Linhas de crédito do Programa ABC também financiam implantação de ILPF, produção de florestas plantadas, adequação ambiental e plantio direto
Lançado na safra 2010/2011 para financiar os objetivos estipulados no Plano para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), o Programa ABC chegou ao ciclo 2017/2018 ofertando R$ 2,13 bilhões. As linhas de crédito contemplam desde recuperação de pastagens e implantação de sistemas ILPF a plantio direto, florestas plantadas e adequação ambiental, além de tratamento de dejetos animais. Apesar da abrangência, até a safra 2016/2017 o total contratado pelos produtores nunca atingiu o valor disponibilizado. No último ciclo, a parcela utilizada foi de 63% dos R$ 2,9 bilhões ofertados. “É um crédito mais burocrático do que os outros, porque envolve um sistema, uma tecnologia, o que é diferente de comprar um trator. Além disso, falta informação sobre sua existência e potencial”, diz Angelo Gurgel, coordenador do Observatório ABC.
A procura, porém, parece ter aumentado este ano, principalmente para a recuperação de pastagens degradadas. No bimestre julho-agosto, o aumento no número de contratos foi de 1.700% para essa linha ante o registrado no mesmo período de 2016. Estima-se que cerca de 50% a 70% das pastagens brasileiras tenha algum nível de degradação, o que tem impacto na produtividade e rentabilidade das fazendas, além do meio ambiente.
Condições – Assim como outras linhas de crédito, é necessário apresentar um projeto para conseguir o financiamento do Programa ABC. Nesse caso, alguns pontos são específicos, como a análise de solo e marcação de coordenadas geodésicas da propriedade, que exige equipamento específico. “Você precisa de um consultor capacitado para realizar isso. Como é para financiar sistemas produtivos e não itens isolados, isso traz uma complexidade maior na confecção do projeto e na análise por parte do agente financeiro”, afirma Gurgel. Segundo ele, esse é um dos motivos que pode desestimular a tomada de crédito por meio do Programa ABC em relação a outras linhas.
No Plano Safra 2017/2018, a taxa de juros é de 7,5% ao ano e o valor máximo é de R$ 2,2 milhões por cliente. Os prazos variam conforme o tipo de projeto, podendo chegar a 180 meses, segundo informações do Banco do Brasil, uma das instituições que oferta o Programa ABC. Os itens que podem ser financiados variam dependendo do objetivo, mas incluem até a aquisição de animais, desde que seja para a inserção em um sistema de baixa emissão de carbono contemplado pelo programa.
É possível simular a contratação no site do BNDES (clique aqui) e também no do Banco do Brasil (clique aqui). Para mais detalhes, o ideal é contatar algum banco que ofereça esse tipo de crédito.
Na prática – Em dois estudos de caso da pesquisa ‘Análise dos Recursos do Programa ABC’ do Observatório ABC – um de Mineiros, GO, e outro de Xapuri, AC, -, os produtores indicaram demora para conseguir o financiamento. “Depende da região, da equipe técnica disponível, porque é diferente financiar uma área com tecnologia. Temos relatos de que chega a demorar um ano”, conta Annelise Vendramini, responsável pelo estudo.
Nas duas propriedades analisadas, a adoção das tecnologias tem surtido efeito. Na fazenda de Xapuri, que acessou a linha de recuperação de pastagens, a taxa de lotação passou de 1 UA/ha para 3 UA/ha em dois anos e o produtor também fez restauração das Áreas de Preservação Permanente para ficar em conformidade com o Código Florestal. Já na de Mineiros, onde foi implantado sistema ILP (integração lavoura-pecuária), a produtividade da soja passou de 44 sacas/ha para 55 sacas/ha do primeiro para o segundo ano, além de ter sido feita recuperação de pastagens.
Como melhorar – Gurgel acredita que é necessário uma maior divulgação do programa e do ganho potencial de se adotar tecnologias de baixa emissão de carbono. “A falta de conhecimento sobre o potencial dessas linhas – como podem melhorar a produtividade, aumentar a rentabilidade – faz com que o produtor seja reticente a tomar esse crédito ou o desconheça completamente. Além disso, também faz com que o projetista não o recomende e o agente bancário tenha receio de oferecer, porque eles têm um desconhecimento sobre o potencial dessas linhas em termos de melhoria das condições de produção”.
Em nota, o Banco do Brasil, maior repassador de recursos do programa, disse que “investiu fortemente na qualificação de técnicos, que foram capacitados em parceria com o Ministério da Agricultura e Embrapa, mobilizou sua equipe técnica, e atua fortemente de forma a difundir o programa entre os produtores rurais, visando acelerar o processo de contratação para a disseminação do processo de produção em bases sustentáveis”.
Por Portal DBO