A pesquisa sobre controle biológico de pragas foi apresentada na última quinta-feira (5) pela pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Rose Monnerat, em audiência pública promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCbio), o número de defensivos biológicos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) saltou de um único produto, em 2008, para 220, em 2019, com 41 princípios ativos disponíveis. A expectativa é que o setor cresça três vezes mais até 2025, com um mercado bastante promissor. Na Embrapa, são 147 pesquisadores, distribuídos em 36 Unidades, atuando em 254 projetos na área.
A audiência teve a participação de representantes do mercado de bioinsumos no Brasil, por meio da ABCBio, e do Mapa, por meio da Coordenação de Bioinsumos e Recursos Genéticos para Alimentação e Agricultura do Departamento de Inovação.
“Trata-se de um debate que muito interessa ao País, num momento em que se discute o uso de agrotóxicos e a qualidade dos alimentos, uma vida mais saudável. É um assunto que interessa a todos”, destacou o presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP). Além da pesquisadora da Embrapa, participaram dos debates a diretora da ABCbio Amália Piazentim Borsari e a representante do Mapa, Mariane Vidal.
Durante a audiência, o ministério anunciou a criação do Programa Nacional de Bioinsumos. “O programa vem num momento muito adequado, tendo em vista o acelerado crescimento do setor. Uma das ações será trabalhar o marco regulatório dos produtos fitossanitários. Vamos buscar identificar atores, gargalos e problemas, sempre num diálogo com o setor produtivo, a pesquisa e o consumidor”, destacou Mariane Vidal.
Ela disse que o objetivo é ampliar e desenvolver o setor. “O primeiro passo é mapear o estado da arte dos bioinsumos no País, a partir do que já temos”. A expectativa é lançar o programa até o final do ano. Para isso, o Mapa contará com a participação do setor produtivo e da Embrapa.
“Cada vez mais agricultores estão querendo conhecer melhor o controle biológico”, destacou Rose Monnerat. A pesquisadora ressaltou que a Embrapa regularmente promove cursos para empresas e agricultores e lançou um manual de controle de qualidade para uso de insumos biológicos.
No começo deste ano, pesquisadores da Empresa participaram de uma missão na África, entre eles Ivan Cruz, da Embrapa Milho e Sorgo, líder do portfólio sobre o tema.
Controle biológico é parte da agricultura moderna
O controle biológico é definido como o uso de organismos vivos para suprimir a população de uma praga específica, tornando-a menos abundante ou danosa. Pode ser feito a partir do uso de insetos, ácaros, nematóides, bactérias e vírus que interagem com a cultura para combater as pragas.
“Nosso desafio é dobrar a produção de alimentos até 2050, com menos recursos e de forma sustentável. Para isso, a agricultura precisará lançar mão de ferramentas estratégicas para atingir esse objetivo, e o controle biológico é uma delas”, explicou a representante da ABCbio, esclarecendo, ainda, que o controle biológico é uma estratégica do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
A representante da ABCbio disse ainda que é comum pessoas associarem o controle biológico à produção de orgânicos e para uso em pequenas propriedades. No entanto, a tecnologia vai muito mais além, sendo utilizada por grandes culturas como soja, algodão e café. O grande desafio é tornar o produto mais conhecido. Pesquisa realizada pela ABCbio com 1700 agricultores apontou que apenas 40% dos entrevistados conheciam a tecnologia.
Etapas do controle biológico
Durante a audiência, Rose Monnerat falou sobre os cuidados necessários e os investimentos para garantir a qualidade de cada etapa de produção de um insumo biológico. O primeiro passo é selecionar o micro-organismo, que é coletado da biodiversidade. “A Embrapa possui uma importante coleção de micro-organismos, retirados a partir de coletas da biodiversidade. São mais de 10 mil cepas de bactérias armazenadas no nosso centro de recursos biológicos”, explicou.
O passo seguinte é a fermentação, onde o micro-organismo será alimentado. É preciso escolher os meios e as condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Depois, faz-se a formulação, com a escolha de um princípio ativo adequado para garantir a sobrevivência. Depois de pronto, o produto entra na fase de registro junto ao Mapa e Anvisa.
Segundo a pesquisadora, as vantagens do uso de bioinsumos na agricultura são inúmeras, entre elas sua eficácia e especificidade: “para combater cada praga desenvolve-se um produto específico. Eles não causam poluição e é pouco provável o surgimento de pragas resistentes”, afirmou.
Amália Piazentim diz que são mais de 20 empresas de controle biológico associadas à ABCbio. Para ela é importante que o setor produtivo tenha um olhar específico sobre a tecnologia, incorporando-a no âmbito da agricultura 4.0 e investindo mais recursos na pesquisa.