A atividade empresarial no Brasil sempre foi um desafio. Na pecuária, pode-se dizer que é ainda mais desafiadora, pois a necessidade de capital é elevada e a sazonalidade intrínseca ao negócio deixa pouca margem para erros.
Saudade dos tempos em que essas eram as únicas preocupações!
O cenário econômico atual encontra-se extremamente volátil: câmbio, juros, inflação, preço das commodities são difíceis de prever. Então, como tomar as decisões necessárias ao negócio sem arriscar seu patrimônio excessivamente?
O objetivo deste artigo é fornecer elementos que auxiliem o produtor na tomada destas decisões. Em especial, iremos abordar um tema já muito discutido, mas que frente à conjuntura, volta com força total:
Vender a desmama ou engordar o boi?
Muitos de vocês pararão a leitura aqui, por considerarem a resposta óbvia, mas será mesmo? Vejamos:
Ágio na desmama de até 50% versus a arroba do boi gordo;
Elevada inflação de insumos como sal mineral, ração e medicamentos;
Aplicações financeiras extremamente atrativas, oferecendo até 17% ao ano de rendimento, outras, travadas a 7% mais a inflação.
Portanto, não seria a hora de lucrar com a desmama, economizar com os insumos e deixar o dinheiro rendendo no banco? Eis a questão que me fiz no início desse ano!
Então vamos à resposta…
PREMISSAS ADOTADAS
Em primeiro lugar, é importante explicar as premissas adotadas neste estudo, todas elas datadas em Janeiro de 2016, região Noroeste do Paraná:
É importante ressaltar que as premissas buscam refletir um cenário reproduzível na maior parte dos casos, mas não necessariamente, podem ser aplicadas diretamente à realidade de cada empresário.
VENDER O BEZERRO OU ENGORDAR O BOI?
O dinheiro possui valor no tempo. Portanto, ao compararmos a venda da desmama versus a venda do boi gordo, precisamos considerar que os custos também mudarão ao longo da vida do animal.
Compararemos então, dois cenários:
Cria e venda da desmama, aos 8 meses de idade, ao valor de R$ 1.332. O valor de venda é automaticamente aplicado à taxa de 17% ao ano, por 24 meses;
Cria da desmama e recria e engorda com venda do boi gordo, aos 32 meses de idade, ao valor de R$ 3.119, com 52% de rendimento de carcaça, utilizando o preço da arroba projetada no futuro. Todos os custos também foram corrigidos de acordo com a inflação.
RESULTADOS
O que é mais rentável? Vender o bezerro e deixar o dinheiro a juros no banco, ou esperar mais 24 meses para a engorda do boi, com custos aumentando todos os dias? O gráfico abaixo mostra a rentabilidade de cada atividade e o valor que cada uma deixaria, em valor presente, no bolso do pecuarista:
CONCLUSÃO
Mesmo com os elevados custos de engorda do animal, o ágio sobre o preço da reposição, e atrativas taxas de juros oferecidas pelas instituições financeiras, o boi gordo ainda é mais vantajoso que a venda da desmama.
Entretanto, é preciso levar em consideração que cada fazenda possui uma vocação. Há fazendas que não possuem espaço para atividade de cria, recria e engorda, que precisarão decidir em que se especializar. Outras, não possuem matrizes suficientes e dependem da reposição. Outras, ainda, conseguem engordar o bezerro produzido em sua fazenda, em apenas 24 meses.
Portanto, independentemente do tipo de propriedade que o pecuarista possui, é preciso planejar estrategicamente como extrair o máximo dela. Em tempos de volatilidade como os que vivemos, tal planejamento é ainda mais importante. Então, antes de calçarmos as botas e montarmos a cavalo, vale a pena refletir como melhor rentabilizar os já escassos recursos que possuímos.
Por Tiago Marcato de Paula, MBA, Farmacêutico Industrial, Pós-Graduado em Gestão de Projetos, Administração e Marketing, por necessidade. Pecuarista por paixão!