As margens de produtores brasileiros de soja tendem a ser menores do que as inicialmente projetadas em razão da depreciação do dólar ante o real, enquanto os preços internacionais poderiam subir com um eventual acordo entre Estados Unidos e China para encerrar disputas comerciais
Isso de alguma forma ajudaria o setor de soja no Brasil, compensando em parte uma queda do dólar, avaliou nesta terça-feira o diretor de Agronegócios do Itaú BBA, Pedro Fernandes, durante apresentação do cenário do mercado em evento em São Paulo.
Apesar da queda do dólar, que interfere na formação dos preços em reais, os patamares seguirão atrativos para geração de caixa no atual ciclo 2018/19, acrescentou Fernandes.
Sojicultores estão, atualmente, semeando a nova safra. Pelas expectativas do governo, a área poderá bater em um recorde superior a 36 milhões de hectares.
Por efeito da disputa comercial entre Estados Unidos e China, os produtores contaram neste ano com boas vendas ao mercado chinês, tradicionalmente o maior importador de soja do Brasil. Os chineses pagaram prêmios para o produto brasileiro, uma vez que taxaram o grão norte-americano.
Soma-se a isso um dólar valorizado por causa das eleições no país, o maior exportador global da oleaginosa, e o que se viu foram margens bem fortes para os produtores neste ano.
Mas, com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), que se posiciona como mais pró-mercado, a moeda norte-americana acumula queda —o que sinaliza uma receita potencialmente menor com as vendas da commodity, principal item da pauta exportadora do Brasil.
“Antes a gente imaginava uma margem em linha com a média de quatro anos. A implantação está sendo feita com qualidade, com bom volume de chuvas. No entanto, a queda do dólar afeta a receita. Isso pode reduzir a margem”, comentou Fernandes no intervalo de evento sobre agronegócios em São Paulo.
Em agosto, o Itaú BBA estimava uma margem de cerca de 1.400 reais por hectare plantado com soja em 2018/19, já abaixo dos mais de 2.000 reais vistos em 2017/18 em virtude de custos maiores com fertilizantes e pesticidas.
Agora, com o movimento cambial, a expectativa é de que essa margem gire ao redor de 1.200 reais, calculou Fernades.
“Ainda é uma safra bastante rentável, embora a margem seja desigual regionalmente… Percentualmente, regiões mais distantes sofrem mais”, afirmou, citando com exemplo Mato Grosso, principal produtor nacional de soja, mas que enfrenta custos maiores para levar a colheita até os portos exportadores.
Na véspera, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) relatou que as vendas antecipadas de soja do Estado avançaram apenas 1,86 ponto percentual no último mês, para 35,73 por cento do total previsto na temporada 2018/19. O motivo apontado foi a queda do dólar, e agora a comercialização está abaixo do observado para esta época do ano.
EFEITO CHINA
Fernandes acrescentou que uma eventual resolução das disputas comerciais entre Estados Unidos e China não necessariamente seria algo desfavorável para o Brasil, que pode exportar um recorde superior a 80 milhões de toneladas de soja neste ano graças, justamente, ao apetite chinês, segundo informações do mercado.
China e Estados Unidos devem tratar sobre questões relacionadas à disputa comercial ao final do mês, por ocasião da reunião do G20, na Argentina.
Conforme ele, sem a guerra comercial, poderia haver recuperação dos preços da commodity na Bolsa de Chicago, permitindo aos produtores brasileiros fazer “a gestão de risco de preços”, com a utilização de hedge.
Neste cenário, contudo, o Brasil venderia um menor volume de soja do que neste ano.
Pelas previsões do governo, o Brasil pode produzir mais de 119 milhões de toneladas de soja em 2018/19. A colheita começa em geral no fim do ano, mas neste ciclo, dado o plantio avançado, há quem espere o início dos trabalhos ainda em meados de dezembro.
Por José Roberto Gomes
Fonte: Reuters