Cada bacia leiteira apresentou situação diferente em função das variáveis captação, qualidade e competitividade
Junho foi um período de transição para o mercado lácteo: as altas de preços foram mais pontuais, enquanto os movimentos de estabilidade e queda ganharam mais força. De acordo com cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o preço líquido (que não considera frete nem impostos) do leite recebido pelo produtor em junho (referente ao entregue em maio) permaneceu praticamente nos mesmos patamares do mês anterior, chegando a R$ 1,2688/litro na “média Brasil” (compreende os estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Bahia) – leve queda de 0,39% (ou de R$ 0,005/litro). Já o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L/Cepea) registrou elevação de 0,8% entre abril e maio, na “média Brasil”.
Os resultados da “média Brasil” evidenciam um momento de transição, em que cada bacia leiteira apresentou uma situação diferente, em função das variáveis captação, qualidade e competitividade. Os preços do leite recebido pelos produtores no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais caíram devido à maior captação, justificada pelo clima favorável, bom volume de precipitações e início das pastagens de inverno no estado gaúcho. Por outro lado, o menor volume ofertado (característico da entressafra) em São Paulo aumentou a competitividade entre indústrias pelo leite, elevando a média paulista.
As cotações nos demais estados ficaram praticamente estáveis entre maio e junho, com variações menores que um centavo por litro. No Paraná e em Santa Catarina, houve elevação da captação dos laticínios e cooperativas amostradas. Entretanto, a competição entre empresas por leite e o maior pagamento por qualidade ajudaram a manter os preços em alta. Já em Goiás e na Bahia, a captação caiu, mas a menor qualidade e a dificuldade dos laticínios em repassar valorizações ao consumidor pressionaram as cotações.
Esses resultados, somados à pesquisa de derivados realizada pelo Cepea com o apoio financeiro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), sugerem que o período de transição para a desvalorização do leite recebido pelo produtor se iniciou. De acordo com a pesquisa de derivados, o leite spot na “média Brasil” já registrou queda de 2,1% da segunda quinzena de maio para a primeira de junho. Quanto ao leite UHT negociado nos atacados do estado de São Paulo, o valor recuou 3,8% de maio para junho. O varejo tem pressionado o atacado e as indústrias, refletindo a dificuldade em manter o ritmo de vendas.
Neste cenário, as expectativas dos agentes entrevistados em relação aos preços em julho demonstraram estar mais homogêneas do que em meses anteriores. A porção de agentes que acredita em queda se elevou para 67,8% (representando 87,9% do volume amostrado). Já a parcela que aposta em estabilidade caiu para 20% (10,7% do volume amostrado). A porcentagem de colaboradores do Cepea que espera altas caiu pela metade, chegando a 12,2% (com participação de 1,4% do volume).
Fonte: Cepea