Estudo do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), descobriu que a resposta para transpor a barreira da limitação de rendimento da cana pode estar em um gene chamado ScGAI.
Quebrar a limitação de desenvolvimento da cana-de-açúcar de forma substancial pelo melhoramento convencional da cultura, por cruzamento de variedades, tem sido difícil. Apesar dos esforços internacionais em melhoramento, dos avanços na agronomia e no manejo eficaz de pragas e doenças, tem havido limitação de desenvolvimento do colmo.
Mas há uma luz no fim do túnel. Um estudo coordenado pelo professor do Departamento de Genética, Evolução e Bioagentes do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), Marcelo Menossi, descobriu que a resposta para transpor a barreira da limitação de rendimento da cana pode estar em um gene chamado ScGAI.
“Nós descobrimos que o gene ScGAI é um controlador chave do desenvolvimento da cana. Ele funciona reduzindo a velocidade do desenvolvimento dos entrenós (caule) da cana”, relata. “Ao diminuir o nível de atividade desse gene, nós conseguimos liberar o potencial de crescimento da cana, para que ela crescesse de uma forma mais rápida”, explica o coordenador do estudo.
Para chegar à descoberta pioneira, o professor contou com o apoio de estudantes de pós-graduação orientados por ele, além de colegas do Laboratório Nacional de Ciência e Biotecnologia do Bioetanol (CTBE, na sigla em inglês), do Sugar Research Australia e da Martin Luther University Halle-Wittenberg, da Alemanha.
Com a descoberta, Menossi acredita que cultivares com essa modificação tenham um desenvolvimento mais rápido. “Isso pode dar ao agricultor mais versatilidade no planejamento do ciclo de colheitas, pois seria uma variedade que atingirá a maturação mais rapidamente”, acrescenta.
PESQUISA
Em estudo feito durante um projeto vinculado ao Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen), eles constataram que o ScGAI é um regulador molecular chave do crescimento e desenvolvimento da cana.
Segundo o professor, foi feito um amplo estudo sobre genes que regulam o desenvolvimento em plantas. “Com isso, chegamos à conclusão que o gene ScGAI poderia ser um regulador chave. Os estudos disponíveis mostravam que altos níveis desse gene reduziam o crescimento vegetal. Nós então levantamos a hipótese que níveis reduzidos teriam o efeito oposto”, informa.
Segundo o professor, inicialmente, os pesquisadores identificaram e isolaram o gene e, depois, desenharam uma estratégia para produzir plantas de cana transgênicas com níveis reduzidos desse gene. “Os resultados mostraram que nossa hipótese inicial estava correta, pois as plantas apresentaram uma velocidade maior de desenvolvimento do colmo da cana”, comenta.
“A cana da qual alteramos a expressão do gene ScGAI se desenvolveu muito mais rapidamente. Isso abre a perspectiva de desenvolver uma variedade de cana-energia que amadureça mais rápido e aumente a produção de biomassa por unidade de tempo”, acrescenta Menossi.
GARGALOS
Os estudos que levaram a selecionar o gene ScGAI como alvo foram exaustivos. Isso porque a produção de plantas transgênicas de cana-de-açúcar é uma tecnologia dominada por pouquíssimos laboratórios. “Tivemos que juntar várias informações em diversas plantas para chegar à hipótese de que o gene seria um regulador chave da formação de colmos na cana”, afirma.
Menossi acredita que descobertas como essa podem pesar positivamente, contribuindo para derrubar as barreiras da transgenia, que ainda gera discussões entre os especialistas, em relação à sua saudabilidade, sanidade e eficácia alimentar.
“Após anos de uso da tecnologia dos transgênicos não houve qualquer problema de dano à saúde ou ao meio ambiente e os agricultores estão adotando essa tecnologia cada vez mais”, destaca o professor. Em sua opinião, uma tecnologia que acelere o desenvolvimento vegetal tem enorme potencial para reduzir o impacto da agricultura sobre o meio ambiente, pois aumenta a produtividade por unidade de área e de tempo. “No caso da cana, esse impacto positivo na sustentabilidade é maior ainda, pois se trata de uma cultura base para a produção de etanol, muito mais sustentável que os combustíveis fósseis”, avalia.
Ele informa que o próximo passo da pesquisa é realizar ensaios em campo para verificar se é possível comprovar os mesmos resultados obtidos com o cultivo das linhagens transgênicas com o gene manipulado em casa de vegetação.
Conforme Menossi, esse tipo de tecnologia mostra o potencial que existe no âmbito acadêmico do setor quanto à geração de inovações de conteúdo tecnológico. “Estamos abertos às colaborações com o setor produtivo para que esse avanço chegue ao campo e tenha um impacto econômico e ambiental benéfico para a sociedade”, arremata o especialista.
Equipe SNA/SP