Os altos custos de produção e as dinâmicas de mercado devem continuar, ao longo dos próximos meses, a pressionar as margens dos produtores dedicados à bovinocultura de corte. Em razão disso, especialistas do setor ressaltam a necessidade de o pecuarista implantar mecanismos eficientes de gestão, contemplando a propriedade como um todo
As análises foram apresentadas na reunião da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP, nesta segunda-feira (29). O evento contou com palestras do especialista em gestão Luciano Araújo, da empresa Terra Desenvolvimento Agropecuário, e de Maurício Velloso, presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon).
“Muito se fala das turbulências que estamos vivendo agora. Vocês vão achar que esse momento foi ‘café pequeno’, coisa de pouca monta. As turbulências serão bem mais radicais. A nossa constante será a inconstância”, definiu Velloso.
Por um lado, o presidente da Assocon mencionou barreiras comerciais – “travestidas de barreiras ambientais, técnicas ou sanitárias” – como elementos que devem continuar interferindo de forma aguda na atividade. Por outro lado, Velloso projeta que o Brasil deva assistir, nos próximos meses, a inversão do ciclo pecuário, com maior oferta de animais de reposição, preços em queda e fêmeas colocas para abate. Ele ressaltou que o bovinocultor de corte deve estar de olho no mercado e na gestão de sua propriedade para tomar decisões acertadas.
“Temos uma demanda interna que não é espetacular, mas é forte. E forte o suficiente para enxugar o maior segundo giro de confinamento que já tivemos. Mas esse estoque está acabando. É preciso que os animais novos tenham pastagem de qualidade e suplementação para serem terminados. E não vão ser terminados no primeiro semestre [de 2022]”, observou. “Nosso desafio reside na capacidade de produzir o melhor que pudermos em termos de custos”, destacou.
Velloso também apresentou dados de mercado que expõe a compressão das margens do produtor. Segundo os cálculos, na década de 1980, com a arroba negociada a uma média de R$ 407, o produtor obtinha um lucro líquido de R$ 779 por hectare. Essa relação foi piorando ao longo dos anos. Entre 2016 e 2020, a arroba esteve num patamar médio de R$ 248 e as margens despencaram para R$ 205.
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Gestão
Araújo, por sua vez, ressaltou alguns indicadores de gestão em que o produtor não pode perder o foco. Dentre eles, o especialista destaca o ganho médio diário (GDM) e o desembolso com cabeça. Os produtores com melhores remunerações obtiveram um resultado operacional anual de mais de R$ 2 mil por hectare e que esses rendimentos correspondam a uma média de 6,5% do patrimônio da terra e 25% do valor do rebanho. Paralelamente, ele reforçou a importância de o pecuarista fazer a gestão “da fazenda, como um todo”.
“Mais do que pensar no bem produzido, o pecuarista tem que trabalhar os resultados da fazenda. Se meu negócio é a pecuária, meu principal ativo não é o boi, é a fazenda” afirmou. Ao mesmo tempo, ele reforçou a importância de o pecuarista fazer a gestão “da fazenda, como um todo”.
Araújo também apresentou referências para as relações de desembolso. Do total que o bovinocultor de corte empenha para manter a produção, em média, 23,7% devem ser destinados aos insumos do rebanho e 11,3% a pastagens e máquinas. Demais desembolsos se concentram em mão de obra (7,4%), administração e impostos (4,4%), manutenção da fazenda (5,3%) e outros (0,4%). O especialista também orientou os produtores a buscarem sempre o equilíbrio do que chamou de “três caixas”: dinheiro, rebanho e pasto.
“Em alguns momentos, o pecuarista vai ter que reduzir o rebanho, se ele tiver, por exemplo, algum problema de pasto. Essa redução de rebanho é momentânea e fortalece o caixa. Quem manda nessa tomada de decisão é o dinheiro. Tem que buscar esse equilíbrio”, disse.
O presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP, Rodolpho Botelho, ressaltou a preocupação dos produtores paranaenses com os custos de produção e a necessidade de o bovinocultor afinar a gestão de suas respectivas propriedades para manter o negócio rentável. “Os custos estão subindo cada vez mais, com alimentação, sal mineral e sementes de pastagens em alta. Temos que trabalhar bem para não termos problemas lá na frente”, avaliou. “Temos um mercado interno gigantesco, mas que está com baixo poder aquisitivo. Temos perspectivas de novos mercados internacionais, mas os embargos recentes da China bagunçam um pouco o mercado. Então, temos que fazer tudo certo da porteira para dentro”, acrescentou.
Fonte: CNA
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