Sem a configuração do La Niña por enquanto, vamos analisar os possíveis cenários do clima para novembro nas regiões produtoras do país.
O fenômeno La Niña, caracterizado por temperaturas abaixo da média na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental, impacta os padrões climáticos em todo o mundo, incluindo as regiões produtoras do Brasil. Em novembro de 2024, embora o La Niña ainda não esteja tecnicamente configurado, a influência do resfriamento do Pacífico na costa peruana já se fará sentir, exigindo atenção e preparação por parte dos produtores.
Situação atual do La Niña
Apesar de o Oceano Pacífico apresentar anomalias de temperatura características do La Niña, os requisitos para a declaração oficial do fenômeno pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos ainda não foram preenchidos. A NOAA estima uma probabilidade de 71% de La Niña para o trimestre outubro a dezembro, aumentando para 75% entre novembro de 2024 e janeiro de 2025. Entretanto, especialistas em meteorologia acreditam que a NOAA tem superestimado as chances do fenômeno e que, caso ocorra, será fraco, breve e no limite da neutralidade.
Possíveis cenários para novembro
Diante da indefinição, dois cenários são possíveis para novembro:
- La Niña fraco e breve: Configuração do fenômeno no final da primavera e início do verão, com impactos atenuados pelo possível aquecimento do Pacífico Leste na costa peruana.
- Neutralidade com anomalias negativas: O Pacífico permanece em neutralidade, mas com anomalias de temperatura do mar negativas, próximas aos valores de La Niña, sem a caracterização oficial do fenômeno.
Impactos do La Niña nas regiões produtoras
O La Niña, mesmo em sua forma mais branda, pode ter impactos significativos nas regiões produtoras do Brasil, com efeitos distintos em cada área do país:
Região Sul
- Diminuição da chuva: O La Niña historicamente causa redução das chuvas no Sul, especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em novembro de 2024, a ausência de um La Niña definido pode atenuar este efeito, mas ainda é esperado um volume de chuvas ligeiramente abaixo da média, com maior risco de estiagem prolongada.
- Ondas de calor: A diminuição das chuvas e o aumento da temperatura podem resultar em ondas de calor no interior do Rio Grande do Sul, meio-oeste de Santa Catarina e noroeste do Paraná.
- Irregularidade das chuvas: A segunda quinzena de novembro tende a apresentar menos dias com precipitação, aumentando a irregularidade das chuvas e a necessidade de planejamento por parte dos produtores.
- Temporais no interior: Apesar da tendência de diminuição geral da chuva, o risco de temporais no interior do Rio Grande do Sul e meio-oeste de Santa Catarina aumenta.
Região Sudeste
- Chuvas frequentes: A influência do La Niña, combinada com a temperatura acima da média da água do Atlântico Sul, favorecerá a formação de chuvas frequentes em todo o Sudeste.
- Eventos de chuva intensa no litoral: A água do mar mais quente aumenta o risco de eventos de chuva intensa no litoral paulista e fluminense.
- Alternância de temperaturas: A passagem de frentes frias pela costa causará grandes alternâncias entre períodos quentes e amenos.
Região Centro-Oeste
- Aumento da chuva: O La Niña tende a aumentar as chuvas no Centro-Oeste ao longo de novembro, especialmente no centro-sul e leste do Mato Grosso do Sul, sul de Goiás, Distrito Federal e sul/oeste do Mato Grosso.
- “Invernadas” no MT e GO: A formação de corredores de umidade pode resultar em “invernadas” (períodos de nebulosidade, chuva e pouca insolação) no centro-norte e leste do Mato Grosso e centro-sudeste de Goiás.
- Calor em áreas específicas: Apesar do aumento das chuvas, o calor ainda pode ser intenso no nordeste do Mato Grosso, norte de Goiás e centro-sul do Mato Grosso do Sul.
Região Nordeste
- Tempo seco e calor intenso: Novembro ainda será um mês predominantemente seco e com temperaturas elevadas na maior parte do Nordeste, especialmente no Maranhão, Piauí e Ceará.
- Aumento da chuva no oeste e sul da Bahia: O La Niña pode favorecer a formação de corredores de umidade que atingirão o oeste e sul da Bahia, aumentando as chuvas gradualmente ao longo do mês.
Região Norte
- Temperaturas acima da média: As temperaturas estarão acima da média, especialmente no Pará e Tocantins, com possibilidade de ondas de calor.
- Retorno das chuvas no AM, AC, RO e sul do PA: As chuvas retornarão com força e maior frequência ao Amazonas, Acre, Rondônia e sul do Pará.
- Chuvas irregulares no norte/leste do PA e TO: A chuva permanecerá irregular no norte e leste do Pará e no Tocantins.
De olho clima: Preparo do produtor para novembro
Diante das previsões e da incerteza em relação à intensidade do La Niña, o produtor deve se preparar para os possíveis impactos em sua região:
Sul
- Monitorar as previsões meteorológicas: Acompanhar de perto as previsões para tomar decisões estratégicas de plantio e manejo.
- Implementar práticas de conservação de água: Adotar técnicas de irrigação eficientes, plantio direto e manejo de solo para preservar a umidade.
- Diversificar culturas: Cultivar variedades mais resistentes à seca e diversificar a produção para reduzir os riscos.
Sudeste
- Preparar-se para chuvas intensas: Implementar medidas de drenagem para evitar alagamentos e erosão do solo.
- Proteger cultivos contra ventos fortes: Utilizar quebra-ventos e estruturas de proteção para minimizar danos às plantações.
- Ajustar o manejo de pragas e doenças: A umidade elevada pode favorecer a proliferação de pragas e doenças, exigindo atenção redobrada no manejo.
Centro-Oeste
- Aproveitar o aumento das chuvas: Planejar o plantio de acordo com a disponibilidade hídrica e implementar práticas de manejo para otimizar o uso da água.
- Prevenir erosão do solo: Adotar práticas de conservação de solo para evitar a perda de nutrientes e a degradação da terra.
- Monitorar a umidade do solo: Utilizar sensores e outras ferramentas para acompanhar a umidade do solo e ajustar a irrigação conforme necessário.
Nordeste
- Racionalizar o uso da água: Priorizar o uso da água para as culturas mais sensíveis à seca e implementar sistemas de irrigação eficientes.
- Adotar práticas de manejo para o calor: Utilizar sombreamento, cobertura morta e outras técnicas para proteger as plantações do calor intenso.
- Cultivar variedades adaptadas à seca: Priorizar o plantio de variedades mais tolerantes à falta de água.
Norte
- Monitorar os níveis dos rios: Acompanhar as previsões de chuva e os níveis dos rios para evitar perdas por enchentes.
- Adaptar o calendário agrícola: Ajustar o plantio e a colheita de acordo com o regime de chuvas e os riscos de inundações.
- Implementar práticas de manejo florestal sustentável: Adotar técnicas de manejo que preservem a floresta e os recursos hídricos.
Finalizando esta análise, podemos dizer que o produtor brasileiro deve estar atento aos possíveis impactos do La Niña, mesmo com sua configuração ainda indefinida, e se preparar para lidar com as condições climáticas adversas, adaptando suas práticas de manejo para garantir a produtividade e a sustentabilidade de suas atividades. Acompanhar as previsões meteorológicas, adotar medidas preventivas e buscar informações junto a órgãos de assistência técnica são medidas essenciais para enfrentar os desafios impostos pelo La Niña em novembro de 2024.
* Com informações da Climatempo e Metsul.
AGRONEWS é informação para quem produz