A integração lavoura-pecuária-floresta está entre os planos para reduzir desmatamento e emissões de gases de efeito estufa
Representantes de 223 países se reúnem em Paris a partir do dia 30 de novembro com a dura missão de fechar um acordo capaz de evitar que as ações humanas continuem aquecendo o planeta e provoquem mudanças no clima. É a chamada COP 21.
Já definiram uma meta: impedir que a temperatura média anual da Terra cresça mais que 2 ºC até 2100. O teto foi apontado pelos cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) como a única maneira de evitar consequências catastróficas, como a elevação do nível do mar, secas extremas, extinção de espécies, redução da produção de alimentos e queda na oferta de água doce.
O Brasil já apresentou suas pretensões. Até 2025, pretende jogar 37% menos gases na atmosfera do que fazia em 2005. Até 2030, a redução será de 43%. “Embora ainda não seja o suficiente para evitar que o aquecimento ultrapasse 2ºC, o Brasil se posiciona bem em relação a outras nações e pode cobrar mais ambição na mesa de negociações”, diz Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, um grupo de ONGs ambientais. “Os Estados Unidos, por exemplo, têm uma meta bem menor. Pretendem reduzir entre 26% e 28% até 2025.”
É no campo que está uma das principais apostas brasileiras. O setor agropecuário é responsável por 37% das emissões dos gases que provocam o aquecimento global, segundo o último inventário das emissões brasileiras produzido pelo Ministério de Ciências e Tecnologia. Isso sem contar novos desmatamentos com o objetivo de criar áreas de cultivo ou criação.
Baixo carbono
Ambientalistas e representantes do setor rural classificam as propostas para a área como ousadas e desafiadoras. Entre as medidas já anunciadas está a recuperação de 15 milhões de hectares de pastos degradados e a introdução em 5 milhões de hectares do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O prazo é 2030.
“Se os objetivos na agropecuária forem alcançados, será uma transição histórica. São números muito semelhantes aos que propúnhamos”, explica Maurício Voivodic, secretário executivo da ONG Imaflora. “O problema é que o governo ainda não explicou como isso será feito e, considerando as políticas atuais, não vemos tantas perspectivas”, acrescenta, destacando que o país reduziu o montante de recursos destinados à agricultura de baixo carbono no Plano Safra de 2015 e ainda não está perto de atingir as metas do Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Quando foi lançado, em 2010, o Plano ABC já previa a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e a introdução de 4 milhões de hectares do sistema ILPF no país.
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“O importante em relação às propostas brasileiras do setor agropecuário para a COP 21 é saber como serão estruturadas e financiadas. Esse é o próximo passo”, diz Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira. “Vejo de forma positiva. Deverá haver injeção de capital no setor.”
A visão é compartilhada pelo diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Cornacchioni. “É audacioso, mas é uma oportunidade sensacional.” Segundo ele, a agricultura de baixo carbono é importante para a imagem do setor e pode provocar um “grande salto quantitativo e qualitativo”.
Propostas absolutas para atingir a meta
– Atingir uma participação de 45% de energias renováveis na matriz energética brasileira até 2030;
– Expandir o uso de fontes renováveis, excetuando energia hídrica, para uma participação de 28% a 33% na matriz energética brasileira até 2030;
– Aumentar a participação de bioenergia para 18% na matriz energética brasileira até 2030
– Ter ganhos de eficiência de 10% no setor elétrico até 2030;
– Zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030;
– Restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030;
– Restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030;
– Inserir 5 milhões de hectares de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) até 2030.