O reconhecimento oficial da Organização Mundial de Saúde Animal – OIE, vai alavancar exportação de carne e leite do Estado, além da abertura de novos mercados mundiais.
Como publicado agora a pouco aqui no AGRONEWS, a Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) reconheceu nesta quinta-feira (27), na 88° Assembleia Geral, o município de Rondolândia e partes de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína, na região Noroeste de Mato Grosso, como zona livre de febre aftosa sem vacinação.
Em vídeo exclusivo ao portal AGRONEWS, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, comemora a conquista desta certificação e reconhece o trabalho realizado pelas entidades e produtores rurais mato-grossenses. “Mais um passo importante para nós que temos um grande rebanho bovino, o maior do Brasil, uma grande contribuição do nosso país na exportação de carne e na produção de alimentos. Tenho a certeza que continuaremos avançando com apoio dos órgãos de controle, mas também acima de tudo, com apoio de todos os pecuaristas do estado que tem feito um grande trabalho para tornar nosso território livre da aftosa sem vacinação.“, avalia Mendes.
Assista abaixo o depoimento completo do Governador Mauro Mendes.
Segundo O IBGE, o Mato Grosso segue na liderança, com 31,7 milhões de cabeças de gado, respondendo por 14,8% do rebanho nacional. Essa posição de destaque no ranking nacional torna-se ainda mais relevante para o Estado com o reconhecimento oficial nesta quinta-feira (27/5), pela OIE – Organização Mundial de Sanidade Animal, das zonas livres da Febre Aftosa sem vacinação.
Importância desta certificação para Mato Grosso
Mato Grosso alcançou esse status junto com o Paraná, Rio Grande do Sul, Acre e Rondônia. Com a conquista, a expectativa é que o Mato Grosso consiga alcançar mercados mais restritos, valorizando ainda mais seus produtos, como carne e leite, segundo avalia o auditor fiscal federal agropecuário (AFFA) e médico veterinário, Dieneson Bourscheid. Ele é o ponto focal no Estado para o Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PNEFA).
“No Mato Grosso, o que pôde ser notado logo de início desse trabalho de erradicação da doença sem vacinação foram as reduções dos custos produtivos, visto que duas etapas de vacinação que existiam deixaram de ser realizadas em determinados municípios“, esclarece Dieneson, sobre os resultados efetivos da erradicação da aftosa sem vacina no rebanho nos municípios de Rondolândia, e partes de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína. Segundo o auditor, apesar da pandemia, as atividades inerentes ao PNEFA – Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa, e à evolução do sistema não pararam. Dieneson espera que o Mato Grosso consiga retirar a vacinação como um todo, em 2022.
A região de Mato Grosso que vai ganhar status de livre da doença sem vacinação é formada por todas as propriedades do município de Rondolândia, que fica na divisa com Rondônia, mais quatorze de Juína, seis de Aripuanã, cento e vinte e três de Comodoro e as fazendas da margem esquerda do rio Roosevelt localizadas em Colniza. Esses municípios integram o bloco 1, juntamente com Rondônia e Acre. As propriedades realizaram a última vacinação contra a aftosa em novembro do ano passado.
De acordo com Dieneson, que é ponto focal desse trabalho no Estado, para atender às exigências do PNEFA o Mato Grosso foi dividido em duas regiões – uma pequena parte, que corresponde ao bloco 1, onde desde 2020 não se faz mais a vacinação contra a aftosa. E o bloco 4, onde ainda se pratica a vacinação. Nessas áreas, o Plano Estratégico do Mapa para alcançar o status nacional de país livre da febre aftosa sem vacinação é aplicado desde 2017 e teve hoje, o ponto alto, com o reconhecimento oficial desses dois blocos de municípios livres da doença sem vacinação.
O Plano Estratégico estipula que o Brasil deverá estar totalmente livre da Aftosa sem vacinação até 2026, e o o auditor Dieneson esclarece ainda que uma equipe enorme está envolvida nesse trabalho. E que para atingir os objetivos desse Programa, diversos profissionais realizam uma série de atividades junto à equipe gestora estadual do PNEFA, composta por órgãos de saúde animal do Estado, por representantes da iniciativa privada, associações, federações e demais entidades ligadas ao setor. Ele explica ainda que há diversas reuniões com esses públicos e que o papel do auditor fiscal federal agropecuário é acompanhar todas essas atividades, realizar auditorias nas unidades, acompanhar estudos sorológicos, estudos de prevalência, de vigilância e demais atividades que são desenvolvidas ao longo desses anos, de forma paulatina.
Assista abaixo o vídeo explicativo do Auditor Dieneson Bourscheid.
Avanços na defesa agropecuária do estado
Mato Grosso teve um avanço significativo com a implantação de barreiras nos municípios de Rondolândia e partes de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína, para que entrassem na Instrução Normativa nº 52, publicada em 14 de agosto de 2020 pelo Mapa, e fossem reconhecidos como livres de febre aftosa sem vacinação, por fazerem parte do Bloco I. “Mato Grosso e Rondônia tem um grande elo que seria difícil fazer uma divisão em cima da linha de divisa do estado. Nós conseguimos conter este trânsito, puxando pra dentro um pouquinho de Mato Grosso e colocando apenas 2 barreiras, pois utilizamos as barreiras naturais (Rio Roosevelt).”, explica o Coordenador de Defesa Sanitária Animal do INDEA-MT, Dr. Felipe Peixoto.
Ele ainda relembra que existem etapas importantes para serem cumpridas até alcançarmos a certificação total no estado. “Vamos seguir firmes trabalhando até conseguirmos o Mato Grosso todo fortalecido sanitariamente e com o status de livre de febre aftosa sem vacinação com a certificação internacional. A previsão aqui no estado é de continuarmos a vacinação até 2022, em 2023 suspenderíamos a vacinação e em 2024, se tudo ocorrer dentro do previsto, nós teremos a certificação total da OIE.“, esclarece Dr. Felipe.
Mato Grosso pode economizar mais de R$ 86 milhões por ano sem a vacinação
Uma redução de R$ 86 milhões por ano sem a vacinação, estes foram alguns dos resultados apresentados durante o 2º Fórum Estadual de Vigilância contra a Febre Aftosa “O caminho para tornar MT livre sem vacinação”, realizado nem outubro do ano passado (22), no auditório da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (FAMATO).
O chefe da Divisão de Febre Aftosa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Diego Viali dos Santos, apresentou números relacionados aos custos diretos do produtor em todo o processo de vacinação contra a febre aftosa em Mato Grosso. Segundo o especialista, o valor destinado à vacinação é de R$ 86 milhões por ano. Este levantamento levou em consideração os custos na aquisição da vacina (R$ 64 milhões/ano), somados às perdas no frigorífico provenientes das lesões da aplicação (R$ 19 milhões/ano) e perdas na produção de leite após a vacinação (R$ 3 milhões/ano). Vale lembrar que não foram incluídos outros custos/perdas como: manejo, custo de mão-de-obra, custo com material e outros.
Para ampliar o entendimento sobre a importância do estado de Mato Grosso no Plano Estratégico do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA), Diego faz um comparativo da população bovina de MT com outros países sul-americanos. “Se o Mato Grosso fosse um país, dentro da América do Sul, ele seria em tamanho de população bovina o segundo maior país.“, esclarece Diego.
Abertura de novos mercados
Com a mudança do status atual para livre de aftosa “sem vacinação”, a produção mato-grossense de carne, pode ter uma valorização de mais de 2 vezes no preço que é praticado na exportação, além do aumento no volume destinado a esta modalidade, com o acesso aos novos mercados estrangeiros. Isso é o que relata o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), Daniel Latorraca. Fazendo um comparativo com outros países, Latorraca mostra como estamos perdendo oportunidades financeiras com a manutenção da vacinação contra febre aftosa. “A Austrália atende estes mercados (Japão, EUA, Coreia do Sul e Tailândia), e nós estamos chamando a atenção, porque eles pagam mais pela carne. Quando a gente pega o preço médio do ano passado da carne bovina em MT – carne congelada $ 4 dólares/kg e a carne fresca ou refrigerada $ 4,76. Na carne congelada não tem grande diferença (apontando o gráfico comparativo), mas na carne resfriada o preço pago (para a Austrália) é quase 2 vezes o preço que hoje é pago à Mato Grosso.“, avalia o superintendente do IMEA.
Por: Márcio Moreira e Vicente Delgado – AGRONEWS