O bom ganho do gado foi conquistado na integração sem prejudicar o plantio direto e produção de soja.
Segundo seu fundador, o agrônomo Fernando Cardoso Penteado, a Fundação Agrisus vem apoiando a integração lavoura-pecuária (ILP) há vários anos, por entender que a prática é boa alternativa para produzir forragem no inverno após culturas de verão. Dentre as várias iniciativas apoiadas pela entidade está o Projeto Arenito do Vale, conduzido na Estância JAE, em Santo Inácio, no noroeste do Paraná, região que possui 4,2 milhões de hectares de solos arenosos, abertos na década de 1940 para plantio de cafezais e, durante muito tempo, considerados impróprios para lavouras de grãos.
Desde 2003, foram testados nessa propriedade, pertencente ao produtor José Américo Sichieri, mais de 40 diferentes sistemas de integração lavoura-pecuária, visando inicialmente à produção leiteira. Após oito anos de aferições contínuas, com apoio da equipe comandada pelos professores da Universidade Estadual de Maringá (UEM), constatou-se ser possível obter, de vacas girolandas mantidas exclusivamente a pasto, uma produção média de 2.000 litros de leite/hectare, ao longo de cem dias de entressafra, com introdução de Brachiaria ruziziensis em plantio direto após colheita da soja.
“Em 2015, considerando satisfatórias as avaliações com pecuária leiteira, decidimos testar a integração com gado de corte e também obtivemos bons resultados”, informa o agrônomo Fernando Sichieri, responsável pela execução do projeto. Novilhos Nelore PO, da linhagem Lemgruber, ganharam 1 kg de peso vivo/cabeça/ dia em pastagens de Brachiaria ruzizizensis após soja e garantiram produção de 350 kg ou 12,7@/ha em 102 dias de pastejo, sendo suplementados somente com sal mineral. Esse resultado superou a meta inicial da Agrisus, que era produzir 10@/ha no período.
O experimento também objetivou avaliar o efeito animal, tanto sobre a quantidade de massa forrageira disponível para plantio direto quanto sobre a produção de grãos. “Queríamos verificar se o pisoteio da área pelo gado e uma eventual compactação do solo poderiam (como sugerem alguns produtores) trazer prejuízos à lavoura, mas constatamos efeito contrário. A área de integração produziu mais soja do que a testemunha”, informa Sichieri.
Condições da pesquisa
O inverno de 2015 apresentou condições favoráveis ao experimento: temperaturas máximas de 25,1ºC e mínimas de 14,5ºC, poucos dias frios e precipitação média de 437 mm. Após a colheita da soja, a área foi subdividida em três piquetes de 2 ha cada e plantada com capim, no dia 27 de março, utilizando- -se sementes revestidas de Brachiaria ruziziensis, na proporção de 600 pontos de valor cultural/ha. Cerca de 20 a 30 dias após a semeadura, foi feita uma adubação em cobertura com 60 kg de nitrogênio/ha. Boas chuvas favoreceram a germinação, resultando em uma densidade média de 22 touceiras por metro quadrado. Foram feitas análises bromatológicas e medições em três estágios diferentes. Conforme relata Cardoso, no início do pastejo, o capim apresentava altura de 78 cm, com produção estimada de 5,08 t de matéria seca (MS)/ha, alto teor de proteína bruta nas hastes e folhas (13,8%) e boa digestibilidade (66,24% de NDT, nutrientes digestíveis totais).
Com o passar do tempo, porém, esse quadro foi mudando até que o capim chegou, no fim do pastejo, a 24 cm de altura, com oferta de 1,3 t/ha, 4,49% de PB e 54,94% de NDT. O experimento contou com três repetições, compreendendo seis animais cada, alojados em piquetes iguais, de 2 ha. Esses piquetes sustentaram lotações altas durante 102 dias (média de 3,72 UA/ha) e foram pastejados de forma contínua, apresentando (conforme já mencionado) uma oferta média inicial de 5,08 t de matéria seca/ha e resíduo pós-pastejo de 1,3 t de MS/ha, o que pressupõe um consumo estimado de 2,3% do peso vivo no período (3,8 t de MS/ha). Para ajustar a lotação à oferta de forragem, empregou-se o método de manejo conhecido como put and take (põe e tira). Ou seja, na fase inicial do experimento, quando havia oferta de capim superior à capacidade de consumo dos lotes em teste, foram introduzidos animais extras na área, para evitar sobra de capim, com consequente desperdício por acamamento.
Esses novilhos, pertencentes à fazenda, não foram inclusos nos cálculos de ganho de peso médio diário, que refletem apenas desempenho dos bovinos em teste.
Fonte: Revista DBO 432