Com uma letalidade de praticamente 100%, está e uma verdadeira ameaça ao rebanho Gaúcho. Conheça a planta tóxica responsável pela morte de 42 mil cabeças de gado anualmente, um prejuízo silencioso
Planta tóxica e os desafios na pecuária do RS
A pecuária do Rio Grande do Sul enfrenta uma ameaça silenciosa, mas devastadora: a planta conhecida como “Maria-mole”. Recentemente, a Secretaria de Agricultura do Estado lançou um alerta preocupante, revelando que esta planta, da espécie Senecio madagascariensis, está ligada à morte de 30 mil a 42 mil cabeças de gado por ano. Este fenômeno alarmante foi destacado em um evento promovido pela Emater-RS.
O pesquisador Fernando Castilhos Karam, do Laboratório de Histopatologia do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Saúde Animal Desidério Finamor, enfatiza que as plantas do gênero Senecio, em especial a Maria-mole, são as mais significativas no estado quando se trata de toxicidade, causando sérios prejuízos à cadeia produtiva da bovinocultura. Ele destaca que “a letalidade é praticamente 100%“, tornando essa planta um desafio crítico para a indústria pecuária gaúcha.
Em uma pesquisa publicada em 2011, por Fernando Karam, o Rio Grande do Sul detinha uma população bovina de 13 milhões de cabeças, as mortes por diferentes causas representavam 650.000 bovinos por ano e estimava-se que as perdas anuais em decorrência da ingestão de plantas tóxicas variam de 68.900 a 91.000 bovinos. Sendo que metade dessas mortes é causada por diferentes espécies de Senecio e considerando um preço médio de US$ 200 por animal, as perdas diretas atribuídas à seneciose no RS era de aproximadamente US$ 7,5 milhões por ano (Méndez & Riet-Correa 2008).
Link da pesquisa: https://www.scielo.br/j/pvb/a/d5D5m8WZPtZL8cBjpwBKcNC/
Uma ameaça ambiental e climática
A Maria-mole é uma planta resistente e, de acordo com Karam, sua prevalência está relacionada a fatores ambientais e fenológicos. A planta tóxica prospera em condições de umidade e tornou-se a principal causa de morte de bovinos no Estado. Um dos fatores que contribuem para a ingestão é a lotação animal superior à oferta de pasto, algo comum no outono/inverno, quando a maioria das espécies está em crescimento, apresentando um teor tóxico mais elevado.
Um estudo detalhado realizado em Eldorado do Sul destaca a seriedade da infestação. O pesquisador menciona que a planta tem um desenvolvimento mais competitivo e agressivo, florescendo ao longo do ano e produzindo sementes que complicam o controle.
A natureza tóxica da Maria-Mole
A ameaça representada pela Maria-mole é impulsionada por alcaloides pirrolizidínicos, princípios ativos presentes na planta. Essas substâncias desencadeiam uma lesão irreversível no fígado dos bovinos, semelhante à cirrose humana. A gravidade da intoxicação leva à perda progressiva da função hepática. Infelizmente, não há tratamento eficaz para animais que ingeriram quantidades suficientes para desenvolver essa lesão.
Os sintomas se manifestam geralmente após dois meses a um ano da ingestão, predominantemente no outono-inverno, mas os efeitos só se tornam evidentes na primavera-verão. Os sinais incluem emagrecimento inexplicado, diarreia intermitente, comportamento agressivo ou apatia extrema. A fase final da intoxicação atinge o sistema nervoso central, levando à morte do animal em um período de 24 a 96 horas após os sintomas se manifestarem.
Praga vegetal e suas implicações na pecuária
A Maria-mole é mais do que uma planta tóxica; ela é considerada uma praga, e sua disseminação está associada a desequilíbrios ambientais e práticas inadequadas de manejo do solo. Sua prevalência está intimamente ligada ao declínio da ovinocultura, que experimentou uma redução significativa nas últimas décadas no Estado.
Os ovinos, surpreendentemente, são 20 vezes mais resistentes aos princípios tóxicos da Maria-mole do que os bovinos. A planta tem se proliferado nos últimos 30 anos, principalmente em Eldorado do Sul e Guaíba, com um processo de desenvolvimento agressivo e competitivo.
Bonita aos olhos, mas pode se transformar em um problema gravíssimo para os pecuaristas! Confira no vídeo abaixo uma reportagem produzida e apresentada pela jornalista Aline Leonhardt, do canal Vale Agrícola. Aperte o play!
Estratégias de controle: Desafios e possibilidades
O controle da Maria-mole exige uma abordagem integrada e adaptada a cada propriedade rural. Recomendações incluem a observação rigorosa da lotação animal em relação à oferta de pasto, roçadas periódicas em áreas infestadas durante o crescimento da planta e a utilização de ovinos como controladores naturais.
O controle químico é uma opção, mas eficaz apenas nas plantas emergidas, com a necessidade de repetição de aplicação devido às sementes no solo. No entanto, essa abordagem pode alterar a biocenose do solo, um fator a ser considerado.
A arrancada manual é uma medida eficaz, mas prática apenas para áreas limitadas. As plantas arrancadas devem ser descartadas adequadamente para evitar a propagação vegetativa.
A ameaça representada pela planta tóxica Maria-mole não pode ser subestimada, mas as estratégias adequadas e uma compreensão profunda de seus ciclos de vida oferecem esperança para a pecuária gaúcha. O desafio agora é implementar medidas eficazes de controle e conscientização para garantir a saúde e a produtividade do gado no Estado do Rio Grande do Sul.
AGRONEWS® é informação para quem produz