O Rio Grande do Sul tem o pior desempenho do país em propriedades rurais com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), um dos mais importantes instrumentos do Código Florestal, enquanto Mato Grosso lidera o ranking nacional. Até agora o Rio Grande do Sul tem 1,49% de sua área cadastrada, enquanto os produtores de Mato Grosso já fizeram o CAR de 52 milhões de hectares, ou 70,24% da área que precisam registrar.
“É um desastre o que ocorre no Rio Grande do Sul e ali há muita gente capacitada”, diz Raimundo Deusdara Filho, diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Pelos novos dados do SFB, Santa Catarina fez o CAR de 43,70% da área e o Paraná, de 28%. São Paulo tem CAR de 36% da área que deve ser cadastrada, e em Minas Gerais o percentual chega a 33%.
O mecanismo fará um retrato ambiental das propriedades rurais brasileiras. Fica claro, depois de feito o CAR, a quantidade de reserva legal ou Área de Proteção Permanente (APP) que cada propriedade tem, qual seu passivo e os ativos florestais. O Brasil tem 397 milhões de hectares de áreas a serem cadastradas, e o SFB aponta que 53,56% já têm o CAR.
Na iniciativa, o governo federal investiu R$ 526 milhões, sendo R$ 272 milhões do Fundo Amazônia.
Se o CAR começa a decolar, outros temas são sensíveis em Mato Grosso. “Não vamos abrir mão do direito ao desmatamento”, afirmou Amado de Oliveira Filho, consultor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), no seminário “Mato Grosso: Cadeias Produtivas Sustentáveis”, promovido ontem em Cuiabá pelo Valor.
Nesse tema, há um descompasso entre as expectativas do governo, dos ambientalistas e do setor produtivo. Ana Luiza Peterlini, secretária do Meio Ambiente de Mato Grosso, disse que o CAR “é uma grande ferramenta para o controle do desmatamento” e que o 48% do desmate no Estado ocorre em áreas particulares.
Se o Estado procura coibir o desmatamento ilegal, a agenda ambientalista puxa o debate do desmatamento zero. “Já desmatamos o suficiente”, afirmou Andrea Azevedo, diretora de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Nos últimos anos, o Estado reduziu o desmatamento e ampliou a produção de soja e carne.
“Tivemos avanços no sentido de tirar o papel que o desmatamento tinha para as cadeias produtivas. Mas não podemos andar para trás”, disse Laurent Micol, coordenador de incentivos econômicos do ICV, uma ONG da região. “Temos que aproveitar as opções tecnológicas que já permitem fazer a rastreabilidade da produção (…) Desmatamento não é mais necessário ou desejável.”
Há desafios importantes à frente de Mato Grosso. “A moratória da soja foi totalmente inócua”, afirmou Rui Prado, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato). A moratória, discutida entre indústria, produtores e ambientalistas, vigorará até maio de 2016. Yuri Feres, gerente de sustentabilidade da Cargill, disse, por sua vez, que a indústria olha para a sustentabilidade de forma mais estratégica. “Temos que pensar em escala e não em projetos-piloto”.
Os 200 produtores, empresários e estudantes na plateia estavam interessados em novos campos de negócios para o Estado, como o setor florestal, ou incentivos, como a implantação da CRA, a Cota de Reserva Ambiental. Eduardo Menezes Mota, secretário-adjunto de Indústria e Comércio, lembrou que uma comitiva chinesa estava em Mato Grosso para conhecer as cidades do Estado na rota da ferrovia Transoceânica, que deverá ligar o Rio ao Peru.