Resultado da safra argentina e clima na época de plantio do hemisfério Norte devem ditar cotações do cereal
Os preços do trigo em Chicago devem seguir tendência de alta até o final do ano, diante das complicações climáticas que ainda acometem algumas das principais regiões produtoras ao redor do globo. “Esse movimento é atípico, considerando-se que a sazonalidade dos preços do trigo no hemisfério norte sugere uma queda acentuada nos preços do cereal a partir do mês de agosto, tendência que se estende até o mês de dezembro”, explica INTL FCStone, em relatório. Na comparação com a média dos últimos três anos, o atual patamar das cotações está 14,3% acima do observado.
O clima de severa seca nas regiões produtoras ao redor do globo continua sendo o principal catalisador dos ganhos nos preços. Após o início do primeiro semestre ter sido marcado pela escassez hídrica em diversos players como EUA, Argentina, Rússia e Ucrânia, em meados do semestre, as preocupações quanto às lavouras da Austrália, Canadá, União Europeia e até mesmo Brasil passaram a ser o centro das atenções dos agentes. “Nos meses mais recentes, as chuvas voltaram com certa regularidade a boa parte das áreas de cultivo da União Europeia, dos Estados Unidos, da Argentina e do Brasil, beneficiando as lavouras desses países”, pondera.
No caso da Argentina, a preocupação quanto à seca continua, uma vez que a safra será colhida apenas em dezembro, porém se restringe apenas à província de Córdoba, onde cerca de 23,5% dos solos se encontram em condição de seca. De acordo com dados da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, boa parte da safra (40%) se encontra em condições normais, contra 21% do observado à essa altura no mesmo período do ano anterior. Nesse sentido, é provável que, mesmo com a expansão de 13% na área total plantada no país neste ano-safra, o potencial produtivo da safra se mantenha em linha com o ano anterior.
O clima de cautela quanto à safra do país sul-americano tem dado suporte aos preços argentinos, que já estavam elevados devido à expansão nas exportações do país promovida pela oferta recorde de 18 milhões de toneladas em 2017/18. A exceção foi observada no início do mês de setembro, quando o governo argentino anunciou que iria reaplicar as “retenciones” (impostos sobre as exportações) sobre o trigo ($4 por dólar FOB) e a farinha derivada do cereal ($3 por dólar FOB).
“Mesmo com a reaplicação das tarifas, as exportações argentinas continuam bastante elevadas, principalmente porque o Brasil, país beneficiado pela vigência da Tarifa Externa Comum (TEC) entre os países do Mercosul, depende do produto argentino para o seu abastecimento interno”, lembra a INTL FCStone. Mesmo em contexto de preços elevados, o Brasil tem importado um volume maior do que a média dos três anos anteriores desde novembro de 2017, com exceção dos meses de março e junho de 2018. Apenas em julho deste ano, houve um aumento de 68,9% no volume importado de trigo argentino pelo Brasil.
A tendência de alta também tem sido proporcionada por outros players importantes do mercado internacional do grão. Na Austrália, onde a safra começa a ser colhida neste mês de outubro, as precipitações continuaram abaixo da média, prejudicando o potencial da safra. Esse também é o caso da Rússia, onde houve o encerramento da colheita de trigo de primavera e início do plantio de trigo de inverno no mês de setembro. De acordo com o último relatório WASDE/USDA, a safra global sofreu novos cortes na comparação com o mês anterior. Em queda pela quinta estimativa consecutiva, a produção recuou 0,3% para 730,9 milhões de toneladas entre outubro e setembro. “Os preços devem continuar sob a influência do mercado de clima”, reforça a consultoria INTL FCStone.
Por INTL FCStone