Parte das lavouras de milho na imensa área agrícola dos municípios de Lucas do Rio Verde, Ipiranga do Norte e Tapurah, em Mato Grosso, pode apresentar uma produtividade superior à esperada por aqueles que acham que o clima derrubou as produtividades. O número também seria maior que o projetado para outras áreas do Estado, atingido fortemente pela falta de chuva em abril.
A constatação foi feita por técnicos do Rally da Safra, expedição técnica acompanhada pela Reuters na quarta-feira, o que pode ajudar a amenizar perdas gerais decorrentes da estiagem que prejudicou o milho plantado mais tarde, bem no período reprodutivo, fase crucial para a determinação do rendimento das lavouras.
Aqueles municípios, localizados no médio-norte de Mato Grosso, que colhe pouco menos da metade da safra no maior produtor brasileiro, plantaram muito milho em janeiro e início de fevereiro, permitindo que as chuvas do primeiro trimestre beneficiassem a produção, que já registra seus primeiros pontos de colheita.
Percorrendo centenas de quilômetros em estradas de terra que atravessam as plantações, o Rally da Safra encontrou nas criteriosas medições lavouras com média de produtividade de cerca de 50 sacas por hectare, ante média estadual de mais de 100 no ano passado, mas viu no total das amostragens realizadas um número maior de plantações com potencial entre 110 e 140 sacas/hectare.
“É uma região que faz a diferença na produção. Acho que 80 sacas (de produtividade média) passa a ser o número raso (menor) do mercado. Vai ser de 80 para cima. Esperava uma coisa um pouquinho pior”, revelou o engenheiro agrônomo Valmir Assarice, da Agroconsult, que organiza a expedição, comentando sobre os resultados vistos em Lucas do Rio Verde, Ipiranga do Norte e Tapurah.
A informação, boa notícia para indústrias de aves e suínos, que enfrentam escassez do produto, aponta uma situação diferente da observada pela expedição na região de Nova Mutum e Diamantino, na última terça-feira, onde as produtividades ficaram mais em linha com expectativas mais fracas.
“Quem respeitou 25 de fevereiro (como data limite para o plantio), não está tendo uma safra tão problemática”, afirmou o produtor Ademir José Rosa, delegado da Aprosoja de Ipiranga do Norte, que tem em sua fazenda talhões com expectativa de baixíssima produtividade e outros um pouco melhores.
Rosa, que atua na região desde 1999 e disse nunca ter visto uma safra tão ruim em função de adversidades climáticas como foi 2015/16, é um bom exemplo de produtor que registrará produtividades diversas, dependendo da época do plantio.
O Rally da Safra identificou produtividade de 50 sacas por hectare em um talhão de Rosa, mas ele relatou que espera colher cerca de 110 sacas em uma área plantada mais cedo, que foi beneficiada por chuvas antes de abril.
Ainda que tenha tido perdas e produtividades menores que o esperado, o agricultor afirmou que, ao final da safra, espera fazer um “lucrinho”, diante de preços recordes do milho, sustentados pelos temores dos impactos da seca.
Rosa confirmou ainda que muitas áreas avaliadas pelo Rally entre Lucas do Rio Verde e Ipiranga do Norte serão menos afetadas pelo clima, uma vez que foram plantadas mais cedo.
Sorte igual não terão algumas áreas verificadas também na quarta-feira pela expedição em parte de Sorriso, o maior município produtor do país, e Santa Rita do Trivelato, ambas na região do médio-norte.
Nesses municípios, os técnicos do Rally da Safra apontaram uma produtividade média de cerca de 90 sacas/hectare, menor que a registrada na região no ano passado, mas melhor do que algumas expectativas mais pessimistas.
OESTE POSITIVO
Outra equipe do Rally percorreu esta semana áreas em Sapezal e Campo Novo do Parecis, a oeste do Estado, observando produtividades de cerca de 100 sacas/ha, não tão boas como em 2015, mas superiores ao esperado.
O líder dessa equipe, o agrônomo da Agroconsult Fábio Carneiro, comentou que tais produtividades apuradas, ainda que mais baixas que na ótima safra do ano passado, não podem ser consideradas ruins, uma vez que o plantio de segunda safra em Mato Grosso sempre é mais arriscado.
“Os anos anteriores é que foram muito bons”, resumiu ele.