Carne Wagyu usando bioimpressora 3D? Sério? Isso mesmo, cientistas da Universidade de Osaka, no Japão, usaram células-tronco isoladas de vacas Wagyu para imprimir em 3D uma alternativa de carne que contém músculos, gordura e vasos sanguíneos dispostos de forma a se assemelhar a bifes convencionais. “Com o aprimoramento dessa tecnologia, será possível não apenas reproduzir estruturas complexas de carne, como o belo sashi da carne Wagyu, mas também fazer ajustes sutis nos componentes de gordura e músculo”, diz a pesquisadora.
Carne Wagyu usando bioimpressora 3D
Visando a sustentabilidade, esse estudo pode transformar toda a cadeia da carne com a conhecemos hoje. Mas é claro que assim como na vida real, a carne 3D possuí preços exorbitantes e ainda não atendem a maioria dos consumidores. A carne Wagyu é de longe um dos cortes mais caros do mundo, podendo passar dos R$450 por kg. Essa carne, portanto, é o modelo que pesquisadores japoneses usaram para criar um bife feito completamente em laboratório, com auxílio de uma bioimpressora 3D.
A raça Wagyu, que significa “vaca japonesa” no idioma oriental, é famosa em todo o mundo por seu alto conteúdo de gordura intramuscular, conhecido como marmoreio. Esta característica garante um sabor rico e uma textura especial. Por isso, os cientistas da Universidade de Osaka usaram a impressão 3D para criar carne sintética “idêntica” à carne convencional.
Segundo os pesquisadores, esse trabalho pode ajudar a inaugurar um futuro mais sustentável, com disposição ampla de carne.
Carne feita em bioimpressão 3D pode ser alternativa sustentável
Segundo avaliação de alguns especialistas, a forma como o gado é criado hoje é frequentemente considerada insustentável à luz de sua contribuição descomunal para as emissões de gases prejudiciais ao clima.
Com a inovação tecnológica proposta pela nova pesquisa, por meio da impressão 3D para criação de carne sintética, eles pretendem resolver o problema. “Usando a estrutura histológica da carne Wagyu como um projeto, desenvolvemos um método de impressão 3D que pode produzir estruturas complexas feitas sob medida, como fibras musculares, gordura e vasos sanguíneos”, disse o autor principal Dong-Hee Kang.
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Para superar esse desafio, a equipe começou com dois tipos de células-tronco, chamadas células-satélite bovinas e células-tronco derivadas do tecido adiposo. Sob as condições corretas de laboratório, essas células “multipotentes” podem ser induzidas a se diferenciar em cada tipo de célula necessária para produzir a carne cultivada.
Fibras individuais, incluindo músculos, gordura ou vasos sanguíneos, foram fabricadas a partir dessas células usando bioimpressão. As fibras foram então dispostas em 3D, seguindo a estrutura histológica, para reproduzir a estrutura da carne Wagyu real, que foi posteriormente fatiada perpendicularmente.
Esse processo possibilitou a reconstrução da complexa estrutura do tecido cárneo de maneira personalizável. “Com o aprimoramento dessa tecnologia, será possível não apenas reproduzir estruturas complexas de carne, como o belo sashi da carne Wagyu, mas também fazer ajustes sutis nos componentes de gordura e músculo”, diz a autora sênior Michiya Matsusaki. Ou seja, os clientes poderiam pedir carne cultivada com a quantidade desejada de gordura, com base em considerações de sabor e saúde.
A pesquisa publicada no periódico Nature Communications e revela alguns detalhes dos motivos por trás do desenvolvimento do estudo. Segundo os pesquisadores, células bovinas para carne cultivada podem ser atualmente protegidas por duas abordagens. Uma delas é seguir a obtenção de tecidos musculares comestíveis do gado, suas células são separadas em cada tipo, como células de satélite musculares, células-tronco adultas e células-tronco multipotentes, que são então cultivadas para aumentar o número de células. A outra é a transformação de células somáticas em células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs) e diferenciá-las em cada tipo de célula. Células-tronco cultivadas primárias, particularmente células de satélite musculares, mantêm sua capacidade de diferenciação dentro de 10 passagens e, portanto, têm um número limitado de divisões. Mas, eles ainda devem ser seguros e aceitáveis para o consumo.
Veja abaixo um esquema objetivo da produção de carne 3D:
Curiosidade: carne Wagyu usando bioimpressão 3D não é considerada comida vegana
Essa tecnologia pode nos fazer refletir sobre o futuro da nossa alimentação. Será que um dia nossas cozinhas estarão equipadas com geladeira, fogão, micro-ondas… e uma impressora 3D? Uma coisa é certa: a tecnologia continua trazendo alternativas à carne animal, de modo que uma dieta sem alimentos de origem animal se torna cada vez mais comum.
No entanto, diferentemente de outros bifes feitos em impressoras 3D que já noticiamos por aqui, essa carne não pode ser considerada uma alternativa alimentar vegana, nem sequer vegetariana, devido à sua origem nas células-tronco de animais.
Próximos passos para a carne Wagyu 3D
Apesar de os pesquisadores terem buscado seguir todas as porcentagens de gordura e carne que haveriam em uma carne tradicional, por enquanto ninguém irá saber o gosto desse bife sintético. Isso porque ainda mal há regulação para carnes feitas em laboratório ao redor do mundo.
Portanto, assim como afirma a pesquisa, talvez sejam necessárias ainda algumas décadas até que a carne sintética de fato chegue às prateleiras do supermercado a um preço acessível. Todavia, já temos os primeiros passos em direção a uma tecnologia que pode revolucionar a culinária e de quebra auxiliar na sustentabilidade.
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AGRONEWS®, com informações de Socientifica e Olhar Digital.