A fossa séptica biodigestora, tecnologia destinada ao tratamento de esgoto doméstico em propriedades rurais passa, a partir desta semana, a integrar mais um programa que tem como proposta a universalização do saneamento básico
A meta desta vez é do município de Campinas (SP), que nesta sexta-feira (30) dá início à execução do Programa de Saneamento Rural Sustentável, instalando uma unidade piloto da tecnologia na periferia da cidade.
O sistema de saneamento básico rural desenvolvido pela Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP) já faz parte, desde 2016, de estratégia similar na estância turística de Holambra (SP), e também compõe projetos de recuperação ambiental, como o desenvolvido pelo Instituto Terra, em Aimorés (MG).
Assim como no projeto mineiro, em Campinas a tecnologia será instalada em área de Proteção e Recuperação de Mananciais Superficiais, sendo que no caso paulista a fossa séptica biodigestora ficará localizada em regiões antes das captações de água que abastecem a cidade, no rio Capivari e Atibaia.
Dois bairros rurais que se destacam pela produção de frutas, principalmente, goiaba figo e pêssego, a de Pedra Branca e do Descampado são os selecionados na etapa inicial de execução do programa para receber as primeiras 34 unidades da tecnologia. Até o final do ano, o Governo Municipal pretende entregar mais 100 kits da fossa séptica biodigestora.
De acordo com o coordenador de Planejamento e Gestão Ambiental do Departamento do Verde e Desenvolvimento Sustentável da prefeitura de Campinas, Geraldo Ribeiro de Andrade Neto, as regiões no sul do município são consideradas as mais críticas quanto ao saneamento básico rural. “Cerca de 80% dos 2.555 moradores, residentes em 686 domicílios não têm esgotamento sanitário adequado”, diz o engenheiro ambiental.
A família do produtor rural Edson Cogo é a primeira a ser contemplada com uma unidade piloto da fossa séptica biodigestora. A instalação nesta sexta-feira vai ocorrer no sítio São José, região do Descampado, onde Cogo produz goiaba, siriguela, pêssego e cria aves e gado numa área de 11 hectares.
A ação está prevista para as 15 horas, depois da 1ª oficina sobre a instalação e operação de fossas sépticas biodigestoras e boas práticas agrícolas que a Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da prefeitura Municipal de Campinas vai promover às 14h30, na igreja Nossa Senhora de Fátima, no bairro Descampado. A proposta da oficina é capacitar 17 produtores rurais nesta primeira etapa do programa.
O evento contará com uma apresentação sobre o Programa de Saneamento Rural Sustentável, que será realizada por Andrade Neto; um panorama sobre a fossa séptica biodigestora, a ser abordado pelo supervisor do Setor de Gestão da Implementação da Programação de Transferência de Tecnologia da Embrapa Instrumentação, Carlos Renato Marmo.
A oficina ainda vai ter uma apresentação sobre boas práticas agroambientais e aplicação do biofertilizante gerado pela fossa séptica biodigestora, que será realizada pela doutoranda da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, a bióloga Isabel Figueiredo. Após o encerramento da oficina, o técnico da Embrapa Instrumentação Luis Aparecido de Godoy fará a montagem da fossa séptica biodigestora.
“As Prefeituras estão cada vez mais atentas às questões do saneamento básico rural e sua importância no contexto ambiental e de saúde pública. As tecnologias sociais da Embrapa podem contribuir, juntamente com outras soluções existentes de saneamento para avançarmos na qualidade de vida no campo, proteção dos mananciais e das águas subterrâneas. Recebi com muito orgulho a informação da Prefeitura de Campinas de que os projetos que envolvem a fossa séptica biodigestora têm sido muito divulgados na mídia atualmente, tornando o conhecimento da tecnologia mais acessível aos gestores públicos”, afirma Marmo.
Para Andrade Neto, a fossa séptica biodigestora é uma ótima solução de coleta e tratamento de efluentes doméstico para comunidades isoladas, desde que a residência possua sistema separado para águas negras e cinzas. “A tecnologia agrega baixo custo para sua montagem, tem significativa eficiência na biodigestão dos excrementos humanos e, consequente redução de agentes patogênicos”, diz.
O coordenador de Planejamento e Gestão Ambiental ainda acrescenta que as tradicionais “fossa negras” são uma das principais fontes de contaminação das águas subterrâneas no meio rural, comprometendo o abastecimento por poços caipiras. “A substituição pelas fossas sépticas biodigestoras evita a contaminação das águas subterrâneas e superficiais, além de promover a reciclagem dos nutrientes do efluente gerado através da sua fertirrigação”, afirma.
Déficit
Segundo o censo do IBGE de 2010, Campinas possui uma população rural de 18.389 habitantes, dos quais 5.389 moradores possuem esgotamento sanitário via fossa rudimentar, ou seja, mais de 29 % da população rural de Campinas utiliza-se de “fossas negras”. Somando-se, ainda, a parcela da população que lança seus esgotos direto no ambiente, como vala, rios e lagos calcula-se que, aproximadamente, 35 % da população rural de Campinas não possui esgotamento sanitário adequado.
Programa
O Programa de Saneamento Rural Sustentável, instituído pelo Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) de Campinas, que contempla também a área urbana, visa atender a população rural no que se refere ao saneamento básico, destacando-se ações de adequação do esgotamento sanitário e conservação do solo e da água. O PMSB tem prazo de 20 anos para universalizar o saneamento básico em Campinas.
No entanto, a primeira etapa do programa deverá ser executado em quatro anos, com um orçamento de 1,4 milhões de reais e vai priorizar a adequação do esgotamento sanitário e a conservação do solo – controle de erosão e assoreamento – em Zonas de Proteção e Recuperação de Mananciais Superficiais de Campinas, que estão abaixo das captações de água nos rios Capivari e Atibaia, conforme instituído pelo Plano Municipal de Recursos Hídricos.
Fossa séptica biodigestora
Com a montagem de mais uma unidade piloto, já são mais de 3.770 fossas sépticas biodigestoras instaladas no estado de São Paulo em parceria com instituições de pesquisa e assistência técnica rural.
A Fossa Séptica Biodigestora, desenvolvida pelo pesquisador Antônio Pereira de Novaes, falecido em 2011, trata o esgoto do vaso sanitário de forma eficiente; o efluente do sistema, rico em nitrogênio e outros nutrientes, pode ser utilizado no solo como fertilizante. Com mais de 11.500 mil unidades instaladas em todo o Brasil, não produz odores desagradáveis, não procria ratos e baratas, não contamina o meio ambiente, além de gerar produtividade saudável e economia em insumos na agricultura familiar.
A montagem de um conjunto básico da tecnologia, projetado para uma residência com cinco moradores, é feita com três caixas d´água de 1000 litros (fibrocimento, fibra de vidro, alvenaria, ou outro material que não deforme), tubos, conexões, válvulas e registros. A tubulação do vaso sanitário é desviada para a Fossa Séptica Biodigestora, onde o esgoto doméstico, com o auxílio de um pouco de esterco bovino fresco, é tratado e transformado em adubo orgânico pelo processo de biodigestão anaeróbia.