Em meio a atual situação fiscal do Brasil, uma eventual volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) não será mais do que bandagem para estancar hemorragia. Foi o que afirmou, na última quinta-feira (19/5), o economista Alexandre Schwartsman, que participou de um painel de discussões sobre o atual cenário político e econômico do Brasil, no Clube da Fibra, em Recife (PE).
Falando para uma plateia de produtores, empresários e especialistas no setor de algodão, o economista não descartou a possibilidade de aumentos de impostos no país. No entanto, defendeu que, entes disso, a prioridade da nova equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é controlar os gastos do governo federal.
“Há uma série de coisas que faz com que o gasto obrigatório do governo cresça em torno de 6% acima da inflação. Se não mexer nisso, não tem CPMF que valha a pena”, disse Schwartsman, citando como temas fundamentais a reforma da Previdência e as desvinculações de gastos da União.
O economista elogiou a formação da equipe econômica do governo interino de Michel Temer e classificou como “imenso” o desafio para reequilibrar a economia do país. Um dos sinais disso é que ainda não há uma clareza sobre o tamanho do déficit nas contas públicas. “Quem está chegando lá está vendo que a coisa era pior do que se imaginava.”
Mas ele destacou que o desafio da equipe econômica não se resume em saber o que fazer. Na avaliação de Alexandre Schwartsman, o governo interino terá uma “tarefa hercúlea” para convencer a sociedade sobre a necessidade de ajuste fiscal. Não pelo ajuste, em si, tema no qual há uma concordância, segundo ele, mas em relação quais pontos devem ser reformados.
“A discussão é o que ajustar. Desvincular gastos pode significar redução de gastos na saúde e na educação”, alertou. Ele reconhece que o governo Temer não tem condições de resolver a situação. Mas, para o economista, já seria um sucesso conseguir encaminhar os projetos que possam fazer os ajustes necessários.
Economia global e dólar
Falando sobre a economia global, Alexandre Schwartsman avaliou que o cenário atual ainda é de rescaldo dos efeitos da crise iniciada em 2008. Para ele, a situação acabou não ficando tão ruim quanto se chegou a temer, mas, de outro lado, a recuperação da atividade econômica tem ocorrido de forma mais lenta e bastante desigual nas diversas regiões do mundo.
“O que está melhor é a economia norte-americana, que foi o epicentro da crise. Existem dúvidas, mas minha aposta é a de que vai manter um ritmo de crescimento para 2% e 2,5%, começando a embarcar em um ciclo de normalização da taxa de juros. Temos que ficar atentos”, avaliou o economista.
Schwartsman destacou também a situação da China ainda tem uma economia cuja atividade é bastante dependente da ação do governo. Na avaliação do economista, no curto prazo, são positivos para o país asiático o estímulo do governo e os preços de commodities, mas não se deve contar sempre com esses fatores.
“Meu cenário global não é a melhor coisa do mundo, o que tivemos entre 2003 e 2006, mas é um mundo que vai crescer em um ritmo que sempre cresce, em torno de 3,5%, um pouquinho mais”, afirmou.
Com relação ao dólar, reforçou que o movimento em relação ao real depende, basicamente, de três fatores. O primeiro, com influência no mercado global, depende da postura do banco central dos Estados Unidos em relação à sua taxa de juros. “Subindo a taxa nos EUA e mantendo-se na Europa e no Japão, o dólar fica mais forte”, explicou.
O segundo fator é o preço das commodities, que, de uma forma geral, tem um movimento inverso ao da moeda norte-americana. E, por último, o encaminhamento do ajuste fiscal por parte do governo interino, o que depende também do Congresso Nacional.
Fonte: Globo Rural