Preços serão divididos por faixa de produção e regionalizados de acordo com o município do produtor
Buscando refletir melhor a realidade da produção de leite no país e atendendo a uma demanda do setor, o Cepea começou a implementar mudanças em seu indicador de preço pago ao produtor. As principais novidades são a divisão dos preços por categoria de produção e o uso do município do produtor como base para os cálculos. “A produção de leite no Brasil é muito diversa e pulverizada, então você precisa de uma metodologia que consiga mostrar essa heterogeneidade, daí a ideia de estratificar, e que capte essa pulverização, por isso a regionalização pela cidade do produtor”, afirma Natália Grigol, pesquisadora do Cepea.
A partir de agora, em vez de receber dos laticínios apenas os preços médios, mínimos e máximos gerais, o Cepea passará a ter os dados brutos para fazer os cálculos internamente. “Tínhamos um trabalho grande de checar esses dados, porque os valores deveriam ser ponderados pelo volume captado [ou seja, preços pagos por volumes maiores têm peso maior na hora da conta], mas nem sempre esse entendimento era simples”, explica a pesquisadora. Com a mudança, a equipe do Cepea fará a ponderação, aumentando a precisão do indicador.
Os dados desagregados também permitirão que o indicador seja dividido em sete faixas de produção: até 200 litros/dia; 200 a 500 l/dia; 500 a 1.000 l/dia; 1.000 a 2.000 l/dia; 2.000 a 5.000 l/dia; 5.000 a 7.000 l/dia; e mais do que 7.000 l/dia. De acordo com Natália, a separação vai permitir que os números fiquem mais próximos da realidade. “O preço para um produtor que produz 100 litros por dia é diferente para o de 10 mil. Existe bonificação por qualidade e volume é um dos critérios. Trabalhando com essa estratificação conseguimos ter uma noção melhor de como é nossa amostra de produtores e o setor consegue diminuir os riscos da negociação”. É possível que, no futuro, o indicador fique ainda mais detalhado, com separação do valor da bonificação paga por qualidade. Isso dependerá, porém, da necessidade e possibilidade de receber os dados separados dessa forma.
Outra alteração é que os dados serão regionalizados de acordo com o município do produtor e não mais do laticínio. “Percebemos que, muitas vezes, as empresas têm raio de atuação maior do que a mesorregião em que estão instalados. Usar a localização da propriedade vai ajudar a mostrar melhor como é a questão da competitividade nas regiões e como são as oscilações de preços”, explica.
Para a pesquisadora, todos ganham com a evolução do indicador. “É importante para nortear a comercialização e reduzir os riscos. O laticínio e o produtor se beneficiam de ter uma fonte confiável dos preços de mercado”.
A equipe do Cepea já está trabalhando nesse novo molde de indicador, mas, por enquanto, apenas os laticínios que enviam os dados dessa forma recebem o modelo mais detalhado. O prazo para adequar totalmente o indicador é de seis meses a um ano e a instituição ainda não sabe exatamente como será a divulgação para o público geral – se serão divulgadas todas as faixas ou só parte delas, por exemplo -, ou se todas as faixas de produção serão mesmo mantidas nesses critérios. De acordo com Natália, a mudança foi viabilizada e financiada por meio de uma parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e com a Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos).
Com a mudança, o Cepea também espera aumentar o número de laticínios colaboradores, já que os dados serão recebidos com antecedência e os valores do indicador poderão ser liberados antes para quem contribui. Atualmente, o indicador coleta dados de 44% da amostra de comercialização de leite utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu relatório trimestral. “Essa proporção já é alta para um indicador, mas queremos aumentar ainda mais, porque sabemos da heterogeneidade e pulverização da produção de leite no país. E a divulgação com antecedência é um bom atrativo”.