Pesquisadores em Mato Grosso iniciaram trabalho para tentar desenvolver mudas comerciais de qualidade de orquídeas nativas do Pantanal e Cerrado. No caso dessas plantas, fungos chamados micorrizas ajudam no crescimento de mudas a partir das sementes. Agora, os estudiosos estão focando a pesquisa na identificação e no isolamento desses fungos.
A grande dificuldade para quem comercializa orquídeas em Mato Grosso é a distância dos centros produtores. No caso de Marly Aparecida da Silva, as mudas são adquiridas em São Paulo, todos os meses. “Eu ando 1.700 km. 1.700 km para ir e 1700 km para voltar. E se eu pegasse aqui? Já ia ficar bem menos, né?”, disse.
E foi pensando em auxiliar os produtores de flores tropicais do estado que a Empaer (Empresa Mato-grossense de Pesquisa e Extensão Rural) iniciou um trabalho para melhorar a reprodução de mudas de orquídeas, principalmente de espécies nativas, que são encontradas em áreas do Pantanal e do Cerrado.
Os pesquisadores foram a campo para coletar cápsulas com sementes e algumas raízes de orquídeas. Todo o material foi levado para o laboratório, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, Lá, são feitas as análises e uma das etapas mais importantes: a separação dos fungos.
“Nessas raízes nós vamos observar se há estrutura de fungos ou não. Então a estrutura que a gente procura aqui são os emaranhados desses fungos. Então esses são isolados e transferidos para meio de cultura para que a gente possa ter o crescimento desses fungos para a gente manusear os experimentos”, disse Jaqueline Senabio, bióloga da Fapemat(Fundação de Amparo à Pesquisa).
“Sem o fungo a semente não consegue germinar porque essa semente não tem substância de reserva, como normalmente as outras sementes. Então ela precisa do fungo, o fungo vai transferir nutrientes para essa planta, ele vai nutrir ela inicialmente, para ela se desenvolver. Então ele vai promover a germinação e, depois também, a nutrição dessa planta”, disse a bióloga Heiriane Martins, da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).
Os pesquisadores já conseguiram isolar 65 tipos de fungos, que são armazenados em uma micoteca, uma espécie de biblioteca só de fungos. Em seguida, o trabalho é unir esses fungos às sementes de orquídea, que são bem pequenas.
“Nós vamos avaliar se esses fungos são bons para produção de germinação e crescimento ou não. Porque a gente fala que existe uma especificidade. Esse fungo que a gente isolou ele pode ser bom ou não para determinada espécie de orquídea. Então nós vamos testar várias espécies de orquídeas com vários fungos que conseguimos isolar e vamos ver quais são os melhores para determinada espécie”, disse Heiriane.
As sementes germinam em pequenos frascos de vidro, em uma sala que simula o ambiente natural, com temperatura e luminosidade controlados.
A pesquisa que tem o apoio da Fapemat ainda vai levar um tempo para dar resultados e chegar aos produtores, mas a intenção é de que as mudas possam ser fornecidas a preços acessíveis. O material desenvolvido em laboratório também servirá para o repovoamento de espécies na natureza.
“Nós fomos buscar da vegetação nativa, então nós temos também que levar de volta. Então nós temos que retornar e nós temos que estar disponibilizando novas variedades, novas espécies, inclusive. Uma coisa importante é que na parte comercial nós vamos trabalhar com espécies já conhecidas, que já tem um bom desempenho de mercado, uma boa procura. Nesses acessos no cerrado e no pantanal, nós estamos também buscando novas espécies que não são conhecidas comercialmente, mas que tem potencial. Então nós vamos estar trazendo também novos materiais. E o objetivo é esse, a gente levar mais oportunidades para o nosso pequeno produtor poder buscar mais essa alternativa de trabalho e de renda”, disse Eliane Daltro, coordenadora do projeto na Empaer.
Fonte: G1