O presidente Jair Bolsonaro inicia nesta segunda-feira (18) visita oficial aos Estados Unidos e deveria aproveitar a oportunidade para buscar meios de aumentar o intercâmbio comercial com a maior potência econômica do planeta mas sem prejuízos ao comércio com outros países, a China em especial
O Brasil não deve fechar a porta comercial para nenhum país. A declaração foi feita por Michelle Fernandes, CEO da M2Trade e especialista em Comércio Exterior em entrevista por email ao Comexdobrasil.com ao analisar a visita do mandatário brasileiro a Washington nestas segunda e terça-feiras.
A CEO da M2Trade receia que a visita a Washington venha a confirmar na prática uma postura já reiterada pelo presidente Jair Bolsonaro no sentido de estabelecer um alinhamento automático do Brasil com os Estados Unidos em questões de política e comércio internacionais: “Depois da China, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. O presidente Bolsonaro já deixou clara a sua intenção de fechar acordos comerciais com os Estados Unidos. Nossa preocupação é que prejudique nossa relação comercial com a China”.
De acordo com a executiva, “o Brasil não pode levantar a bandeira do presidente Donald Trump e ceder a manipulações e interesses de seu governo. O que está em jogo é algo muito maior, temos um jogo de interesse financeiro muito grande. Esse posicionamento (de um alinhamento quase automático com os Estados Unidos) é perigoso pois pode criar uma ruptura e o fechamento do comércio bilateral com outras nações como a China, por exemplo”.
Na visão de Michelle Fernandes, “poderia dizer que ao agir dessa forma estaríamos jogando fora anos de trabalho diplomático e de um rico capital econômico e comercial já conquistado nas relações com outros países. Nosso país é único, independente e rico. Estamos em uma situação sensível neste momento e não podemos fechar a porta comercial para nenhum país. Pelo contrário, as relações diplomáticas devem ser fortalecidas para que criemos um ambiente saudável para a atração dos investimentos estrangeiros”.
A possibilidade de Donald Trump e Jair Bolsonaro assinarem nesta terça-feira uma declaração expressando a disposição dos dois países de avançar na negociação de acordos setoriais de facilitação de comércio e convergência regulatória para, mais adiante, iniciarem as tratativas visando a assinatura de um abrangente acordo de livre comércio foi outro tema abordado por Michelle Fernandes.
Segundo ela, “desde que seja vantajoso para o nosso país e que não tenha nenhuma cláusula de “exclusividade”, acho interessante. O que não podemos é ceder aos caprichos do presidente Trump. Nossa economia não sustentaria algo desse tipo”.
A necessidade de se buscar uma maior flexibilidade do Mercosul, de maneira a permitir que os integrantes do bloco possam negociar, individualmente, acordos de livre comércio com parceiros como os Estados Unidos, outro tema que poderá ser tratado durante a visita do presidente Bolsonaro aos Estados Unidos, foi também objeto de considerações por parte da especialista em Comércio Exterior.
Ao tratar do assunto, Michelle Fernandes afirmou que “não vejo problema na abertura comercial do bloco. Alguns blocos econômicos e acordos internacionais já permitem essa abertura. Não acredito em um bloco econômico engessado. Temos um exemplo de sucesso dentro do próprio Mercosul, o ACE-55, de 2002, que é um acordo de complementação econômica com o México para o setor automotivo para a importação de veículos”.
Fonte: Comex do Brasil