O Brasil tem boas expectativas quanto à reabertura do mercado norte-americano à carne bovina in natura do país, disse nesta terça-feira a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, às vésperas de sua viagem aos Estados Unidos em comitiva com o presidente Jair Bolsonaro
“Acho que é boa (a expectativa). Estamos levando, preparando aí toda uma documentação e vamos ver se se retoma aquela abertura já existente (no passado), para que todo o nosso parque de frigoríficos possa exportar para os EUA”, afirmou ela a jornalistas durante o congresso Anufood Brazil, evento do setor de alimentos e bebidas, em São Paulo.
Indagada sobre eventuais contrapartidas que o Brasil terá de assumir neste assunto, Tereza disse que não poderia comentar.
Os EUA suspenderam os embarques de carne bovina in natura do Brasil em meados de 2017, após alguns lotes com inconformidades, como abcessos (caroços), terem sido reportados por Washington.
O governo vem desde então tentando reabrir o mercado norte-americano, o que daria um status de segurança ao produto brasileiro vendido no exterior.
Além disso, havia expectativa do setor de que os EUA poderiam ser grandes compradores do produto do Brasil, que tem ampla oferta da carne de dianteiro do gado, usada para fazer hambúrguer, produto altamente consumido nos EUA.
Segundo Tereza, o Brasil apenas espera a “boa vontade” dos EUA após ter cumprido com tudo o que foi pedido pelos norte-americanos.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, tendo exportado um recorde superior a 1,6 milhão de toneladas em 2018, conforme dados da associação das indústrias exportadoras Abiec.
Além da carne bovina, outros temas que o Brasil colocará sobre a mesa nas conversas com os EUA serão a abertura daquele mercado ao açúcar nacional e as taxas sobre o etanol norte-americano.
Na véspera, entrevista da Reuters com o novo presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) mostrou que o setor demanda a análise sobre açúcar para se rediscutir a taxação do biocombustível dos EUA por aqui.
Tereza ponderou que não há, por ora, nenhuma sinalização de que Washington vai aceitar discutir esse tema.
PLANO SAFRA
A ministra da Agricultura afirmou ainda que não haverá mais alocações de recursos para o atual Plano Safra 2018/19, após recentes 6 bilhões de reais para pré-custeio e custeio, e que o objetivo é apresentar a programação de 2019/20 o “mais breve possível, para trazer tranquilidade, previsibilidade ao setor, que anda preocupado”.
Segundo ela, os ministérios da Agricultura e da Economia ainda estão negociando o Plano Safra 2019/20. Tereza não deu prazo para o anúncio.
“Não tenho dúvida de que nós teremos um Plano Safra, se não for aquele que a gente quer, mas nós vamos ter um Plano Safra bom… O governo do presidente Jair Bolsonaro sabe que o motor da nossa economia ainda está no agronegócio brasileiro”, afirmou.
Na véspera, em evento do setor no Rio Grande do Sul, a ministra disse que já estão garantidos os mesmos valores do atual Plano Safra para a próxima temporada. Mas ela ressaltou ter esperança de “ganhar um pouco mais”.
Inicialmente, o governo ofereceu 194,37 bilhões de reais para o Plano Safra 2018/19, o que não inclui 6 bilhões de reais anunciados recentemente.
Em Brasília, a ministra afirmou ao final do mês passado que a agricultura empresarial teria disponíveis no mínimo 200 bilhões de reais para financiamentos no novo Plano Safra.
Tereza reafirmou que trabalha por uma subvenção ao seguro rural de 1 bilhão de reais, após 600 milhões no ciclo vigente, e destacou que, “de repente, o Paulo Guedes (ministro da Economia), dá uma boa surpresa para a gente”.
Em sua avaliação, ao se ampliar o seguro rural, diminui-se a incerteza nas operações, o que pode contribuir para a queda das taxas de juros e maior participação de instituições privadas.
MAIS VALOR
A ministra da Agricultura disse que quer ver o Brasil agregar mais valor aos seus produtos exportados.
“Temos uma enormidade de produtos e de indústrias hoje, e a gente quer cada vez mais agregar valor aos nossos produtos. É claro que é muito bom sermos um grande exportador de soja, de milho, de algodão, mas se a gente puder agregar valor e industrializar aqui, começar de maneira mais intensa isso, acho que é muito melhor para o Brasil, pois daremos empregos aos brasileiros”, disse.
Entre outros assuntos, Tereza disse achar que a discussão sobre a mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o que poderia desagradar países islâmicos, importantes compradores de carne halal, “será postergada”.
Ela comentou ainda que fará viagem à China “em breve para mostrar que o Brasil é parceiro e que quer continuar sendo”.
Os comentários sobre a embaixada e o outro sobre a China ocorrem após inicialmente Bolsonaro ter indicado mudanças ou apontado a possibilidade de restrições à atuação de chineses no Brasil, especialmente na área de energia, o que assustou empresários do grande parceiro comercial brasileiro.
Por José Roberto Gomes/ Reuters