A safra de trigo no Rio Grande do Sul entrou na reta final, com a maioria das lavouras em enchimento de grãos (60%) e em floração (15%)
O momento é de atenção, com o monitoramento para o risco de doenças de espiga, uma vez que o clima quente e úmido da primavera pode favorecer a incidência de doenças fúngicas, especialmente a giberela.
A primavera, que se estende de 22/09 a 21/12, é a estação que, geralmente, define a safra de inverno no sul do Brasil. O trigo, tradicionalmente uma cultura de clima frio, sofre com o aumento do calor e o retorno das chuvas que formam o ambiente perfeito para a instalação dos fungos, coincidindo justamente com o período de maior suscetibilidade das plantas, nos estágios de floração, espigamento e enchimento de grãos.
O clima da primavera pode favorecer as doenças de espiga, como a giberela, no sul do Brasil, o que torna o uso de fungicida uma ferramenta importante para estabilizar a produção de grãos. Atualmente, existem 79 produtos registrados para tratamento da parte aérea do trigo, mas a alternativa mais viável ainda é a aplicação de fungicidas a base de triazóis e estrubirulinas. Contudo, o pesquisador da Embrapa Trigo Flávio Santana recomenda cautela na aplicação dos defensivos: “Estamos observando que as lavouras com menor número de aplicações têm mostrado melhores resultados no rendimento, com diferença de até 500 quilos por hectare no trigo. Isso ocorre porque o monitoramento da lavoura propicia resultados mais efetivos no controle de doenças, enquanto que aplicações de fungicida seguindo um calendário, que considera apenas o estádio de desenvolvimento da planta, podem resultar em intervenções quando a planta não apresenta sintomas ou o atraso no controle quando a doença já está instalada”.
O monitoramento também pode significar economia. “O preço do fungicida gira em torno de 80 reais por hectare. Neste contexto uma aplicação faz diferença no bolso”, avalia o pesquisador. A recomendação de Flávio Santana é monitorar a lavoura verificando a incidência de doenças. Uma medida simples é avaliar 10 plantas por área homogênea (cultivar, baixadas, encostas), incidência que define a necessidade da intervenção na lavoura.
No acompanhamento aos associados na COASA (Cooperativa Agrícola de Água Santa, RS), as lavouras são monitoradas pelo departamento técnico a cada 10 dias. “O acompanhamento diário do produtor nos ajuda a intervir no momento certo. Também associamos as informações da lavoura com as previsões climáticas para o melhor resultado no monitoramento”, conta o engenheiro agrônomo Ronaldo Scariot.
Clima
A eficiência do fungicida não depende exclusivamente da molécula utilizada, mas também do processo de aplicação, envolvendo o momento de aplicação conforme as condições ambientais mais favoráveis, relacionadas com temperatura e umidade. A chuva em excesso, além de favorecer a ocorrência das doenças, não permite o produtor efetuar a pulverização no momento ideal.
De acordo com o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, a primavera de 2017, especialmente na etapa final, não deverá ser marcada com excesso de chuva, já que os prognósticos apontam para 60% de chance de ocorrer um La Niña de fraca intensidade até o final da estação: “Podemos ter grandes quantidades de chuva concentradas, pois esses eventos são comuns na nossa primavera, mas não deverão ocorrer muitos dias consecutivos com chuva interrupta como observado no começo do inverno”, avalia Cunha.
Através de novas ferramentas de tecnologia de informação é possível antecipar a previsão sobre os riscos para epidemias de doenças em trigo. O SISALERT (Sistema de Previsão de Risco de Epidemias de Doenças de Plantas) é uma plataforma que coleta dados meteorológicos de 400 estações da rede INPE/INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) e processa as informações para simulação de riscos de epidemias. “As doenças de plantas são dependentes do clima. O sistema permite acompanhar as condições do tempo para prever os momentos de maior risco e orientar a aplicação racional de produtos químicos”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo, José Maurício Fernandes. A partir da data de espigamento do trigo nas lavouras gaúchas – registro que pode ser efetuado pelo próprio usuário no site, personalizando o alerta – é possível avaliar que, até o momento, o risco para a incidência da giberela nos próximos meses é baixo. “Poucos dias de chuva, apesar da quantidade elevada, resultou em baixo risco para a giberela na maioria das regiões tritícolas do Estado”, enfatiza o pesquisador José Maurício Fernandes. Segundo ele, a lavoura livre de doenças assegura vantagem para o produtor que terá um produto de melhor qualidade e maior produtividade. O acesso ao sistema é gratuito através do site www.sisalert.com.br.
Fonte: Embrapa