Produtores de leite, de várias partes do país, fazem campanha nas redes sociais para chamar a atenção das lideranças políticas, na tentativa de serem ouvidos e atendidos em suas reivindicações.
Em um ano, mais de 580 famílias produtoras de leite abandonaram a atividade na região Celeiro/RS, segundo levantamento solicitado pela Amuceleiro à Emater. O principal motivo é o valor pago pelo litro nos últimos anos, chegando a R$ 0,55, que tem sido insuficiente para que os produtores se mantenham e até paguem pelos custos da produção. A diminuição na produção leiteira, atividade do agronegócio que mais emprega pessoas no Brasil, produz reflexos negativos de grande monta na economia da região, que sobrevive basicamente da agricultura familiar. Ainda de acordo com o levantamento feito, mais de R$ 125 milhões deixaram de circular no comércio dos 21 municípios da Amuceleiro nesse último ano.
Entre vários motivos declarados e de acordo com uma pesquisa sobre a cadeia produtiva do leite, realizada pela Emater/RS-Ascar em julho de 2017, somente no Estado do Rio Grande do Sul, as razões relacionadas ao ambiente interno e externo das propriedades que levaram as famílias a abandonar a atividade destacam-se:
– Baixa renda da atividade: Quando desenvolvida em pequena escala a atividade leiteira não gera uma renda líquida capaz de manter adequadamente as famílias, realizar as melhorias necessárias para reduzir a penosidade do trabalho, adequar a propriedade às exigências das indústrias (em termos de quantidade à qualidade do leite) e, muito menos, estimular os jovens a permanecerem na atividade. O baixo preço em alguns momentos e a grande diferença entre o menor e maior preço pago pela indústria são fatores que interferem de forma significativa na renda do produtor.
– Outras oportunidades de renda: A elevação nos preços da soja tornou bastante atrativa a produção dessa oleaginosa, da mesma forma como o arrendamento das terras da propriedade para esse fim, em algumas regiões do Estado
– Consumo de leite: Nos últimos anos, o consumo interno de leite no país encontra-se retraído, em função da crise econômica. Em decorrência disso, o consumo manteve-se estagnado, desde 2013, em cerca de 175 litros anuais por habitante;
– Importações de Leite: Em 2016, as importações brasileiras de lácteos alcançaram patamares bastante elevados, crescendo 72,7% em volume, em relação ao ano de 2015, o qual já havia aumentado 50,5%, em relação ao ano anterior. Parcela significativa desse volume teria entrado no país através do RS, beneficiado por medida do Executivo Estadual, através dos decretos 50.645/2013 e 53.059/2016, que estimularam a importação a partir da obrigação tributária mais favorável para o valor da operação de leite em pó importado. Estimativas indicam que o volume importado do Uruguai, através do Rio Grande do Sul, em 2016, tenha sido equivalente a cerca de um mês e meio da produção gaúcha de leite.
– Exigências das indústrias: A necessidade de uma maior competitividade para vender leite no mercado e de um maior controle de qualidade sobre o produto coletado nas propriedades (inclusive aquelas relacionadas à Lei do Leite) tornou as indústrias mais exigentes em relação a seus fornecedores de matéria-prima. Assim, foram estabelecidos, entre outras questões, volumes mínimos para coleta, a obrigatoriedade de tanque de expansão do resfriamento do leite, além de um controle mais rigoroso sobre a qualidade do leite (aumentando expressivamente o descarte de leite nas propriedades pela ocorrência de inconformidades, como Leite Lina, baixo Extrato Seco, alcalinidade, etc.). Dificuldade em atender as exigências das indústrias foi apontada na pesquisa como um gargalo para 21,4% das propriedades.
Vejam o depoimento do produtor Charles Nelmon, de Palmeiras das Missões/RS, que esta completamente indignado com esta situação:
…”Eu começo às 6h da manhã e vou até às 8h da noite, isso quando der tudo certo, quando não der nenhum atrapalho. Aí não basta não sobrar nada, tu ainda fica no prejuízo. Falar em R$ 1,00 o litro de leite hoje, sendo que meu custo por litro fico em torno de R$ 1,20, e de onde eu vou tirar pra pagar, pra compensar essa diferença? Eu acho que nós vamos ter que mudar é os políticos ou senão os nossos políticos, que nós elegemos vão ter que cobrar o ordenado deles lá no Uruguai, porque eles foram eleitos para trabalhar para o Brasileiros e não para os Uruguaios”.
Para entender melhor a CRISE LEITEIRA, veja algumas notícias relacionadas ao mercado do leite:
Leite: aumento da oferta de matéria-prima pressiona para baixo os preços
O mercado atacadista de produtos lácteos está em queda. Na primeira quinzena de novembro, na média de todos os produtos pesquisados pela Scot Consultoria, o recuo dos preços foi de 0,7%, frente a quinzena anterior
Leite: “média do Brasil” recua 8 centavos/litro desanimando produtor
De acordo com pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, a “Média Brasil” líquida de novembro (referente à captação de outubro) chegou a R$ 1,3624/litro, diminuição de oito centavos ou de 5,4% em relação ao mês anterior. Esse foi o recuo mais intenso desde outubro do ano passado, quando a queda chegou a 7,7%, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IPCA de outubro/18).
Leite: consumo retraído mantém preço em queda
Os derivados lácteos seguem em desvalorização nestas últimas semanas de novembro nos atacados de São Paulo.
De 19 a 23 de novembro, o preço médio do leite longa vida foi de R$ 2,0531/litro e o do queijo muçarela, de R$ 17,59/kg, com respectivas baixas de 3% e de 1,74%, em relação aos da semana anterior.
Diante deste quadro desanimador, outros produtores também manifestaram sua insatisfação com a atividade e gravaram seus depoimentos que estão circulando nas principais redes sociais, confira alguns deles:
Sra. Carmem Dias da Costa, de Boa Vista do Incra, trabalha há mais de 30 anos na atividade leiteira. “Porque de nós é exigido tanta qualidade e não é pago por isso? Quero lembrar aqui, se o campo morrer, morre a cidade”…
Outro depoimento foi do produtor Sidiclei Risso, de Marmeleiro/PR. “Nós estamos aqui com mais de 14h por dia de trabalho, tentando dar o máximo de conforto para nossos animais e o que vocês(políticos) dão de volta? Importação de leite, tributação, energia cara e além de tudo se eu quiser me aposentar tenho que pagar um carne do INSS”…
E não para por aí, vejam mais depoimentos de indignação com a atividade leiteira…
A futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, defendeu revisão das regras, mas não o fim do bloco sul-americano.
Entrada do leite uruguaio precisa ser revista, diz Tereza Cristina
Tereza Cristina reconhece que não são apenas as regras do Mercosul que influenciam o mercado brasileiro e que há outras questões a serem discutidas. Mas pontua que a oscilação no preço do produto afeta os produtores brasileiros, na grande maioria pequenos.
Já o coordenador institucional da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e vice-presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, o deputado federal Evair de Melo (PP-ES) solicitou, em reunião na Casa Civil, nesta semana, a revalidação das tarifas de importação de leite em pó da União Europeia e da Nova Zelândia, o chamado Direito Antidumping.
Dep. Evair de Melo pede revalidação das tarifas de importação do leite
Caso a reivindicação seja atendida, isso significa que o Brasil impedirá as importações do produto a um preço abaixo do estabelecido no país.
Atualmente, a União Europeia é a região onde mais se produz laticínios no mundo. Sua produção é subsidiada pelos governos dos países membros e o seu preço de mercado é baixo. Presente na reunião, o presidente da Confederação da Agricultura de Minas Gerais, Vasco Praça, afirmou que por conta dessas importações e da alta carga tributária, quase 10 cooperativas de leite têm sido fechadas, por ano, no Brasil.
E você, o que acha de tudo isso? deixe sua opinião nos comentários e compartilhe nas redes sociais.
Por: Vicente Delgado – AGRONEWS BRASIL, com informações do DiárioRS e Compre Rural.