têm sido muito maiores.
Para não ir mais longe, fiquemos com o registrado nesta década, ou seja, a partir de janeiro de 2011. Embora tenham recuado em relação aos valores alcançados nos cinco primeiros anos da década, os preços obtidos pelos EUA voltaram a apresentar alguma reação mais recentemente. Melhor: fecharam o primeiro semestre de 2018 (dados preliminares) com, praticamente, o mesmo valor de janeiro de 2011.
Não é o que acontece com as exportações brasileiras. Em janeiro de 2011 “cravaram” na marca dos US$2.000,00/t e, a despeito das altas e baixas posteriores, registraram sua melhor marca em abril de 2013, ocasião em que o produto foi negociado por pouco mais de US$2.250,00 por tonelada. Mas foi só, pois, desde então, os decréscimos têm sido praticamente contínuos. Junho de 2018, por exemplo, foi encerrado com um valor quase um quarto inferior ao de janeiro de 2011 – contra a estabilidade de preços dos norte-americanos.
Tudo resumido, o fato é que nos 90 meses decorridos desde janeiro de 2011 a carne de frango in natura brasileira foi negociada por valores que representaram, em média, margem de 64% em relação aos preços dos EUA.
Mas neste ano, especialmente, essa relação simplesmente despencou. E os preços registrados pela FAO em junho – US$1.095/t do frango norte-americano; US$1.520/t do frango brasileiro – significam que a margem brasileira se encontra em, apenas, 39% – eventualmente a pior relação não apenas desta década, mas de toda a história das exportações brasileiras do produto.
Notar, ainda, que as perdas de margem mais agudas dos últimos tempos ocorreram a partir de março de 2017 e, um ano depois, a partir de março de 2018. Pode ser pura coincidência, mas nesses dois meses o setor foi diretamente alvejado pelo “fogo amigo” da Polícia Federal.