A produção agropecuária sustentável de Mato Grosso impressionou o pesquisador Rattan Lal, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2007 como membro do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC). Ele ministrou uma palestra sobre Sustentabilidade Ambiental e abordou questões como a conservação do solo, mudança do clima, evolução da agricultura e meio ambiente.
Rattan ficou surpreso com os dados apresentados pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) da produção agropecuária estadual. O pesquisador fez questão de dizer que a impressão que tinha em relação ao Brasil era de que a Amazônia estava sendo destruída. “Eu estou impressionado com a quantidade de área preservada na Amazônia. Acredito que as áreas degradadas podem ser recuperadas e devolvidas à natureza. O trabalho desenvolvido aqui deve ser levado para todo o mundo. O Brasil, em especial Mato Grosso, é exemplo de sustentabilidade”, disse Lal.
Para o pesquisador, a maneira com que Mato Grosso está conduzindo os trabalhos de preservação garante alimento para o mundo. “Do jeito que vocês estão preservando, vocês estão alimentando o mundo. Hoje eu mudei a minha visão sobre o Brasil. A Famato deveria escrever uma carta ou artigo para uma revista especializada de grande impacto sobre o uso sustentável de terras da Amazônia. E mostrar como estão aumentando suas produtividades e como estão preservando a biodiversidade. Acredito que todos deveriam saber sobre isso”, destacou.
A má impressão de que a Amazônia está sendo destruída tem que ser desmistificada. “Cabe às organizações ambientais, governo e entidades comprometidas com o meio ambiente esclarecer isso para o mundo. Assim como eu estou contente de conhecer a verdade, todos os pesquisadores, cientistas e sociedade mundial devem saber que aqui no Brasil o foco é preservação para uma produção ainda maior”, apontou.
Durante a palestra Lal sugeriu que o governo deve investigar e ampliar o potencial do estado no sequestro de carbono. Segundo ele, o fluxo de carbono do solo para a atmosfera é uma das causas do efeito estufa no planeta e é muito importante o envolvimento de Mato Grosso nesse projeto.
O gestor do Núcleo Técnico da Famato Guto Zanata acredita que enquanto não houver uma valorização do sequestro de carbono não haverá amadurecimento.
Zanatta disse ainda que o produtor de Mato Grosso, além de produzir grãos e carne, produz o carbono sequestrado. “Eu acredito que é possível. A Famato participa de discussões com o governo e entidades para valorizar e saber como gerenciar isso. Não é uma tarefa fácil, estamos a alguns anos trabalhando neste sentido. Precisamos transformar esse projeto em realidade e para isso tem que haver interesse político e comercial”, destacou Zanata.
Segundo Rattan, a valorização desse carbono estocado é uma das soluções para a conservação do meio ambiente. A preservação é benéfica para toda a sociedade, sendo assim não é justo que o setor agropecuário assuma a responsabilidade de forma isolada. O pesquisador citou como exemplo o CRP implantado no estado de Illinóis nos Estados Unidos, que remunera os produtores que deixam de produzir e mantém a área em recuperação ambiental durante 10 anos no valor equivalente ao arrendamento da terra. Levando em consideração que uma floresta sequestra uma quantidade maior de CO², é justo que o produtor receba por esse carbono estocado que beneficia toda a sociedade.
A ideia de Rattan é criar um programa no Brasil que visa a pesquisa e a capacitação de produtores para envolver Mato Grosso nas discussões sobre o carbono que é produzido. Existe a possibilidade de uma parceria entre a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e a Universidade de Ohi para intercâmbio e mobilidade de estudantes, pesquisadores e professores.
Na avaliação de Rattan os governos brasileiros deveriam implantar estudos específicos nas escolas e universidades sobre sistemas de produção agrícola, com o intuito de gerar discussões que provoquem o fortalecimento de políticas ambientais, econômica, técnica e social. “Sendo assim, será possível intensificar e qualificar a sustentabilidade da produção agrícola”, assegurou.
Técnicas sustentáveis – O pesquisador Daniel Carneiro de Abreu, professor do câmpus da UFMT de Sinop, disse que o que impressionou o pesquisador indiano foram às técnicas utilizadas em Mato Grosso. “Usamos aqui técnicas como plantio direto, integração lavoura-pecuária que aumentam a resistência e a eficiência, o que resulta em sustentabilidade”, disse Abreu.
Rattan destacou que o plantio direto utilizado no Brasil é uma técnica agrícola ambientalmente correta e sustentável que é capaz de eliminar as ações nocivas da erosão do solo e em troca mitigar os efeitos provocados pela emissão de gases e poluentes da atmosfera. O plantio direto sequestra o carbono, incrementa a biodiversidade e contribui positivamente para o ciclo hidrológico.
Na visão de Rattan o solo é o protagonista da preservação. “O solo é a resposta global para a conservação ambiental sustentável”. Ainda segundo o pesquisador, a tecnologia do plantio direto usado nas propriedades que percorreu em Mato Grosso não degrada o solo, mantém a qualidade da terra para os futuros plantios e garante a chance de introduzir novas culturas na mesma área. Isso significa um processo rotativo de plantio usado para conservar a saúde e a fertilidade da terra.
Curriculum – Rattan Lal é Diretor do Centro de Gestão e Sequestro de Carbono da Universidade de Ohio, trabalha com conservação de solo, gestão sustentável, sequestro de carbono, mudança do clima e segurança alimentar. Seu currículo disponibilizado no site da universidade norte-americana contabiliza 1986 publicações, com mais de 20 mil citações na Web of Science.
Lal nasceu na Índia, em uma região hoje pertencente ao Paquistão. Graduou-se na Universidade de Agricultura de Punjab, fez mestrado em Nova Deli (Índia) e PhD em Ohio, onde é professor de ciências do solo desde 1987.