As primeiras colheitas do milho segunda safra do Brasil começam a chegar ao mercado, pressionando as cotações do cereal após preços recordes registrados neste ano, afirmaram especialistas do mercado à Reuters, em um movimento que vai beneficiar a indústria produtora de aves e suínos, que teve suas margens fortemente pressionadas pelos altos custos.
Apesar de os volumes colhidos serem pequenos, permitiram que o mercado deixasse de ser nominal, com cotações em patamares estratosféricos e irreais, para um produto com baixa disponibilidade. Essa conjuntura levou criadores de suínos do país a abaterem matrizes e a cortarem turnos de produção na indústria de aves, visando reduzir custos.
Há poucas semanas, os preços do milho oscilavam perto de 50 reais a saca em Mato Grosso, o maior produtor do Brasil, mas as cotações estão agora entre 32 a 40 reais a saca, dependendo da região, com o mercado voltando a ter um pouco de liquidez com a chegada da colheita.
A situação, ainda que represente um alívio, aponta para preços historicamente altos. Na mesma época do ano passado, por exemplo, o milho em Mato Grosso era negociado por menos da metade do valor atual. E, em algumas praças, por um terço do preço deste início de junho.
Até a semana passada, produtores mato-grossense haviam colhido cerca de 3 por cento da área.
“É pouco (milho), mas já dá tendência, e o pessoal começa a ver que não tem mais escassez, com a entrada da safra começa a acabar o elemento especulativo”, disse à Reuters o vice-presidente de Mercados de Aves e Suínos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Segundo ele, há relatos de produtores comprando milho a cerca de 30 reais/saca em Mato Grosso e levando o produto para as regiões produtoras de São Paulo. Com o custo do frete, o produto chega a 40 reais.
“Já não é aquele absurdo de 50 reais a saca”, afirmou Santin.
Ele disse também que a colheita da safra do Paraná, segundo produtor nacional, também vai começar a ganhar força até o final do mês, ajudando a aliviar o mercado.
Santin afirmou que a entrada da safra do Paraguai, de onde o Brasil importa muito milho transportado em caminhões, também vai colaborar para irrigar o mercado.
“Chegou o fim do pico de especulação, o cara que estava segurando milho, o tempo começa a correr contra ele”, acrescentou.
Análise do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea) confirmou que, embora a colheita esteja só no seu início, já há recuo nos preços em algumas praças, especialmente no Centro-Oeste.
“O aumento na disponibilidade do cereal no mercado doméstico mostra que vendedores pretendem aproveitar o elevado patamar de preços”, disse o Cepea.
PREÇOS REAIS
Segundo o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca, a expectativa é de que a oferta não cresça muito nesta semana em relação à semana anterior, uma vez que não são muitas áreas prontas para a colheita.
Os trabalhos só devem resultar em oferta mais volumosa a partir do final do mês.
Mas o superintendente do Imea destacou que a colheita começou sim de forma antecipada, com produtores buscando colher logo para aproveitar os preços altos antes da pressão sazonal de colheita.
“Na verdade, o preço está se tornado real agora… A liquidez voltou… Esse valores absurdos dos meses passados ocorreram devido à baixa liquidez”, declarou Latorraca.
Ao final de junho do ano passado, o Mato Grosso tinha pouco mais de 10 por cento da área colhida.
No Paraná, a colheita só deve ganhar força ao final de junho. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), a expectativa é de que maiores áreas colhidas seja registradas apenas em julho.
“A colheita vai andar devagar até meados de junho”, disse o técnico de milho do Deral, Edmar Gervásio.
Apesar da pressão sazonal de colheita, Gervásio avalia que o cenário de quebra de safra no Brasil não dá muito espaço para reduções significativas de preços. “Estamos falando de um cenário que o Brasil como um todo está tendo redução na produção de milho”, disse.
A segunda safra de milho do Brasil, que responderia por cerca de dois terços da safra nacional, chegou a ser estimada acima de 57 milhões de toneladas neste ano. Mas já há consultorias que apontam uma safra abaixo de 50 milhões.
Na avaliação de compradores de milho ouvidos pela Reuters, produtores de Mato Grosso serão pressionados a aceitar uma queda acentuada nos preços do grão quando começarem a comercializar maiores volumes da nova safra. Compradores estão indicando preços cerca de 40 por cento mais baixos ante os picos de maio.
Fonte: Reuters