Produtores de milho de Mato Grosso serão pressionados a aceitar uma queda acentuada nos preços do grão quando começarem a comercializar a nova safra no mercado físico em junho, mês em que a colheita ganha ritmo no Estado líder na produção agrícola do país, disseram agentes do mercado.
Compradores estão indicando preços cerca de 40 por cento mais baixos ante os verificados nos poucos negócios registrados em maio, pico da entressafra no Estado, quando as cotações ainda estavam sustentadas por relatos sobre quebra de safra pela seca no Centro-Oeste.
As primeiras lavouras já estão sendo colhidas em algumas regiões, mas a colheita alcança menos de 1 por cento da área plantada no Estado, segundo o mais recente relatório do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Estas primeiras cargas estão sendo usadas para cumprir contratos firmados antecipadamente, e praticamente ainda não há grãos sendo negociados na pronta entrega. A expectativa é de que o mercado local esteja melhor abastecido a partir do fim deste mês, com o avanço dos trabalhos de colheita, destravando novos negócios.
“A partir de 15 a 20 de junho, o mercado interno vai cair”, disse um executivo comercial de uma trading internacional com escritório em Sinop, no médio-norte de Mato Grosso.
Segundo ele, houve negócios com milho no mercado à vista a 33 reais por saca naquela região em maio. Para o fim de junho, a ideia é oferecer negócios a 20 reais a saca, revelou, na condição de anonimato.
Além da previsão de maior oferta de grãos, os preços obtidos pelas tradings nos portos, para exportação, não permitem oferecer cotações maiores nas regiões de origem.
No município de Nova Mutum, também no médio-norte de Mato Grosso, a situação é semelhante.
“Até ontem estávamos recebendo milho com contratos antecipados fechados a 33 reais por saca. Mas a partir de agora vamos oferecer 21 reais, para pronta entrega. Nosso objetivo é abastecer a exportação”, disse o gerente da unidade local de uma grande trading multinacional.
O presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Laércio Lenz, que representa agricultores no maior município produtor de soja do Brasil, lembra que muitos venderam antecipadamente 50 a 60 por cento do que imaginavam que iriam colher. Contudo, as quebras de produtividade decorrentes do clima adverso levaram o volume de milho negociado previamente a representar 70 a 80 por cento da safra.
Com isso, segundo Lenz, os produtores têm evitado fechar novos negócios até que tenham certeza dos resultados de suas plantações.
“Não vai ter muito grão para comercializar (no mercado à vista) quando a colheita ganhar ritmo”, disse ele, destacando que essa menor oferta de milho sem contrato fechado pode limitar o recuo do mercado.
Ainda assim, Lenz disse que negócios à vista foram feitos em maio entre 33 e 35 reais por saca. Para entrega em junho a sinalização dos compradores está entre 22 e 25 reais por saca.
Segundo uma corretora de Rondonópolis, que não estava autorizada a falar com a imprensa, há oferta de negócios a 35 reais por saca para entrega até 15 de junho, a 30 reais para a segunda quinzena do mês e a 28 reais em julho.
Grandes compradores de milho do Brasil, como granjas de aves e suínos, contam com a chegada da chamada “safrinha”, que é colhida também em outros Estados, como o Paraná, para aliviar uma aguda escassez de milho registrada nos últimos meses.
Fortes exportações entre o fim de 2015 e o início de 2016 reduziram os estoques do país e obrigaram muitas empresas consumidoras a apelar para importações da Argentina e do Paraguai para manter suas operações.
Fonte: Reuters