O jornal Washington Post publica essa semana uma reportagem apontando problemas na produção do chamado leite orgânico nos Estados Unidos. A empresa Aurora Organic Dairy, que possui um grande complexo de pastagens e confinamentos com mais de 15 mil vacas em Greeley, estado do Colorado, produz leite suficiente para suprir as marcas Walmart, Costco e outros grandes varejistas.
“Nós tomamos com muito orgulho o compromisso com o orgânico e nossa habilidade de cumprir com os rigorosos critérios das regulações orgânicas do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos)”, propagandeia a Aurora.
Por outro lado, o Washington Post afirma que “um olhar mais próximo para a Aurora e outras grandes operações destaca uma fraqueza crítica no pouco ortodoxo sistema de inspeção que o Departamento de Agricultura usa para certificar que a comida é realmente orgânica”.
O mercado de orgânicos dos Estados Unidos atualmente tem mais de US$ 40 bilhões em vendas anuais e inclui produtos importados de mais de 100 países. Para fiscalizar as regras desta vasta indústria, o USDA permite aos produtores pagar e contratar seus próprios inspetores para certificar como “Orgânico USDA”. Os defensores da indústria dizem que a fiscalização é “robusta”.
Com o leite, um tema crítico é a pastagem. Os preceitos para a produção orgânica de leite indicam que as vacas devem poder pastar durante o tempo de crescimento – não devem ser confinadas a estábulos ou outras instalações. Esse método é considerado mais natural e alteraria os constituintes do leite de uma forma na qual os consumidores julgam benéfica.
A Aurora afirmou que a maioria dos animais ficam fora dia e noite para pastar, mas durante as visitas do Washington Post o número de vacas pastando não ultrapassou algumas centenas. Em nenhum ponto havia mais de 10% do rebanho fora. Uma foto de satélite de alta resolução tomada na metade de Julho pelo Digital Globe mostrou uma imagem típica – apenas algumas centenas pastando.
Em resposta, a porta-voz da Aurora, Sona Tuitele, disse que a situação nas visitas do Post foram anomalias: “Os requisitos do Programa Nacional Orgânico do USDA permitem uma grande variedade de práticas de pastagens”.
O leite da Aurora também indica que as vacas não pastaram como requerem as regras de um orgânico. Testes conduzido para o Post pela faculdade Virginia Tech mostram que uma prova chave demonstrou que tratava-se de leite convencional, como em outras 2.000 amostras, não orgânico. A porta-voz afirmou que os testes podem ser resultados isolados.
Finalmente, o Post contatou inspetores que visitaram o tambo da Aurora e o haviam certificado como “Orgânico USDA”. Eles conduziram uma auditoria anual depois da temporada de pastagem – em Novembro. Isso significa que durante a auditoria anual os inspetores não teriam visto se as vacas realmente pastaram como previsto.
“Nós esperaríamos que os inspetores fossem ao local durante a temporada de pastagem”, admitiu Miles McEvoy, chefe do Programa Orgânico Nacional do USDA. Ele afirmou que os requisitos de pastagem “são uma conformidade crítica de uma operação pecuária orgância”.
No caso do leite, os consumidores pagam mais – em muitos casos o dobro – quando a caixa diz “Orgânico USDA”, na crença de que estão levando algo diferente. As vendas de leite orgânico nos Estados Unidos somaram US$ 6 bilhões no ano passado.
Problemas não são novos
Há cerca de 10 anos, um grupo de consumidores denunciou a Aurora e o USDA multou a companhia por uma violação intencional dos padrões orgânico, onde parte da multa foi para os demandantes. Mas não houve nenhuma punição além dessa.
Em visitas a sete grandes operações orgânicas do Texas e do Novo México, um repórter do Post presenciou locais de pastagem igualmente vazios. Nessas fazendas, o agravante é que não foram realizados nenhum teste químico.
“Mais da metade do leite orgânico vendido nos Estados Unidos vêm de operações muito grandes que não tem intenções de seguir os princípios orgânicos”, disse Mark Kastel, do Instituto Cornucopia, uma associação que representa produtores orgânicos de Wisconsin.
O “Orgânico USDA” foi criado em 2000 como selo de qualidade nas embalagens de comidas nos Estados Unidos. De lá para cá, o mercado de orgânicos cresceu de US$ 6 bilhões para US$ 40 bilhões em 2015.