No décimo fim de semana ininterrupto de protestos em Hong Kong, a polícia da região semiautônoma chinesa voltou a usar gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que bloquearam estradas e fecharam um dos principais túneis da cidade. Até o meio-dia (hora local) deste domingo (11), 16 pessoas haviam sido detidas por reunião ilegal, porte de armas e agressões a policiais.
Na sexta-feira (9), a polícia de Hong Kong informou que 592 pessoas já haviam sido detidas desde o início dos protestos, em 9 de junho, com idades entre 13 e 76 anos. Elas enfrentam acusações que podem levar a penas de até dez anos de prisão.
Seguindo um padrão estabelecido nos fins de semana passados, os protestos continuaram na noite de sábado (10), apesar da recusa da polícia em autorizar as manifestações.
O gás lacrimogéneo foi disparado contra uma multidão de cerca de mil pessoas num breve impasse noturno numa estação de trens suburbanos em Tai Wai.
Num incidente separado, a polícia lançou bombas de gás lacrimogéneo contra manifestantes que cercavam um posto policial no distrito de Tsim Sha Tsui, no lado norte do porto de Hong Kong.
Num outro bairro, a polícia antimotim voltou a lançar gás lacrimogéneo depois de manifestantes terem iniciado um incêndio à frente de um posto policial e atirado ovos contra o edifício.
Uma associação de pessoas de Hong Kong, originárias do sul da província de Fujian, reuniu-se em torno de postos da polícia para mostrar seu apoio à aplicação da lei e ao trabalho das forças de segurança.
Também no sábado, vários milhares de pessoas continuaram a protestar no aeroporto internacional de Hong Kong, um dos mais movimentados do mundo.
Os manifestantes entoaram palavras de ordem, montaram televisores para divulgar vídeos de protestos recentes e distribuíram panfletos que explicavam a polémica em torno das emendas à lei de extradição propostas pelo governo de Hong Kong e a exigência do eleições universais no território controlado pela China.
A contestação social começou em junho, desencadeada pela apresentação de uma proposta de alteração à lei da extradição, que permitiria ao governo e aos tribunais da região administrativa especial a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como a China continental.
A proposta foi suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora aquilo que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica. Eles exigem agora reformas eleitorais e a realização de um inquérito aos alegados abusos policiais.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respectivamente, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”, precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, em nível Executivo, Legislativo e Judiciário, com o governo chinês responsável por relações externas e defesa.
* Com informações da RTP, televisão pública portuguesa, e da Deutsche Welle, televisão pública da Alemanha