O Cerrado brasileiro é responsável atualmente pela maior parte das fibras e dos alimentos que o Brasil consome e exporta. E um dos fatores determinantes para o sucesso da produção de grãos nessa região foi a adoção de tecnologias geradas pela pesquisa agropecuária nas últimas décadas relacionadas de maneira especial à adubação fosfatada. Contudo, a eficiência do uso de fertilizantes fosfatados é considerada baixa, em função, principalmente, do manejo inadequado do solo e de problemas relacionados à adubação. Especialistas calculam que nos últimos 30 anos os agricultores tenham depositado nos solos brasileiros cultivados com grãos 300 quilos de fósforo por hectare em excesso, ou 10 quilos por hectare a cada ano, o equivalente a 54 bilhões de reais acima daquilo que é recomendado para correção do solo.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados, Djalma Martinhão, especialista em fertilidade de solos, a diminuição desse gasto pelo produtor terá um impacto bastante positivo no custo da lavoura, na medida em que o que se gasta com fósforo representa 20% do valor do custeio. Esse tema se torna ainda mais importante, pois tem se observado nos últimos anos uma alta nos preços dos fertilizantes fosfatados. “Enquanto o calcário custa 50 reais a tonelada, o fertilizante fosfatado custa 1500 reais. São 30 vezes mais”, enfatiza o pesquisador. Além disso, as reservas de rochas fosfáticas no mundo são finitas e possuem uma duração estimada de cerca de 300 anos. Outro fator que agrava o problema é que esse excesso de fósforo no solo pode aumentar o potencial de contaminação de águas fluviais.
“Nos últimos 30 anos, a média de eficiência nas 18 principais culturas agrícolas tem sido de apenas 52%. Nosso objetivo é trabalhar para que esses valores atinjam 90%”, afirmou Martinhão. Se a estimativa é de que 65% dos solos no Brasil, em condições naturais, sejam altamente deficientes em fósforo (P), no Cerrado essa porcentagem é ainda maior, sendo impossível produzir nessa região sem adubação fosfatada (veja ao lado imagem do milho, com fósforo e sem fósforo). É no centro-oeste que se produz 94% do algodão, 55% da carne e 49% do milho e da soja do país.
Aumento da eficiência – “O manejo adequado da adubação fosfatada associado a tecnologias como o plantio direto, rotação de culturas, plantas de cobertura e sistemas de integração (ILP, ILPF) irá proporcionar ganhos em eficiência necessários para a garantia da sustentabilidade agropecuária”, afirmou o pesquisador da Embrapa Cerrados, Rafael Nunes, especialista em fertilidade de solos. Mas, afinal, como o produtor deve manejar o solo a fim de aumentar a eficiência do uso de fertilizantes fosfatados?
Segundo os especialistas, muitas áreas apresentam fósforo sobrando no solo, e é possível utilizar de forma técnica e econômica esse fósforo acumulado. “Existem técnicas para isso e a resposta está no manejo adequado do solo, dentro do conceito de fertilidade integral. Temos que olhar a física, química e biologia do solo, ou seja, a vida do solo como um todo. É o único jeito de conseguir alcançar esse nosso objetivo que é trabalhar com maior eficiência”, afirmou o pesquisador Rafael Nunes.
Segundo ele, as técnicas que existem muitas vezes são até muito divulgadas, mas pouco praticadas da maneira correta pelos agricultores. É o caso da calagem, por exemplo, que corrige a camada superficial do solo. “O uso do calcário favorece a eficiência do fertilizante fosfatado. Na verdade, tudo o que se fizer no sistema para promover o crescimento radicular da planta promoverá ganhos de eficiência em termos de adubação fosfatada”, explica. E o mesmo ocorre com o gesso, responsável por corrigir a camada mais profunda do solo. “O fato é que se as raízes das plantas ficarem na superfície, a camada superficial seca mais rápido. Sem água disponível, a absorção de fósforo cai muito”, explica.
Outro ponto importante é a questão dos critérios de recomendação. Na opinião do pesquisador se faz necessário o aprimoramento constante de recomendação da adubação fosfatada, com enfoque em práticas que promovam maior eficiência do uso de fósforo. As últimas tabelas lançadas inclusive já consideram o teor de fósforo orgânico no solo. “O produtor pode ficar até 10 anos sem adubar o solo com fósforo e ele (fósforo) aumentar. Isso ocorre pois, às vezes, o maior supridor de fósforo para as plantas nessas condições é o fósforo orgânico”, explica o especialista. Outra forma de aumentar a eficiência dos fertilizantes fosfatados é valorizar a amostragem do solo. “Se os resultados não são adequados, tudo pode ficar comprometido”.
Práticas adequadas de aplicação do fósforo no solo também merecem ser destacadas quando o assunto é eficiência. “A forma usual de aplicação do fósforo é no sulco de plantio. Porém, os resultados de pesquisas demonstram a viabilidade da aplicação a lanço, quando já foi feita a adubação corretiva, com vantagens operacionais de plantio”, explica o pesquisador Djalma Martinhão. Segundo ele, em ensaios de longa duração (de 15 a 20 anos), com deficiência hídrica ou sem, com aplicação de diferentes doses de fósforo feita a lanço na superfície do solo em plantio direto, tanto a soja quanto o milho obtiveram produtividades semelhantes com adubação a lanço.
Com relação às fontes de fósforo, o pesquisador observou que fontes de menor solubilidade, como o fosfato natural reativo, são uma possibilidade interessante, principalmente para adubação corretiva, embora a comercialização no Brasil seja limitada. “Caso se opte pela utilização destas fontes na adubação anual de manutenção, sua aplicação deve ser feita antecipadamente e a lanço, favorecendo sua solubilização e disponibilização para as culturas. No entanto, cada fonte deve ser analisada particularmente, devido as diferenças de potencial de solubilização”, ressalta.
De acordo com os especialistas da Embrapa Cerrados, as indicações de doses na adubação fosfatada de manutenção para se obter elevada produtividade das culturas e máxima eficiência estão bem definidas e a disposição do agricultor. No entanto, estudos estão sendo realizados buscando ajustar a recomendação para sistemas de produção mais intensificados e levando em consideração o fósforo já acumulado no solo e o fósforo residual no solo após cada cultivo. “Esse ajuste dependerá do histórico de manejo da área e da qualidade do sistema de manejo atualmente adotado pelo produtor”.