Novo cenário pode reduzir o crescimento da área plantada no Brasil enquanto custos dos fertilizantes e produtos químicos agrícolas continuam em alta.
À medida que a China e os EUA se aproximam de um acordo comercial, o maior produtor de soja do Brasil está emitindo um alerta para os produtores do país.
As primeiras indicações de ambos os lados das negociações comerciais sinalizam que a China pode comprar uma produção menor da América do Sul, disse Erai Maggi Scheffer, dono do Grupo Bom Futuro.
A perda da demanda chinesa provavelmente significará preços mais baixos para os agricultores brasileiros, disse ele, em entrevista por telefone.
As margens podem se tornar negativas para alguns produtores, disse Roberto Machado Bortoncello, diretor comercial do Bom Futuro.
“Estamos em um momento de grande apreensão”, disse Bortoncello. “Estamos fazendo hedging dos custos e colocando o pé no freio em relação às despesas.”
No começo do mês, circularam notícias de que a China estava propondo comprar mais US$ 30 bilhões por ano de produtos agrícolas dos EUA, incluindo soja.
Quando a China aplicou tarifas retaliatórias aos produtos agrícolas americanos, no ano passado, os prêmios pagos pela soja nos portos do Brasil subiram.
Após o aumento do otimismo com a possibilidade de a China e os EUA fecharem acordo, os preços da soja brasileira chegaram a cair 20 por cento em relação ao pico do ano passado, registrado em setembro, principalmente em meio à queda dos prêmios pagos nos portos, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), braço de pesquisa da Universidade de São Paulo.
“Os produtores do Brasil terão que reduzir custos e melhorar as operações logísticas para enfrentar essa nova dinâmica global do mercado da soja”, disse Scheffer. A empresa dele cultiva 270.000 hectares de soja no estado do Mato Grosso, área três vezes maior do que a da cidade de Nova York.
Além disso, uma das propostas da China ao EUA foi justamente comprar o mesmo volume que compra atualmente do Brasil. Foi o número que deixou mercados e Donald Trump animados, a ponto de o presidente twitar: “Se for feito o acordo com a China, nossos grandes Fazendeiros Americanos serão tratados melhor do que jamais foram tratados antes!”.
O Financial Times destacou então, na terça, “Que forma pode ter o acordo EUA-China”, dizendo que ele começaria pela importação maior, por parte dos chineses, de produtos agropecuários como soja, carne bovina e aves.
A Reuters, New York Times e outros, informam que o comissário de Agricultura da UE falou que “houve retrocesso por parte de países do Mercosul em relação ao acertado em 2017” para o acordo entre os dois blocos. E que foi por “razões políticas” — o que a agência explicou lembrando que, segundo a chanceler alemã Angela Merkel, “Jair Bolsonaro tornaria mais difícil alcançar o acordo”.
O Brasil critica a UE “notadamente” pelas restrições à carne bovina. De outro lado, anunciou o comissário, o bloco europeu deve acertar a compra de carne bovina dos EUA “em semanas”.
Fechando a semana de negociação da guerra comercial, o secretário de Agricultura dos EUA festejou via Twitter que “os chineses se comprometeram a comprar mais 10 milhões de toneladas de soja americana”.
Fonte: Bloomberg, Folha, com edições AGRONEWS BRASIL.