Começa nesta semana pesquisa junto a indústrias brasileiras de processamento de pescado, focado principalmente nas duas espécies, Tilapia e Tambaqui.
Em formato de questionário enviado a mais de 200 indústrias, a pesquisa vem em sequência de outras em que a Embrapa e parceiros estão envolvidos. Em março, foi feito um levantamento voltado a demandas de consumidores. Nesse caso, foram ouvidas mais de 1.300 pessoas em cinco capitais – uma por região geográfica brasileira: Recife-PE, Brasília-DF, São Paulo-SP, Manaus-AM e Curitiba-PR.
Buscando informações como custos médios de produção, tecnologias e mão-de-obra empregadas, locais de cultivo dos peixes e possíveis mercados consumidores da produção já industrializada, o trabalho focará nas duas principais espécies atualmente cultivadas no país: a tilápia e o tambaqui.
Sobre essa pesquisa, cujos dados estão sendo analisados, o pesquisador Roberto Flores, da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas,TO), explica que “a ideia é a gente traçar algumas características da demanda e das preferências dos consumidores por pescado, mais especificamente tilápia e tambaqui”.
Ambas as pesquisas – com os consumidores e, agora, com as indústrias de processamento de pescado – estão sendo executadas pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), ligado à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), de Piracicaba-SP, que é uma das unidades da Universidade de São Paulo (USP). O programa foi contratado no escopo do projeto BRS Aqua, liderado pela Embrapa e que vem trabalhando em diversas frentes da aquicultura; uma delas é a economia.
Sobre a pesquisa da Tilapia e Tambaqui
A proposta de todo esse trabalho é buscar um modelo de equilíbrio espacial. Para isso, serão reunidos resultados de projetos anteriores em que a Embrapa Pesca e Aquicultura esteve envolvida – como o Campo Futuro, desenvolvido em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – com resultados da pesquisa com os consumidores (mais voltada à demanda de mercado) e com resultados da pesquisa que começa agora.
Roberto é quem explica: “quem vende pra quem, de que região pra região, qual a distância percorre, como processa o peixe, qual é o preço disso, qual é o custo, quem ganha o que nisso e aí, a partir disso, a gente pode trabalhar com algumas variações no modelo”. Variações, por exemplo, que podem ocorrer com alguma melhoria realizada pelo governo, como modernização de rodovia de escoamento da produção.
São impactos pontuais, mas que podem afetar (positiva ou negativamente) toda a cadeia de valor – nos casos estudados, das espécies tilápia e tambaqui. “A ideia é juntar todos os elos da cadeia e conseguir trazer algumas respostas de alguns impactos pra pontos específicos”, aponta o pesquisador da Embrapa.
A aplicabilidade prática das informações geradas nas pesquisas com as duas principais cadeias de valor da piscicultura brasileira pode representar um avanço. De acordo com Roberto, “a estratégia basicamente é você subsidiar o governo, os produtores, os processadores e também os supermercados (por que não?) com esse tipo de informação pra eles saberem qual é o impacto de algumas ações que eles possam ter em toda essa cadeia produtiva dos peixes e entender onde entra o consumidor nessa história também”.
Projeto em aquicultura – Essa parte de economia é uma das oito do projeto Ações estruturantes e inovação para o fortalecimento das cadeias produtivas da aquicultura no Brasil, o BRS Aqua. Há ainda trabalhos nas seguintes áreas: nutrição; tecnologia do pescado; manejo e gestão ambiental; sanidade; germoplasma; transferência de tecnologia; e gestão. Além de tambaqui e tilápia, estão programados trabalhos com camarão e bijupirá.
O projeto envolve mais de 20 Unidades da Embrapa, cerca de 270 empregados da empresa e recursos financeiros da ordem de quase R$ 45 milhões do Fundo Tecnológico (Funtec) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 6 milhões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (que estão sendo executados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq) e, como contrapartida, R$ 6 milhões da própria Embrapa.
Entre os parceiros do BRS Aqua, há instituições públicas e privadas. Uma delas é a Universidade de Purdue, nos Estados Unidos, à qual o pesquisador Roberto está ligado no desenvolvimento de sua tese de doutorado.
TILÁPIA É O SEGUNDO PEIXE MAIS CONSUMIDO DO MUNDO
Cultivada em 24 dos 27 estados brasileiros e denominada ”Frango d´água brasileiro”, em alusão ao desempenho do frango na pecuária e balança comercial brasileira, o Brasil já é o maior produtor de tilápia da América Latina e 4º do mundo.
Expansão mundial
Presente nos cinco continentes que formam o planeta: África, Ásia, Europa e América do Norte e do Sul, a tilápia, dentre os peixes de água doce, foi o que mais imigrou e migrou territorialmente entre os continentes constituindo habitats e biótopos diferentes nas mais distantes e diversas partes do mundo, sendo, por isso, considerado um peixe cosmopolita por excelência. Nessa existência milenar e habitando continentes diferentes, modificou seus aspectos físicos, hábitos e costumes pela necessidade de se adaptar e sobreviver ao clima, temperatura, altitude, longitude, alimentação nos diferentes meios fluviais e lacustres, superando muitas vezes, a alta poluição, contaminação e salinidade dos rios, lagos, lagunas e estuários, ambientes aquáticos diversificados, tornando-se um peixe virtuoso, eclético e versátil do ponto de vista biológico.
Agronegócio da Tilápia no Brasil
Embora introduzida oficialmente no Brasil na década de 1970, a criação da tilápia para fins comerciais e econômicos somente teve início em 1990, no estado do Paraná, que iniciou a tilapicultura para fins econômicos e industrial, (Kubitza, 2003). Para que a atividade pudesse prosperar e atingir os objetivos esperados pelos empresários, piscicultores e governantes, foi preciso organizar o setor, investir em tecnologia e incrementar a cadeia produtiva em todos os seus elos de ligação: insumos, produção, beneficiamento e comercialização. Assim, em Toledo e Assis Chateaubriand, surgiram os primeiros frigoríficos dedicados exclusivamente ao processamento de peixes e tilápia. Desta forma, não tardou para que o Estado se tornasse o maior produtor de peixe, atingindo uma produção próxima a 12,8 mil toneladas apenas em 2002.
O sucesso da criação racional da tilápia estabelecido no Paraná, com apoio governamental, cooperativismo, melhoramento genético das espécies e industrialização dos produtos, foi seguido rapidamente por Santa Catarina, que estabeleceu o MAVIPI- Modelo Alto Vale do Itajaí de Piscicultura Integrada -, criação apoiada pela EPAGRI, consorcio de tilápia, carpa e suíno; por São Paulo com a criação intensiva em tanques-rede nas hidroelétricas e pesque-pagues. Em São Paulo, principalmente, nos pesque-pagues dos grandes restaurantes e resorts, surgiu a atividade esportiva & lazer, com a pesca de anzol de tilápia e outros peixes como: pacu, tambaqui e híbridos desses peixes brasileiros tropicais, promovendo e incentivando a piscicultura nacional de água doce que se espalhou por todo o território nacional.
Apesar dos avanços da plataforma científica, industrial e tecnológica desenvolvida pela tilapicultura nos Estados do Sul, não podemos menosprezar o Ceará, estado com maior tradição no consumo e criação do peixe, com influência em todo o Nordeste, em virtude da produção natural nos reservatórios e açudes públicos, (Castanhão, Óbidos e Orós) fruto dos peixamentos realizados no passado, década de 1990, pelo DNOCS. (Kubitza, 2003).
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Por: AGRONEWS BRASIL, com informações de Clenio Araujo – Embrapa Pesca e Aquicultura