Pesquisa revela que o Pampa Gaúcho absorve gases do efeito estufa (GEE) e pode ser lucrativo

O Pampa Gaúcho com suas pastagens naturais e atividade pecuária bem manejadas, compensam emissões de gases de efeito estufa (GEE) de forma orgânica e isso pode se tornar bem lucrativo para o produtor rural

Uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que vem sendo desenvolvida desde 2015, mostra que a pastagem natural do Bioma Pampa, quando bem manejada, pode compensar as emissões de metano produzidas pelo gado através da absorção de dióxido de carbono (CO2) pela pastagem. Ou seja, o Pampa Gaúcho é um potencial absorvedor de gases do efeito estufa (GEE) quando é usado o manejo rotativo na pecuária.

Segundo a pesquisadora, Débora Regina Roberti, os resultados alcançados até o momento são suficientes para comprovar o sequestro de carbono (CO2) de forma orgânica no Pampa Gaúcho. O desafio agora é monetizar estas informações, tornando o processo algo lucrativo para o produtor rural, confira!

Pesquisa sobre a drenagem de GEE no Bioma Pampa

O estudo que atesta que o bioma Pampa funciona como dreno de GEEs foi realizado pelo Laboratório de Micrometeorologia da UFSM e coordenado pela professora do Departamento de Física, Débora Regina Roberti. A partir da coleta de dados sobre trocas de carbono e metano nos ecossistemas, o grupo de pesquisadores coordenado pela pesquisadora concluiu que o bioma Pampa, em condições de manejo adequado, funciona como uma espécie de dreno de gases de efeito estufa.

O resultado foi apresentado pela prof. Debora em uma live concedida à Rede Campos Sulinos e que você pode conferir logo abaixo. O proprietário da área, Cláudio Martins, também fez um relato sobre os mais de dez anos de parceria com a pesquisa no local e o prof. do Depto de Ecologia da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coord. da Rede Campos Sulinos, Valério Pillar, traçou um panorama geral sobre as pesquisas ecológicas de longa duração no Pampa. Aperte o Play!

O Pampa Gaúcho

O Pampa é o único bioma brasileiro localizado em apenas um estado, o Rio Grande do Sul, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Caracterizado pelo clima temperado, grande biodiversidade de plantas, e por uma extensa área de campos naturais, principalmente gramíneas, o bioma ocupa cerca de dois terços do território gaúcho.

O Pampa está restrito ao estado do Rio Grande do Sul, onde ocupa uma área de 176.496 km² (IBGE, 2004). Isto corresponde a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro. As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc.

Atividade de pecuária sustentável no Pampa Gaúcho

Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (campim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, brabas-de-bode, cabelos de-porco, dentre outras).

Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí.

Na América do Sul, os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada por Brasil, Uruguai e Argentina.

No Brasil, o bioma Pampa está restrito ao Rio Grande do Sul, onde ocupa 178.243 km2 – o que corresponde a 63% do território estadual e a 2,07% do território nacional.

Estratégia para a redução da emissão dos gases de efeito estufa

Infográfico ilustrativo – Pampa Gaúcho

Conforme a pesquisa, a combinação entre o clima e as características únicas da paisagem contribuem para o manejo adequado do gado, que podem ajudar na elaboração de estratégias para a redução da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera. A mitigação desses gases é importante para frear o processo de aquecimento global do planeta, que tem entre suas consequências o aumento da temperatura global, que pode provocar derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, diminuição de água doce para consumo humano, extinção de espécies e impactos sobre o clima.

A pesquisadora Débora explica que, durante o inverno, em que há menor crescimento das pastagens, o Pampa emite mais dióxido de carbono (CO2) do que absorve. No entanto, a quantidade de absorção dos gases no verão compensa a emissão do inverno e, em uma média anual, o local funciona como um absorvedor de CO2.

Torre de fluxo localizada em Aceguá possui sensor de medição de CO2, medição de vento e medição de metano – Foto: Débora Roberti

Sobre a pesquisadora

Débora Regina Roberti, possui graduação em Física Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria (1998), mestrado em Física pela Universidade Federal de Santa Maria (2001) e doutorado em Física, com estagio sanduíche no CNR Itália, pela Universidade Federal de Santa Maria (2005). Atualmente é professora associada III da UFSM. Tem atuando principalmente nos seguintes temas da interação superfície-atmosfera: balanço de energia, trocas liquidas de carbono, evapotranspiração. Sua pesquisa atual aborda estudos sobre a estimativa de troca de gases de efeito estufa de ecossistemas do bioma Pampa.

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