A paralisação dos caminhoneiros, iniciada na segunda-feira (20/5), em protesto contra a política de reajuste do óleo diesel da Petrobras e pela isenção da contribuição de intervenção no domínio econômico (Cide), atinge praticamente todos os Estados e continua a prejudicar o agronegócio e o abastecimento.
Por conta disso, várias entidades representativas do setor manifestaram sua preocupação com o agravamento do quadro.
Em comunicado conjunto, enviado à imprensa nessa quarta-feira, Antonio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), e Ricardo Santin, diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), afirmaram que a greve dos caminhoneiros está impactando diretamente o setor produtivo de carnes em todo o País. “Ao todo, 129 unidades produtivas das empresas associadas de carnes bovina, suína e de aves paralisaram suas atividades hoje (23/5), com previsão de que, até a sexta-feira (25), mais de 90% da produção de proteína animal seja interrompida caso a situação não se normalize, somando mais de 208 fábricas paradas no Brasil.”
De acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e o Sindicarne-PR, a paralisação está prejudicando o abastecimento da população. “Recebemos queixas de caminhões transportando produtos perecíveis que estão parados em várias regiões do País”, afirma Péricles Salazar, presidente executivo dessas duas entidades. “São centenas de caminhões parados nas estradas com animais vivos, leite e produtos resfriados.” De acordo com o executivo, embora as duas entidades consideram (considerem) o protesto justo, a economia não pode parar por causa disso.
Segundo a Abiec e a APBA, em decorrência dos bloqueios nas rodovias, 25 mil toneladas de carne de frango e suínos deixaram de ser exportadas. Esse volume equivale a uma receita de US$ 60 milhões. No caso da carne bovina, cerca de 1200 containers deixam de ser embarcados por dia.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) informa que as suas associadas paralisaram diversas unidades industriais de processamento de soja, produção de farelo de soja, de óleo vegetal e de biodiesel em razão da impossibilidade do recebimento de matérias primas e do escoamento de produtos.
Em nota à imprensa, enviada também nesta quarta, a Abiove manifestou a preocupação de que a continuidade da greve prejudique ainda mais o abastecimento doméstico e as exportações e solicitou que as autoridades ofereçam soluções para resolver o problema, sob pena de prejudicar severamente as exportações agroindustriais brasileiras.
MINAS GERAIS
Na avaliação de Cláudio Faria, conselheiro da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig), os setores de criação de animais são os que mais sofrem com a paralisação dos caminhoneiros, pois se trata de uma cadeia verticalizada em que há interdependência entre todos os elos. Faria afirma que os municípios de Passos, Patrocínio e Visconde do Rio Branco tiveram de interromper a produção. “Desde terça-feira, cerca de 6 mil trabalhadores voltaram para as suas casas em função da falta de animais para abate”, afirma
Para Faria, é necessária a intervenção das autoridades no sentido de entender e resolver a situação o quanto antes para evitar um colapso maior. “O Brasil está perdendo espaço no mercado externo por problemas internos, estamos matando a galinha dos ovos de ouro, que gera mais de 4 mil empregos nas indústrias e no campo”, observa.
SÃO PAULO
Em São Paulo, a distribuição de hortifrútis começa a ser afetada. De acordo com a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), produtos como mamão, melão, batata, manga e melancia já estão chegando em menor quantidade porque os caminhões estão parados nas estradas.
Os supermercados também enfrentam problemas. Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), já estão faltando frutas, legumes e verduras, produtos de reposição diária. As entregas de carnes e embutidos também estão atrasadas.
SOJA E CANA
Entre os produtos agrícolas mais afetados pela greve estão a soja e a cana-de-açúcar. De acordo com Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT ), o comércio da oleaginosa está quase parado no Estado, por causa da dificuldade para transportar o grão. “Cerca de oito milhões de toneladas de soja estão retidas nos armazéns dos produtores rurais que não conseguem guardar o milho que começou a ser colhido”, afirma.
O setor sucroalcooleiro também está sentindo os efeitos da greve. Em comunicado, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) afirmou que algumas usinas do Centro-Sul reduziram a moagem. “Na quarta-feira, algumas unidades estavam paradas por falta de diesel e de peças, e outras começaram a reduzir o ritmo de moagem”, informou a entidade, em nota.
Por: Equipe SNA/ SP