O Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), estratégia de produção de atividades agrícolas, pecuárias e florestais em uma mesma área, aumentou quase 10 milhões de hectares em uma década no Brasil
De acordo com pesquisa encomendada pela Rede de Fomento ILPF e realizada pelo Kleffmann Group na safra 2015/2016, o país conta com aproximadamente 11,46 milhões de hectares com sistemas integrados de produção agropecuária.
Mato Grosso do Sul é o Estado com maior área de adoção das diferentes modalidades de ILPF, ultrapassando mais de 2 milhões de hectares com alguma forma de integração. O ILPF pode ser em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, buscando benefícios mútuos para todos os componentes do agroecossistema.
Para o presidente do Sistema Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de MS), Maurício Saito, os números demonstram a disposição dos agricultores e pecuaristas em buscar sistemas sustentáveis, onde é possível obter maior produtividade utilizando a mesma área, sem a necessidade de abertura de novos espaços, protegendo os locais de reserva. “Com toda certeza, o produtor rural é o maior interessado na preservação dos recursos hídricos, pois depende da água para produzir”, afirma.
Benefícios
Em termos econômicos, os sistemas integrados podem propiciar maior produtividade das culturas anuais, da pecuária de corte ou de leite e dos produtos extraídos do componente florestal. Além disso, também oferece mais estabilidade de renda, devido à diversificação das atividades e redução da vulnerabilidade aos riscos climáticos e às oscilações de mercado.
O pesquisador da Embrapa Gado de Corte (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Roberto Giolo, explica que os benefícios ambientais são inúmeros. Através dos sistemas ILPF, a produção é feita com uso eficiente dos recursos, simultânea à conservação do solo e da água.
Um dos benefícios ambientais é a melhoria do microclima. Em sistemas integrados, onde o componente florestal está presente, há uma redução da temperatura causada pela sombra das árvores, proporcionando maior conforto térmico aos animais da pecuária.
A vulnerabilidade aos riscos climáticos também são menores e o pasto continua verde, mesmo na época da estiagem. “Em áreas onde acontece uma inversão climática muito forte ou geada, as árvores protegem tanto a pastagem quanto o animal. Temos relatos, fotos e trabalhos científicos que mostram que o pasto embaixo do sistema ILPF não seca. Aqui em Mato Grosso do Sul, já tivemos casos de muito frio e calor, onde morreram cerca de 5 mil animais em pastos sem árvore”, comenta.
O ILPF promove a reciclagem de nutrientes. De acordo com o pesquisador, a presença de árvores, que possuem sistemas radiculares mais profundos que a pastagem a lavoura, permitem a conservação da matéria orgânica do solo.
O sequestro de carbono também é um dos benefícios dos sistemas ILPF. O efeito é tão significativo que a Embrapa lançou o selo Carne de Carbono Neutro (CCN), apadrinhado pela empresa Marfrig Global Foods. Segundo Gioto, o selo CCN já deve estar no mercado a partir do próximo ano.
Animais criados em sistemas integrados com árvores consomem menos água. A redução chega a 19%, de acordo com estudo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste. “Em um rebanho de 100 cabeças, onde cada animal consome em média 50 litros de água, uma redução de 19% dá 9,5 litros a menos, multiplicado pelos 100 animais, o total é de 950 litros de água a menos por dia”, calcula o pesquisador.
Pesquisas
Segundo o pesquisador Roberto Giolo, o foco das pesquisas da Embrapa, na área de ILPF, está sendo a parte hídrica. Ele conta que já existem alguns estudos exploratórios, mas pouca coisa publicada. “Assim como o carbono, os estudos com água existem cerca de dois a três anos de avaliação. Este ano foi atípico, do ponto de vista climático, e isso acaba sendo um complicador. Os trabalhos estão sendo desenvolvidos e estamos refinando esses estudos. Os dados específicos devem sair no ano que vem”, afirma.
Na prática
O engenheiro florestal Moacir Reis decidiu implantar o sistema ILPF em sua propriedade, Fazenda Boa Aguada, em Ribas do Rio Pardo (MS). A preservação dos recursos hídricos e os ganhos em relação ao uso e conservação do solo foram fatores fundamentais para a decisão.
A diversificação de renda dentro da propriedade, que produz carne e madeira para serraria, MDF, poste, mourões de cerca, celulose e carvão vegetal, foi um dos principais motivos para adoção do sistema.
“A partir do momento que temos uma única opção de receita o produtor fica à mercê de um risco alto de mercado específico, quando se integra várias culturas na mesma área de manejo se obtém uma gama de produtos que gera uma segurança financeira para continuidade do negócio”, explica.
Os benefícios econômicos, ambientais e sociais são vistos na prática. Além da diversificação de renda, o bem estar animal é maior, o carbono é captado pelas florestas e as diferentes atividades gerem uma demanda fixa de mão de obra na propriedade.
Como implantar
O consultor técnico do Senar/MS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e engenheiro agrônomo, Clóvis Ferreira Tolentino Júnior, explica que é fundamental que o produtor tenha orientação nesse processo. “Lavoura, pecuária e floresta são três atividades distintas, que tem demandas técnicas, de máquinas e manejo diferentes” ressalta.
A orientação do consultor para os produtores interessados é participar dos dias de campo sobre o tema, eventos como a Dinapec, conversar com técnicos das instituições de pesquisa presentes no Estado (Embrapas e Fundações), e dialogar com produtor que já ingressaram na atividade. “Quanto mais informações você tiver, maior será a chance de acerto dentro do ILPF”, recomenda”.
Para o presidente do Sistema Famasul, Maurício Saito, levar informação adequada ao produtor dá base para que ele desempenhe sua atividade produtiva com rentabilidade, respeitando e preservando o meio ambiente. “A partir desta premissa, procuramos levar conhecimento e informação aos produtores rurais de diversas formas. Apoiamos vários eventos técnicos que apresentam novas tecnologias aos produtores rurais, como a Dinapec, Circuito Pecuário e Encontro Técnico do Leite. Dentro dos Programas de Assistência Técnica e Gerencial do Senar, há grupos de agricultores e pecuaristas que recebem acompanhamento técnico especializado para otimizarem seus recursos produtivos e, desta forma, orientamos aqueles que querem implantar sistemas integrados, cultivos florestais ou mesmo intensificar a produção animal”, finaliza.
Fonte: SBA | Sistema Brasileiro de Agronegócio | ESTHÉFANIE VILA MAIOR