Os estudos com amendoim forrageiro, realizadas pela Embrapa Acre, por meio do projeto em rede “Desenvolvimento de cultivares de amendoim forrageiro para uso em sistemas sustentáveis de produção pecuária”, ganharam novo reforço. A prorrogação do projeto no âmbito do Sistema Embrapa de Gestão (SEG) garantiu a continuidade das ações até setembro do próximo ano. Além disso, o Plano Anual de Trabalho (PAT) para o biênio 2019/2020, aprovado junto à Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras (Unipasto), possibilitou um aporte financeiro no valor de 140 mil reais, para fortalecimento dos estudos para melhoramento genético da planta, em andamento.
Executado desde 2015, o projeto prevê, entre outros resultados, o lançamento de uma cultivar de amendoim forrageiro propagada por semente, a BRS Mandobi. “Com os recursos alocados vamos finalizar as pesquisas com a primeira cultivar propagada por semente e poderemos avançar nos estudos para viabilizar a colheita mecanizada. A parceria com a Unipasto tem sido essencial para o cumprimento do cronograma de atividades e alcance de resultados. A previsão é que o lançamento regional da nova cultivar aconteça até o mês de outubro”, afirma a pesquisadora Giselle Lessa, líder do projeto.
O amendoim forrageiro é uma planta com alta capacidade de fixar nitrogênio no solo e elevado teor de proteína. Estudos comprovam que o uso dessa leguminosa associado com gramíneas aumenta a produção de forragem e a longevidade das pastagens e melhora a qualidade da dieta animal, com reflexos positivos na produtividade do rebanho. Atualmente, todas as cultivares da leguminosa disponíveis no País são propagadas por mudas. A propagação por sementes visa contribuir para ampliar o uso dessa tecnologia no consórcio de pastagens como alternativa para intensificar a produção de carne e leite a pasto nos diferentes biomas, sem a abertura de novas áreas.
Máquina colhedora de sementes
Para que a BRS Mandobi chegue ao mercado é necessário disponibilizar também um sistema de produção de sementes mecanizado. Paralelamente às pesquisas para viabilizar a nova cultivar de amendoim forrageiro, um projeto fruto de parceria entre a Embrapa Acre, Embrapa Instrumentação (São Carlos/SP) e Unipasto atua no desenvolvimento de uma máquina colhedora, a partir de protótipos já existentes. O objetivo do equipamento é reduzir custos na produção e viabilizar a oferta de sementes em larga escala, para o mercado.
O analista da Embrapa Instrumentação, Daniel Portioli, um dos engenheiros mecânicos que trabalham nos ajustes do projeto, veio ao Acre acompanhar a colheita de sementes da cultivar Mandobi, no campo experimental da Embrapa, no período de 5 a 8 de agosto. O trabalho é realizado com uso de dois modelos de protótipos de máquina colhedora, em fase de teste, e os ensaios sobre o funcionamento desses equipamentos visam proporcionar subsídios para a definição dos mecanismos que vão compor o novo protótipo de colhedora em desenvolvimento.
“A observação de procedimentos operacionais contempla etapas como peneiramento das sementes e rendimento da colheita, entre outros aspectos essenciais para garantir eficiência ao processo, e permite obter informações importantes para o dimensionamento de partes do equipamento como lâmina, esteira e peneiras rotativas. Todos os ajustes e adaptações pensados buscam resolver aspectos que retardam a colheita e oneram o processo. A maior parte do custo de produção de sementes está na fase de colheita, correspondendo a cerca de 80%. Buscamos desenvolver um equipamento que proporcione sementes de qualidade, com preços mais acessíveis para o produtor rural ”, diz Portioli.
A colheita de sementes do amendoim forrageiro Mandobi, no campo experimental da Embrapa, iniciou em 2018, sempre realizada na época da estiagem “Já dispomos de 600 quilos do produto e a meta é chegar a 1.200 quilos, até o mês de setembro. Com essa quantidade já será possível realizar o lançamento cultivar”, diz o pesquisador Judson Valentim, coordenador dos estudos com a colhedora no Acre.
Desenho conceitual
A escolha dos mecanismos do novo protótipo de colhedora de sementes será feita com base em uma lista de opções, apresentada por especialistas da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), como resultado de um Workshop realizado em novembro de 2018, em São Carlos (SP), para colher subsídios técnicos para melhoria do processo de criação e adaptação do equipamento.
“Foram elencadas cinco opções de mecanismos para compor o desenho conceitual do novo protótipo e, em um segundo momento, por meio de uma pesquisa eletrônica, esses mesmos profissionais opinaram sobre os mecanismos que comporiam uma variante de protótipo da máquina. Atualmente, temos uma opção de protótipo, com diferentes mecanismos já montados e estamos elaborando um projeto para captação de recursos junto à Unipasto, para potencializar os estudos necessários para ajustar e testar cada um desses mecanismos. A expectativa é que até o final de 2021 tenhamos uma versão do equipamento pronta para testes e validação em campo”, explica Valentim.
Para Portioli, contar com um sistema eficiente de colheita mecanizada vai minimizar esforços, especialmente no peneiramento das sementes, considerado uma das etapas mais críticas da colheita. O aprimoramento desse processo requer a combinação de operações distintas para refinar o trabalho de separação, reduzindo o volume de solo e raízes e garantindo maior quantidade de sementes nas peneiras rotativas. “Além disso, facilitará a realização de etapas posteriores como seleção e lavagem das sementes, que também influenciam o tempo das operações extracampo”, destaca.
Produto escasso
Segundo Valentim, já existe disponível um sistema de produção de sementes de amendoim forrageiro semimecanizado, mas, devido à grande necessidade de mão de obra, as empresas produtoras passaram a demandar da pesquisa científica o desenvolvimento de uma máquina que permita a colheita totalmente mecanizada. As dificuldades com mão de obra no processo de colheita oneram a produção e contribuem para tornar as sementes de amendoim forrageiro um produto escasso e de custo elevado no mercado nacional.
“As sementes comerciais encontradas no Brasil são importadas da Bolívia e vendidas a preços superiores a 200 reais o quilo. Devido ao alto custo, geralmente o produto é adquirido em pequenas quantidades para fins ornamentais. Para uso em consórcio com a pastagem, utilizando semeadura em faixa, em 50% da área do pasto, seriam necessários 11 quilos de sementes para cada hectare, o que torna a prática inviável para o produtor rural. Nos testes de campo com os dois protótipos de colhedora conseguimos reduzir bastante o custo de produção e acreditamos que com o equipamento que vem sendo desenvolvido será possível baixar ainda mais o preço do produto e ampliar o acesso a sementes de qualidade, oriundas de cultivares recomendadas pela pesquisa”, enfatiza o pesquisador.