Na sequência de “safra de clima bom se espera para a soja nova e com preços melhores na virada do ano” leia mais sobre o caso da vaca louca e 7 de setembro que dividiu (mas nem tanto) o agro.
Em 13 dias, o Mato Grosso dá a largada na safra 21/22 da soja, sob expectativa de que os mapas climáticos desta vez favoreçam o plantio, ao contrário do ano passado quando as chuvas tardaram a chegar e houve atraso na semeadura.
Olhando pelo recorde nacional previsto para esta temporada, de 140 milhões de toneladas, o principal estado produtor deve ficar entre 37 e 40 milhões/t. Potência renovada.
Mas com clima mantendo as previsões melhores e safra cheia, a pressão das cotações, em Chicago, certamente terá mais uns dois a três meses de sequência. Já perdeu, por exemplo, o suporte do US$ 13 o bushel.
Seguindo o modelo, o plantio brasileiro começa quando a safra americana, calculada na base de 118 milhões/t, começa a entrar. Daí também outro fator de pressão, a menos que os novos dados que o USDA trará dos americanos sejam um desastre absoluto.
O que vemos, com isso, é que a acelerada que os produtores deram nas vendas antecipadas, pelo menos até o começo do segundo trimestre, murcharam. Cálculos do Imea, em julho, falavam em 34% de fixação de preços no MT.
Nesse cenário, a China fez e fará a diferença.
Os chineses passaram a comprar da mão para a boca, uma vez que carregavam grandes estoques.
E devem assim permanecer mais um tempo.
Na virada do ano, quando as primeiras sojas começarem a ser colhidas – o Paraná é o que sai antes, já que o vazio sanitário lá termina em 10 de setembro – e a safra dos Estados Unidos já deve ter sido comercializada em boa parte -, fica a expectativa de preços melhores, mesmo com a oferta nacional chegando.
Nesse período, segundo se imagina, a China terá que voltar forte às compras.
O imbróglio da vaca louca aumentado pelo Mapa
O imbróglio que o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tratou de potencializar, enrolando o mercado sem falar claramente sobre o caso da vaca louca em suspeição em Minas, foi o destaque da semana.
Até a publicação deste texto, ainda não houve nenhuma declaração. E o estrago foi feito.
Mesmo que se deseja cuidado total em questões sanitárias, para não causar pânico, não se justificou a demora, ao menos para responder algumas questões: quando o caso foi detectado? era mesmo caso de vaca louca atípica (animais velho, sem perigo de contágio)?, foi feita barreira sanitária na região? quando sairá a última testagem?
E por aí.
Só que não. O Mapa deixou o mercado derreter, com os frigoríficos saindo totalmente das compras – afinal, seguro morreu de velho – e a @ perdeu um pouco do suporte que o período de pagamento dos salários, em combinação com o feriadão, poderia dar.
O Plena Alimentos, de Belo Horizonte, que teve o nome envolvido no caso, negou ter sido uma animal de seus confinamentos.
E, se de fato, não ter sido com o grupo, como fica o estrago proporcionado?
Os importadores a essas alturas estão de orelha em pé.
Porque, atípico ou não, a doença assusta. E o governo deveria ter saído a frente.
Não se coloca em dúvida que a vigilância sanitária não tenha tomado providências, mas não se justifica as meias palavras do Mapa.
Mal confirmou e não explicou nada.
7 de setembro: não convidem para a mesma mesa há tempos…
Em meio aos perigosos decibéis sobre o 7 de setembro, a tal da divisão do agronegócio, entre apoiadores do governo Bolsonaro e daqueles que querem espantar qualquer desafio à ordem institucional, na verdade sempre existiu.
Explico: a carta da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) e mais seis entidades, defendendo o STF e o voto digital, entre outros, contra o apoio da Aprosoja e mais entidades rurais a favor das críticas do governo, como do Grupo Pecuária Brasil, nada mais consolidou a disputa que sempre existiu.
A Abag é vista como representante mais das indústrias e sempre teve um posicionamento diferente – e até oposto – dos fazendeiros, na sua maioria.
Marcelo Britto, presidente, inclusive esta semana se mostrou favorável ao marco temporal, dizendo que o agro “não precisa crescer invadindo” terras indígenas.
Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil, até quase foi preso ao defender a ida às ruas a favor do fechamento do STF.
Não convidem para a mesma mesa esses dois, e outros, divididos em cada lado.
De novidade, mesmo, pode-se falar do desembarque de apoio ao governo do mercado financeiro e de empresários de peso, como Horácio Lafer Piva, acionista da Klabin, e Salim Mattar, que foi secretário de desestatização do próprio Jair Bolsonaro.
Nem a posição da Fiemg, reverberando contra o STF, e a Fiesp em cima do muro chegam a ser novidades.
Por: Giovanni Lorenzon – AGRONEWS® é informação para quem produz