Interrupção do escoamento da soja pode agravar situação já deficitária de armazenagem em alguns Estados.
Com capacidade de armazenamento agrícola já deficitária, o país ganhou nas últimas semanas mais um elemento de preocupação em relação ao espaço para estocar a produção. A paralisação dos caminhoneiros e o posterior tabelamento dos preços mínimos para o frete interromperam o escoamento e a comercialização de grãos, represando a soja nos armazéns de Mato Grosso e Goiás.
Com a colheita de milho já iniciada no primeiro e para começar no segundo, a preocupação é se haverá espaço para o cereal. “Estamos tendo problemas de armazenagem há algum tempo, mas esse ano pode ser mais grave, pois vai ser uma boa safra e temos esse problema de escoamento. Se esse impasse continuar, a tendência é que comecemos a ver milho a céu aberto daqui 15, 20 dias”, afirma Antônio Galvan, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT).
Galvan explica que no momento ainda há espaço nos armazéns, mas a saída da soja já comercializada tem sido lenta. Apenas grandes transportadoras e tradings estão negociando o transporte. A situação é semelhante em Goiás, onde a movimentação de cargas também é pequena. “Nem em situação normal, de bom fluxo, temos capacidade de armazenar a safra de milho por completo. Nossa produção de grãos gira em torno de 22 milhões de toneladas e a capacidade de armazenagem fica próxima de 13 milhões de toneladas.
Claro que não precisamos ter 100% da capacidade estática, porque não chega tudo no mesmo momento, mas seria interessante ter espaço maior”, afirma Cristiano Palavro, analista técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag). Os dois afirmam que é preciso uma resolução breve para a questão do transporte, porque essa soja precisa ser liberada antes que a colheita de milho ganhe ritmo. “Já são 30 dias perdidos de escoamento da soja, então vamos ter problemas. E não aceitamos os valores mínimos, os preços têm que depender da demanda e oferta”, diz Galvan.
No Centro-Oeste, o ponto fora da curva parece estar em Mato Grosso do Sul. De acordo com a assessoria da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famasul), a produção já vendida está sendo escoada, mas novos negócios não têm ocorrido.
De acordo com levantamento da INTL FCStone, a produção de milho segunda safra deve ser de 26,03 milhões de toneladas em Mato Grosso, de 6,83 milhões de toneladas em Mato Grosso do Sul e de 6,14 milhões de toneladas em Goiás.
Negócios
Em Mato Grosso, segundo Galvan, a comercialização só ocorre de forma muito pontual e sem envolvimento das tradings. Situação parecida com a de Goiás. “Quase não há compras, porque o preço do transporte é item importante de formação dos preços. Para determinar se vou conseguir pagar R$ 70/saca de soja, por exemplo, tenho que saber qual o patamar de custo que vou ter para deslocar o produto. A falta de uma certeza sobre isso faz com que as empresas recuem”, explica Cristiano Palavro, do Ifag. Os poucos negócios que estão sendo realizados ocorrem por urgência do comprador pelo produto, especialmente para alimentação de aves e suínos. Por isso, no caso do milho, os valores pagos nos últimos dias estão maiores do que antes da paralisação dos caminhoneiros. “Mas, no geral, as empresas realmente estão fora do mercado e não passam nem indicativos de preços”.
Alternativas
Caso o impasse com o tabelamento do frete se mantenha por mais tempo, é provável que os silos-bolsa ganhem ainda mais espaço no campo. “Em situação normal já teríamos muito milho guardado em silo-bolsa e isso pode ser ampliado este ano se o produtor tiver dificuldade na comercialização”, diz Palavro. Ele explica que o produtor ainda tem a possibilidade de deixar o milho no campo por um pouco mais de tempo caso não haja espaço. “Por ser cultivado no período seco, é possível fazer isso sem ter perda de qualidade”.
Galvan também acredita no crescimento dos silos-bolsa, mas afirma que se os produtores não estiverem preparados para o usá-los, a alternativa será deixar o milho a céu aberto.
O analista técnico do Ifag ressalta, porém, que o ideal seria aumentar a capacidade de armazenagem no Estado, principalmente a nível de propriedade. Atualmente, apenas 8% do total está dentro das fazendas. “Ter armazém na propriedade é vantagem competitiva. O produtor tem mais tranquilidade, pode comercializar sua safra melhor”. Ele acredita que as elevadas produções nos últimos anos, os preços dos grãos em bons patamares e a redução de juros do Programa de Construção de Armazéns (PCA) no Plano Safra 2018/2019 para 5,25% a 6%, dependendo da capacidade, podem estimular produtores – sozinhos ou em grupo – a investir em silos próprios.
Fonte: Portal DBO.