Quem tem interesse em produzir mudas no Cerrado e no Pantanal deve definir bem o objetivo da plantação
Quem tem interesse em produzir mudas nos biomas Pantanal e Cerrado deve, em primeiro lugar, definir bem o objetivo da plantação. A sugestão é do pesquisador Norton Hayd Rego, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e coordenador regional do Projeto Biomas no Pantanal. Ele foi um dos palestrantes do curso “Coleta, conservação de sementes, produção de mudas e estratégias de restauração ecológica nos Biomas Pantanal e Cerrado”, realizado no campus de Aquidauana da UEMS.
Mudas de plantas podem ser produzidas com diversas finalidades, diz Norton. Elas podem ser desenvolvidas para uso próprio, para comercialização, de forma permanente ou temporária para plantio no campo ou na cidade e com o objetivo de produzir frutos, madeira, recompor ambientes, entre outros. Após a definição dessas finalidades, é hora de encontrar as árvores que servirão como matrizes para a coleta de sementes. “Nós discutimos a questão desde o momento da escolha dessa planta”, diz o professor.
Árvores matrizes – Para escolher as árvores que irão fornecer as sementes das mudas, Norton destaca a importância de se avaliar aspectos como sanidade e fertilidade. “Uma boa matriz é uma planta sadia, que esteja produzindo flores e frutos”, afirma. Para saber se a árvore é fértil ou não, é preciso observar se há floradas, cascas ou outros restos de frutos no chão, seu porte e se as plantas atingiram a maturidade. “Vale lembrar que as árvores nativas não produzem frutos e flores na mesma quantidade todos os anos, em alguns elas produzem menos. Isso é uma ocorrência natural das espécies”.
Sementes – Após encontrar a árvore matriz com as características desejadas, é possível coletar as sementes. O ponto de maturação para a coleta varia entre as espécies, diz o professor, particularmente quando as árvores produzem frutos que se abrem. “O ipê, por exemplo, precisa ter suas sementes coletadas antes da abertura do fruto. O momento da coleta nos frutos secos é de fácil observação porque eles começam a secar e a ter pequenas rachaduras. Os frutos carnosos normalmente ficam com coloração amarelada, amolecidos, com a cor característica de fruto maduro”.
Para Norton, as sementes escolhidas para plantio precisam estar inteiras, sadias, sem a presença de pragas, manchas ou perfurações. “Buscamos uniformizar as sementes, agrupando inclusive aquelas de tamanhos parecidos. As sementes menores tendem a produzir mudas menores, pois dependem da reserva que possuem para o arranque inicial”. A separação e o descarte de sementes menores, porém, só é possível quando há um volume razoável de sementes. Cuidados como esses asseguram uma boa produção de mudas no futuro, assegura o professor.
Plantio – A escolha do recipiente para plantio varia de acordo com o tamanho da semente e porte da planta, conta Norton. “Temos que colocá-las de um jeito que as sementes tenham o maior contato possível com o substrato e irrigá-las logo após o plantio”. Elas não devem ser enterradas de maneira muito profunda, diz, estando em uma posição que receba a umidade da irrigação. “Sementes maiores ficam um pouco mais fundo, mas nunca deixamos mais que um centímetro de terra sobre ela. Para sementes menores, deixamos no máximo meio centímetro de terra acima”.
Há, ainda, as sementes que devem ficar na superfície, tocando o solo (como as de alface). Estas não podem ser enterradas porque dependem de luz para germinar. Cada espécie germina sob determinadas condições e o produtor de sementes ganha experiência com o tempo, esclarece Norton. O professor ressalta que a observação do viveirista é crucial para identificar problemas e necessidades das plantas. Ele recomenda cautela no horário entre 10h e 15h, o período mais quente do dia e o momento mais crítico para os viveiros. “Tanto o Pantanal quanto o Cerrado são ambientes savânicos, quentes, com períodos de calor intenso”.
Os tipos de substratos – ou seja, o solo em que a semente irá germinar na sementeira, nos tubetes, saquinhos ou vasos – também devem ser levados em consideração. De acordo com o pesquisador, a quantidade de adubo no solo deve variar de acordo com a origem de cada espécie e suas características: “plantas que nascem próximas a córregos e rios têm maior fertilidade e disponibilidade de água. Já as do cerrado, por exemplo, vêm de solos menos férteis, então trabalhamos um substrato com menor adubação, mais próximo do solo onde elas nascem”.
Construção do viveiro – Para se instalar o viveiro em que as plantas vão se desenvolver é preciso definir a área em que ficará a estrutura. “Precisamos ter acesso a água, luz e um local protegido do vento”, conta. Também é preciso ter cuidado com a presença de doenças e pragas, como as formigas cortadeiras. “Às vezes, elas acham um pequeno vão e entram. Temos que achar os ´olheiros´ delas e fazer o controle antes de iniciar a construção. Isso também vale para as áreas de plantio das mudas, que precisam ser controladas três meses antes de serem transplantadas”, afirma.
Saber se o viveiro será permanente ou temporário é outro fator importante que ajuda a definir, por exemplo, o orçamento disponível para a construção. “O viveiro será temporário se só for usado para atender a uma demanda específica. Nesse caso, a gente instala uma estrutura mais simples, que pode utilizar bambu e madeiras mais baratas, arame, irrigação a partir de regadores ou com aspersores simples”. Os custos dos viveiros temporários também são menores: é possível construir um com cerca de R$ 500, diz Norton. Já os permanentes, mais caros, podem custar acima de R$ 5.000, em média.
Pragas e doenças – Os cuidados com pragas e doenças começam na escolha e separação das sementes e mudas. “Selecionamos mudas maiores e menores para fazer lotes uniformes, descartar plantas doentes, que não crescem, estão com defeitos. Elas precisam ser tiradas do viveiro porque dão problemas no campo, são mudas com menor vigor”. Entre as pragas mais comuns estão os pulgões, cochonilhas, lagartas desfolhadoras e formigas cortadeiras. “O viveiro é selado justamente para evitar a entrada delas”, conta Norton. “Quanto melhor a nutrição das plantas, menos suscetíveis elas são ao aparecimento de doenças. As espécies nativas são bastante resistentes porque já passaram por uma seleção natural ao longo do tempo”.
Recomendações gerais – No geral, prestar atenção ao estado das sementes, das mudas e do ambiente são fundamentais para o sucesso do trabalho, afirma Norton. “O cuidado começa com a obtenção das sementes de boa qualidade. Dentro do viveiro, é preciso ser um bom observador, cuidar das mudas no dia a dia – especialmente no período mais quente, vendo se elas realmente estão recebendo água, se está molhando todo o substrato dentro da embalagem, se a irrigação está bem distribuída. Caso algumas plantas fiquem murchas durante as horas mais quentes, pode ser que elas não estejam recebendo tanta água. Se dermos nutrição e água suficientes, vamos produzir boas mudas”, finaliza.
O curso “Coleta, conservação de sementes, produção de mudas e estratégias de restauração ecológica nos Biomas Pantanal e Cerrado” é uma realização da Embrapa Pantanal, Embrapa Cerrados, Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e John Deere. O Projeto Biomas é fruto de uma parceria entre a Confederação Nacional de Agricultura e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), SEBRAE, Monsanto, John Deere e BNDES.
Por Embrapa