Linha de crédito lançada pelo governo visa amenizar crise que pode levar à nova paralisação. Para categoria, preocupação maior é com valores do frete e do diesel
Representantes dos caminhoneiros autônomos viram com bons olhos a iniciativa do Governo Federal em lançar uma linha de crédito específica para a categoria, além de investimentos em infraestrutura viária. O pacote, anunciado nesta terça-feira (16/4), no entanto, conforme apontam os sindicalistas, não contempla as principais reivindicações, que são a política de preço de combustíveis e o tabelamento do frete.
Para o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ijuí, Carlos Alberto Litti Dahner, o pacote para o transporte rodoviário de cargas é “tímido” porque, apesar de oferecer benefícios aos profissionais, não modifica a estrutura da relação de trabalho existente, alvo de críticas da categoria. As questões principais, como a política de preços do frete e do diesel, ficaram de fora.
O pacote lançado nesta terça foi uma maneira de o Governo amenizar a crise que pode culminar em uma nova paralisação dos caminhoneiros, a exemplo do que ocorreu no ano passado, quando o setor produtivo e a população em geral tiveram dificuldade em acessar insumos como alimentos e combustíveis.
Segundo o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, serão destinados R$ 2 bilhões para obras de infraestrutura viária e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) disponibilizará R$ 500 milhões em linha de crédito especial para caminhoneiros autônomos. As operações serão limitadas a R$ 30 mil por profissional que tenha até dois veículos registrados em seu CPF.
Carlos Litti, contudo, também criticou o fato de os investimentos em infraestrutura terem sido apresentados como moeda de negociação. “Isso faz parte da obrigação do estado. Para isso já existem vários impostos, que são recolhidos diariamente. O valor a ser investido não será só para os caminheiros, mas para sociedade toda”.
Outro ponto questionado pela categoria foi o anúncio da linha de crédito. Para eles, as condições para a concessão do benefício não foram esclarecidas. “Esse investimento de capital de giro é muito bom para nós, mas não foi especificada qual a taxa a ser paga, por exemplo. Tem que analisar como isso vai chegar na ponta”, afirmou Litti.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Alexsandro Viviani, também analisou como positivo o pacote do Governo, mas ponderou que o “caminheiro está mais preocupado com frete e preço do óleo diesel”. Isso porque o aumento do combustível e, consequentemente, do frete impacta no preço que é pago pela população.
“Vai ajudar, mas temos outros pedidos que estão sendo discutidos. O que vai resolver o problema é tabelar o valor de frete, acompanhando o preço do óleo diesel. O valor do diesel interfere e ficamos sem parâmetros para cobrar o frete. Hoje a gente trabalha por R$ 1 mil, amanhã por R$ 2 mil e depois por R$ 3 mil”, disse.
Na avaliação do líder dos caminhoneiros, Wallace Costa Landim, conhecido como Chorão, o anúncio agrada a categoria e pode evitar uma nova greve no setor. Para bater o martelo sobre a questão, no entanto, a categoria espera ainda pela manifestação do presidente da República, Jair Bolsonaro. “Inicialmente, claro que o pacote agrada (a categoria). Mas preferimos aguardar o que o presidente vai falar para comunicar oficialmente o posicionamento dos caminhoneiros”, diz o líder.
Bolsonaro se reúne, nesta terça-feira, com representantes da equipe econômica do Governo, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e o diretor-Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone. Na pauta, estão as discussões sobre o preço do óleo diesel.
Por Globo Rural