Se houver menos recursos em bolsa de valores, ações de menor liquidez terão mais desconto e ficará mais difícil vendê-las. Veja também aqui a questão de menos taxas na importação de milho e a extraordinária situação do café, que já falta e faltará mais ainda à frente
Por Giovanni Lorenzon – Agronews®
Há praticamente dois anos mais que dobrou o número de investidores em bolsa de valores, a B3, esmagadoramente pessoas físicas. De olho nesses recursos, também, explodiu o número de empresas que abriram seu capital lançando ações no mercado.
Os primeiros procuravam fazer render seu capital, depois que as taxas de juros despencaram às mínimas inimagináveis, e os investimentos em renda fixa deixaram de ser atrativos.
Mas, desde o começo do ano, esses papéis, mais os títulos públicos, voltaram a atrair, sobretudo com as últimas elevações da Selic. A última há dois dias, para 6,25% ao ano (mais 1 pp), e que poderá ter alta para até 8,25% ao final de 2021.
É hora agora desses novos entrantes no mercado de ações ficarem mais atentos. Não esperem que seus agentes corretores façam o serviço para você.
Explicando melhor: vai encurtar o volume de recursos circulando na bolsa de valores e muitos papéis poderão começar a ter desconto, isto é, poderão cair, ficando abaixo dos valores que foram pagos na sua aquisição.
O foco está em muitas empresas estreantes, principalmente. Mesmo que elas estejam em mercados maduros, como no agronegócio – setor que teve um grande número de novas ofertas de ações -, elas não são maduras.
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Não que, necessariamente, elas não possuam uma boa gestão. Mas o fato de estarem presentes há pouco tempo nesse mercado, tem poucos papéis em circulação e sempre há o efeito manada contra elas, isto é, em momentos de incertezas, os recursos acabam indo para companhias mais sólidas e que dominam a movimentação de liquidez.
É verdade que, até por isso, suas ações não sofram tanta volatilidade, mas se a liquidez dessas empresas é baixa, fica mais difícil o investidor sair “dela”. Ou seja, para vender essas ações, ele vai ter que aceitar mais desconto ainda.
Pode-se até encontrar boas pechinchas, agora falando para aqueles que querem entrar no mercado ou diversificar o portfólio, mas também pode demorar muito para que seu capital seja remunerado.
Lembrando que a bolsa de valores entrou em um momento que perdeu o suporte de 120 mil pontos e está com viés de baixa, na esteira dos temores quanto à política e à economia brasileiras.
Há exceções, claro, caso da Raízen, a gigante de combustíveis, depois do maior IPO dos últimos tempos. Mas, como exceção, também é outra história.
Câmbio e tempo contra o PIS/Cofins zerado na importação de milho
O governo zerou até 31 de dezembro o PIS/Cofins nas importações de milho, para tentar ajudar na oferta do cereal para a produção de aves e suínos, principalmente, diante da escassez e preços altos.
Mas isso será para poucos. Os grandes frigoríficos – e alguns médios -, com sistema integrado com granjas, já exportam e se beneficiam do drawback – o regime especial que isenta de taxas importações de insumos que serão usados na preparação de produtos que serão exportados.
Portanto, se funcionar a medida provisória, vai servir para os pequenos que atuam no mercado interno.
Porém, há dois fatores não muito favoráveis.
O câmbio está muito alto e os PIS/Cofins zerado representa em torno de 11% dos custos. Não é pouco, mas se o dólar avançar para R$ 5,30, não vai funcionar, pela paridade.
A R$ 5,20 já é muito alto, como admite o presidente do Sindicarne de SC, Antônio Ribas, principalmente polo produtivo e exportador de aves e suínos.
O outro fator é o tempo. Com três meses de validade da MP, apenas, fica muito apertado para os importadores, porque, também para que possa compensar a importação, eles precisariam se juntar para formar uma boa carga, ao menos um navio.
Café: importação ou preços de mercado externo?
Já pensou se o Brasil ter que partir para condição inédita de ter que importar café?
Não é tão impossível assim, não. Os estoques até o final de ano deverão estar zerados e a produção baixa, em quebra de quase 20% nesta safra (para 55 milhões de sacas), ajudarão a esgotar o disponível.
Se não importarem, as torrefadoras terão que bancar a cotação externa do grão para segurar o café no Brasil.
E, nos dois casos, precisa combinar com o consumidor se ele vai conseguir pagar.
A explosão dos preços já é sentido nas gôndolas. A escassez do produto é brutal.
A ver.
AGRONEWS® – Informação para quem produz