Frango: reajuste testa demanda interna

A disparada dos grãos que compõem a ração achatou as margens de lucro das agroindústrias processadoras de frango, desafiando a capacidade dos frigoríficos de repassar a alta de custos ao consumidor. A explosão dos preços de farelo de soja e milho, que chega a ser comparada por analistas ao problemático ano de 2016 – quando o milho no Brasil disparou prejuízos históricos -, só será amenizada com a redução da produção, com a queda dos alojamentos de aves nas granjas ou com reajuste de preços.

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Ao Valor, um executivo graduado de uma das maiores agroindústrias de alimentos do país afirmou que, para recompor as margens da carne de frango, será necessário um reajuste de algo entre 15% e 20%. Mas há dúvidas no mercado se isso é possível, tendo em vista que o preço da proteína no atacado está bem próximo da máxima histórica em termos reais. “O aumento de preço tem um limite e achamos que está próximo”, afirmou Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank.

Por outro lado, há quem prefira o copo meio cheio. “O mercado interno está absorvendo [os reajustes]”, afirmou Ivan Lauandos, presidente da Aviagen na América Latina, empresa líder em genética avícola no país. Além da boa recepção dos reajustes promovidos, o quarto trimestre é normalmente o período de maior consumo no ano, o que pode dar sustentação aos preços, avaliou o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. O dirigente também comemorou a manutenção do auxílio emergencial, política que fortaleceu a demanda por frango e alimentos em geral na pandemia.

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Apesar dos preços mais altos, o frango também conta com a vantagem de ser a proteína mais barata na comparação com as carnes bovina e de porco. Neste ano, aliás, o brasileiro deverá comer mais frango em detrimento das outras proteínas, que ficaram bem mais caras em meio às restrições de oferta (os abates de bovinos estão caindo) e forte demanda da China. Segundo a ABPA, a disponibilidade interna de frango crescerá mais de 5% em 2020, ao passo que a oferta interna de carne suína ficará estável e a de carne bovina recuará.

A menor concorrência acabou ajudando a avicultura. Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco), José Paulo Kors, momentos de forte alta dos preços de soja e milho costumam gerar crises nessa indústria. Além disso, a exportação de carne de frango perdeu fôlego e vem caindo nos últimos meses. Nesse cenário, a sustentação dos preços do produto nos atuais patamares só ocorre devido à dinâmica do mercado interno. Soma-se a isso o sentimento das indústrias de que será possível promover novos reajustes de preços, acrescenta Lauandos, da Aviagen.

A visão positiva dos empresários da indústria está na contramão das avaliações de César Castro Alves, analista da consultoria de agronegócios do Itaú BBA. Para ele, só a redução da produção de frangos equilibrará as margens, que se deterioraram nos últimos meses. Para Alves, “o jeito mais lógico” de reajustar os preços seria com um ajuste na produção, mas não há sinais de que isso esteja acontecendo no país.

“A indústria sempre quer que o concorrente reduza primeiro a produção dele para o mercado se ajustar, mas a verdade é que não há porque a produção do setor estar tão esticada. Estamos preocupados”, afirmou o analista do Itaú BBA, que demonstra pessimismo com a rentabilidade da avicultura.

De fato, as estimativas de alojamentos de pintinhos de corte (espécie de indicador da produção futura de carne de frango) indicam aumento da oferta, ainda que o ritmo de crescimento venha em desaceleração. Em agosto, último dado disponível, os alojamentos cresceram 2,09% na comparação anual, de acordo com a Apinco. Como o período de engorda é de pouco mais de 40 dias, as aves alojadas em agosto chegarão ao mercado entre setembro e outubro.

“E tenho certeza que em setembro o alojamento vai vir maior”, acrescentou Alves. O risco de não ajustar a oferta é que, após a virada do ano, o auxílio emergencial acabe e, como janeiro é um mês de consumo sazonal mais fraco no Brasil e também na exportação à China, a indústria enfrente um quadro de sobre oferta e custos nas alturas – não há qualquer sinal de alívio no preço dos grãos no curto prazo -, espremendo a margem ainda mais.

De acordo com o analista do Itaú BBA, os indicadores de margem bruta (diferença entre o preço do frango e os custos de produção) já indicam problemas. Segundo ele, mesmo com o aumento do preço do frango vivo em setembro, as margens da criação de aves nos sistemas de integração ficaram mais apertadas. Para os exportadores, que têm o dólar a favor, o cenário também é desafiador por causa da forte desvalorização do preço do frango no mercado internacional. Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o preço médio da carne de aves exportada pelo Brasil chegou a US$ 1.356 por tonelada, queda de 16,6% em setembro, na comparação anual.

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Segundo cálculos de Alves, o indicador de margem bruta da criação de frango ficou negativo em 6% em setembro. Nas exportações, o spread (diferença entre o preço da carne de frango exportada e os custos de produção) encolheu. Em setembro, a diferença foi de 61%, pior patamar desde julho de 2016, disse o analista do Itaú BBA. Em abril, quando a forte valorização do dólar turbinou a rentabilidade da exportação, a diferença era de 105%.

Fonte: Valor Econômico

AGRONEWS BRASIL – Informação para quem produz

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